Ando pelos corredores como se tivesse adquirido o superpoder de invisibilidade. Esse tem sido uma coisa extremamente útil nas últimas duas semanas. Sem a Penélope por perto, não falei uma única palavra na escola nessas duas palavras. Apenas um “presente” na chamada ou um “desculpe” murmurado quando esbarro em algum. Fora isso eu posso ser considerada um fantasma. Fico vagando por aí e tento me desviar ao máximo do contato humano. Melhor assim.
Parece que para a única pessoa que eu não sou invisível é para a Cecilia. Ainda não entendi o porquê de toda essa rivalidade comigo. É obvio que ela dá dez de mim, e sem contar que é ela que está com o Brian. Não como se eu quisesse estar com ele. Jamais. Brian e problema são sinônimos e nesse último ano tudo que eu procuro é o máximo de tranquilidade possível.
Só faltam nove meses. Só faltam nove meses. Só faltam nove meses. Só faltam nove meses.
Repito isso como um mantra a cada vez que escuto algum comentário infame da Cecilia. A cada vez que eu a vejo em cima da moto do Brian ou a cada vez que esbarro com ela pelo elevador do prédio. Ando encontrando com ela mais do que o necessário e muito, muito mais do que eu gostaria. E isso requer de mim muito autocontrole e paciência. Minha mãe estaria orgulhosa.
- Achei que não fosse chegar nunca, Penélope! Já basta ter faltado duas semanas e ainda chega atrasada? – lanço um olhar de advertência para ela e rimos.
- Foi mal. Você acredita que minha mãe ainda queria que eu ficasse em casa hoje? – Sim, não duvido nada. Essa é a resposta que está na ponta da língua, mas não digo. Quase todo dia eu ia a casa dela para levar matéria e contar as fofocas (as poucas que eu sabia). – Tive que convencer ela de que estava ótima sã e salva e de que se eu faltasse mais podia perder de ano.
Antes que o sinal bata eu e a Penélope entramos no banheiro para que ela possa se maquiar, já que sua mãe sempre pega no pé dela por passar maquiagem que, segundo ela, estraga a pele de pêssego da filha. A verdade é que realmente a pele da Penélope é maravilhosa, não tem uma marca de expressão e ela não tem uma misera olheira, ao contrario de mim que posso dormir dez horas por dia e ainda acordar com leves rodas escuras nos olhos. O único problema (segundo ela) são as sardas. Eu não acho as sardas feias e nem são tantas assim, mas ela se incomoda ao extremo.
Enquanto a Penélope analisa a maquiagem e retoca algumas sardinhas com o corretivo, a Cecilia entra no banheiro. Por algum milagre ela está sozinha. Sempre que vejo a Cecilia ou ela está com seu bando ou está com o Brian, é como se não conseguisse dar um passo sozinha.
A Cecília me olha como se tivesse reprovando o que eu estou usando. Estou mais simples o possível. Com uma calça jeans azul e um all star preto cheio de desenhos rosa. Estou também com um casaco cinza jogado por cima do uniforme sem graça. Meu cabelo está em um coque baixo e estou somente com um rímel e um gloss rosa. Seu olhar me faz com que eu me sinta completamente nua na frente de uma multidão. E eu tento não me encolher enquanto um de suas sobrancelhas se levanta e um pequeno riso sarcástico sai da sua boca.
A Cecilia sempre vem para a escola de saia. Hoje ela está com uma preta de couro que vai até o meio de suas coxas, é o tamanho permitido aqui na escola, apesar de eu ter a impressão que, depois que entra no colégio, ela sempre suspende uns dois centímetros. Seus cabelos são longos, loiros e lisos e combinam perfeitamente com seus olhos claros. Ela tem uma boca larga, daquelas que quando sorri parece que vai de orelha a orelha. Não parece nem de longe ter 17 anos. Ela parece uma mulher de 25, ainda mais quando usa tanta maquiagem.
A Penélope me olhar e balança a cabeça o lado indicando que devemos sair. Antes que eu dê mais de dois passos a Cecilia fala.
- Rebeca... - Sua voz é fina e me faz parar no mesmo instante em que ela fala meu nome. Fico tentada em continuar andando e me fazer de surda, mas continuo parada, de costas para ela. – Deve ser em intimidador, né?
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Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...