Capitulo 5

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Duas horas depois e eu estava com as pernas pra cima encostas na parede e com a barriga doendo de tanto rir. Confesso que foi uma grande surpresa pra mim a ligação do Guilherme e ele tinha razão, eu não ia ligar. Ia ficar dias olhando para seu número na agenda do celular ia chegar a apertar o botãozinho verde para telefonar e depois desligar antes que a chamada pudesse aparecer em seu telefone.

E talvez fosse me arrepender.

Talvez não. Eu ia me arrepender.

Conversar com ele no ônibus foi maravilhoso, falamos de diversos assuntos e descobrimos muito um sobre o outro. Ele não sabia o que fazer de faculdade, mas sabia que um dia ia fazer algum curso superior. Ele era o caçula de três irmãos. Tinha 17 anos e vivia cada dia como nunca mais. Como ele mesmo disse.

Eu sempre fui certinha demais, pra tristeza da minha mãe e da Babi. Sempre fui do tipo que ficava até de madrugada nos fins de semana estudando e sair pra mim era um desafio. Sempre odiei lugares com muitas pessoas, principalmente quando eu não conhecia ninguém. Sempre fui do tipo que fica até de madrugada lendo livros e prefere viver as emoções dos personagens a as emoções da minha própria vida. E para minha defesa: os personagens sempre tiveram vidas mais interessantes.

Me dar bem com o Guilherme era impossível. Ele era o oposto de mim. Gostava de movimento, de gente animada, de música agitada. Me disseram uma vez que não se montava um quebra-cabeça com peças iguais. Na época, concordei. Mas não é essa a desculpa que uso para nossa afinidade.

Sou quieta e se eu tiver amigos iguais a mim eu ficaria cada vez mais reclusa. Acho que é da nossa essência buscar alguém diferente justamente para balancear. Por isso sou amiga da Babi, ela balanceia meu lado recluso e eu balanceio o seu lado louco. Talvez a mesma coisa esteja acontecendo comigo e com o Guilherme.

- Beca – Ele se recusou a me chamar de Becky, como todo mundo me chama. – Vou ter que desligar, já está dando quase meia-noite e eu deixei uma zona aqui.

- Ah... tudo bem – falo tentando me recuperar ainda de um crise de gargalhadas. – Você salvou minha noite. Meu dia inteiro, pra falar a verdade...

- Vai tudo ficar bem. Você sabe... Tudo depende do tamanho...

- Da importância que você dá – falo imitando ele. – Você já falou isso umas três vezes. 

- E isso mostra que você é uma péssima aluna. – Ele fala e percebo que está sorrindo. Sorrio também. – Vou indo. Nos falamos depois?

- Sim.

- Vou te mandar uma mensagem amanhã só pra confirmar... – Sorri de novo. Sorrio junto.

- Mande quantas mensagens quiser.

- Beijos, Beca.

- Beijos.

Desligo o telefone e fico olhando pra lua, que há essa altura já está quase sumindo da vista da minha janela. Minha janela. Será que eu vou achar sempre estranho falar qualquer coisa dessa casa como “minha”? Tudo que é meu está há quilômetros de distancia. Minha cama. Meu quarto. Minha casa. Minha mãe. Meus amigos. Meu coração.

- Rebeca? – Escuto a voz da Vanessa do outro lado da porta e sinto, novamente, meu sorriso se desfazer. Logo após duas batidas vejo sua cabeça surgir entre a parede a porta. – Posso entrar?

Você já está praticamente dentro, né querida! Essa é a resposta que está na ponta da língua. Mas emito um Claro em meio a um ruído.

- Percebi que estava falando ao telefone... – Só era o que me faltava ela querer fazer o papel da minha mãe, não da minha mãe, porque nem minha mãe me perguntava com quem eu estava falando. E se ela fizesse isso eu seria obrigada a ser grossa. – E resolvi esperar sua ligação acabar pra vim te trazer a colcha, travesseiros e o lençol.

Just a Year - (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora