Capitulo 2

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Ok. Talvez ele não seja o garoto mais lindo que já vi em toda minha vida. Mas, se não é, está bem perto de ser. Não posso dizer que ele seja um deus grego da beleza. Mas ele tem algo a mais, o seu queixo meio erguido dá um ar de confiante e um sorriso brinca pelos cantos da sua boca enquanto ele olha pela janela. 

Assim que chego na poltrona olho novamente para o papel que confirma que eu estou sentada na janela e fico uns dois minutos parada tentando encontrar alguma forma de falar com aquele par de olhos azuis que ele está sentado no lugar onde EU deveria estar. 

- Humm... – começo a buscar palavras, mas é quase impossível formular uma frase coerente quanto tem aquele par de olhos te observando de forma curiosa – Oi! Acho que você está no lugar errado. Aqui na minha passagem diz que meu lugar é o da janela. 

- Sério? – Ele me olha meio confuso enquanto pega sua passagem no bolso. 

Tento não observar como uma maníaca cada movimento dele, mas é quase impossível. Vejo uma expressão de leve divertimento iluminar seu rosto e sinto meu coração dar um pulo. Juro que não sou essa garotinha que se apaixona por um sorriso. Mas também não sou completamente indiferente às paixões passageiras de ônibus. 

- É, realmente você tem razão. – Ele fala e me tira do transe. Tenho que parar imediatamente com essa mania de me perder nos pensamentos. Isso ainda vai me arrumar problemas. Percebo que ele e saiu do lugar. – Pronto. Me desculpe por ter roubado seu lugar por alguns minutos. 

Sorrio e balanço a cabeça, pois estou sem condições de falar qualquer coisa. Me sento na minha verdadeira poltrona no mesmo instante em que o motorista começa a sair. Poderia jurar que fazia 15 minutos desde que entrei nesse ônibus, mas sei que não faz nem cinco minutos. Incrível o que um par de olhos azuis pode fazer com uma garota, até mesmo a noção do tempo eu perdi! 

Pego o celular no bolso da calça e coloco Passanger pra tocar. Tento me acalmar com a música, mas meu coração continua acelerado. Tudo que eu não preciso nesse momento é ficar mexida por um garoto com que eu provavelmente vou passar somente 6 horas e nunca mais vou ver na vida. 

Sinto o celular vibrar e já imagino que deve ser 1) minha mãe com mais alguma recomendação que ela deve ter esquecido (ou que ela deve achar que esqueceu) ou 2) meu pai perguntando se eu já estou no ônibus, tentando garantir que eu não pule do barco na última hora. Como se minha mãe fosse deixar. 

Para minha surpresa é a Babi.  

“Sua vaca! Eu vou te matar por me deixar no último ano! Te amo e tenha uma boa viagem!” 

Sorrio instantaneamente e sinto meus olhos encherem de lagrimas. Eu adoro mudanças. No começo toda mudança é difícil e eu sou sempre relutante, mas no fim sempre acabo aceitando ela (ate porque muitas vezes não tem outro jeito). Além disso, é sempre bom estar em movimento, estar se renovando. Mas esse é um caso a parte. 

Até agora eu não sei direito porque eu realmente aceitei ir morar no Rio de Janeiro. Tudo bem que ela é a cidade maravilhosa, e, ao contrario de São Paulo, tem várias praias maravilhosas e pontos turísticos. Mas eu ainda prefiro o cinza de São Paulo. E eu sei que sempre foi preferir esse cinza.  

- Quer? – Novamente aquela voz me tira da nuvem de pensamentos que me fez viajar. Vejo que o par de olhos azuis está grudado em mim e em suas mãos estão algumas balas. São de morango. E eu amo balas de morango. Mas não vou aceitar, afinal é um estranho, e por mais que ele seja lindo, isso não significa que ele é inocente. Se tem uma lição que minha mãe me ensinou e eu aprendi é nunca aceitar nenhuma comida, bebida, doce ou qualquer coisa de estranhos. 

- Não, obrigada. – Falo enquanto vejo ele dar de ombros e colocar uma das balas na boca. Volto meu rosto novamente para o celular tentando não focar em cada movimento que sua boca faz. 

- Qual seu nome? – Viro novamente o olhar pro meu lado e sinto meu coração dar dois pulos. Pelo visto esse garoto quer realmente me conhecer. Ou apenas não quer ficar no tédio. Tenho que conter esses meus pensamentos e parar de sempre tirar conclusões erradas.

- Rebeca.  E o seu? 

- Guilherme. – Percebo que ele se vira levemente para o meu lado. É um movimento quase imperceptível, que mostra que ele quer conversar. Solto meu celular no colo e tiro um dos fones do ouvido, deixando apenas um lado tocando bem baixinho. – Seu nome é lindo. 

- Obrigada...

- Tá indo passar as férias no Rio? 

- Essa era a ideia inicial. Mas vou acabar passando um ano lá. – Falei suspirando pesado– E você? 

- Quem dera eu fosse passar um ano no Rio. Já não aguento mais o cinza de São Paulo. Vou passar a virada do ano no Rio, mas devo voltar logo na primeira semana de janeiro. Mas você não parece compartilhar do mesmo amor que eu pela cidade maravilhosa. 

- Ah... Eu até gosto do Rio. Quer dizer, nunca fui pra lá, mas parece ser bom. Tem praias e uns lugares bacanas pra ir. Mas é estranho pra mim abraçar outra cidade e chamar ela de casa. 

- Entendo perfeitamente. Há dois anos eu morava no Rio, mas meu pai teve que se mudar pra São Paulo por causa do trabalho. Mudanças são bem complicadas no começo, mas acho que todo mundo se acostuma. Sempre vai existir essa relutância inicial com o novo, mas é bom estar em movimento. 

- É exatamente assim que eu penso também. – Digo enquanto tento esconder o sorriso que quer tomar conta do meu rosto. – Foi ruim pra você? Quer dizer, foi muito ruim a mudança? 

- Sim, bastante. Eu não queria ir de jeito algum. Mas meu pai me obrigou. Eu gosto de sol, praia, gosto de estar em movimento. E eu tinha uma imagem de São Paulo como uma jaula escura. Por isso sempre que dá eu venho pro Rio, e fico com meus tios. Já desisti de tentar convencer meus pais a me deixar ficar com eles. – Ele fala sorrindo e eu sinto como se meu coração derretesse. 

- Já eu sou apaixonada por essa jaula escura. E não curto muito praia nem esportes. Quer dizer, eu até gosto de praias, desde que eu fiquei apenas vendo o mar e o sol não esteja muito forte.  Gosto de ficar quietinha. 

- E do que mais você gosta? 

- Hum. Eu gosto de ler. Escrever também, apesar de não andar escrevendo muito nos últimos tempos. Gosto de dias nublados, de silencio e música calma. – Sorrio sem graça. Porque é sempre complicado falarmos de nós mesmos? Deveria ser simples, afinal nos conhecemos desde sempre. – Me fala de você agora. 

- Não tem muito que falar. Eu gosto de estar sempre em movimento, gosto de correr, de surfar, andar de skate. Mas também gosto de ficar parado um tempo, de pensar e colocar algumas coisas no lugar. Entende?

- Perfeitamente. – Dessa vez deixo o meu melhor sorriso iluminar o rosto. 

Nunca converso com estranhos. Não sou mal educada! Só gosto de ficar na minha. E se alguém vier falar comigo, sempre falo o necessário e dou um sorriso sem graça. 

Talvez seja por isso que eu tenho apenas uma amiga. 

Conheço muita gente, mas nunca deixo ninguém se aproximar muito. Todo mundo no final acaba indo embora, ou te esquecendo. Isso é quase inevitável. Ter um relacionamento com alguém seja amoroso ou apenas de amizade requer cuidados constantes. Requer paciência. E a maioria das pessoas se esquece disso tudo. É por isso que muitas amizades morrem aos poucos. 

Não gosto de dizer adeus e é por isso que eu nunca procuro amizades ou deixo brechas para qualquer aproximação. Bom, pelo menos agora. Com o Guilherme é meio diferente. Bem clichê pensar assim, na verdade. Mas com ele eu senti vontade de falar tudo sobre mim e conversar por horas. Até porque ele era um estranho e nunca mais eu o veria. Que mal tinha? 

Just a Year - (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora