Com o inicio das aulas eu sou obrigada a voltar a minha rotina inicial de exercícios. Assim que o relógio marca quatro da tarde eu saio para correr. Depois do dia em que vi o Brian pela primeira vez passei a usar sempre uma regata e uma legging até os joelhos para não ter que escutar comentários constrangedores novamente.
Nunca fui de me movimentar e sempre fui a última da turma a ser escolhida quando tinha algum jogo. Sou a garota que leva bolada na cara e faz gol contra. Mas depois da Vanessa ter insistido eu decidi dar uma chance para mim mesma e começar a correr.
Minha única regra era fazer qualquer coisa que não envolvesse bolas, nem redes, nem água. Por isso comecei a correr. Ela correu comigo nos primeiros dias me mostrando alguns caminhos e os quarteirões. Foi em meio a essas corridas que me aproximei um pouco mais dela e descobri que não fazia mais tanto sentido odiar a Vanessa, não era também como se ela tivesse simplesmente roubado a minha família.
Depois de algumas semanas Vanessa passou a ser uma pessoa mais normal, sem toda aquela alegria de sempre e aquele jeito de falar esquisito. Segundo ela toda aquela alegria era para que eu não me sentisse muito deslocada, como se tivesse entrando de penetra na vida dela e do meu pai. Não sei como falar com uma voz aguda irritante e bater palmas toda vez que fica animada faria com que eu me sentisse em casa, mas na cabeça dela isso fez todo sentido.
Me deixo viajar um pouco pela música e quando vejo já estou correndo bem mais rápido do que o aceitável para meus sensíveis pés. Realmente isso de correr escutando música não é uma boa ideia para mim, já que eu sempre entro no embalo e acabo acelerando muito mais do que o normal. Paro por uns instantes e vou caminhando até um parquinho que fica por aqui. Assim que me sento no banquinho e bebo três grandes goles d’água meu telefone toca. É a Babi.
- Olha só eu não to com saco pra isso de você se afastar de mim? – Ela fala tão alto e tão rápido que eu tenho que afastar o telefone do ouvido. – Já faz dias que está um clima estranho entre nós e eu não gosto nada disso. Poxa! Você já está longe fisicamente, agora temos que nos afastar emocionalmente? Fala sério Rebeca!
Solto uma gargalhada e um suspiro de alivio sai pelos meus lábios no mesmo instante em que as lagrimas saem dos meus olhos. Faz dias que eu e a Babi estamos afastadas. Nem eu sei direito o que aconteceu, só sei que toda vez que íamos nos falar tinha uma tensão que nunca existiu entre nós. Como uma barreira e a cada dia essa barreira ficava maior. Agora é ótimo ouvir seu tom de voz normal de novo, sem medo de falar algo que vá nos afastar.
- Agora me conta logo como foi o dia nessa nova escola aí.
Novamente conversamos todo o caminho de volta. Babi quis pegar no meu pé sobre esse Brian, mas eu cortei logo suas ideias cheias de quintas intenções.
- Você tem que me mandar o perfil dele! Preciso conferir com meus próprios olhos se ele realmente é essa coisa toda.
- Eu não procurei ele no facebook, nem sei seu sobrenome.
Minto. E ela finge acreditar, porque nem eu mesma acreditaria nessa desculpa esfarrapada. O sobrenome dele é Rabelo, descobri isso quando o professor ficou irritado com ele e falou todo seu nome, o que fez com que todo mundo ficasse quieto e alarmado.
Seu perfil só tinha fotos de tudo quanto era festa e dele sempre ao lado das garotas mais bonitas. Pelo que pude ver ele curte Oasis, The Doors, Pearl Jam, Foo Fighters, curte também umas trocentas páginas sobre motos e mulheres em cima de motos, o que me fez revirar os olhos e sair da sua pagina antes de ver qualquer coisa.
- Alô? Terra chamando Rebeca?
- Opa, desculpa, dei uma viajada agora.
- Aposto dez reais que era o Brian.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...