Respira. Inspira. Respira. Inspira.
Mantenho-me olhando fixamente para a luz forte do teto do hospital. Meus olhos já estão ardendo, mas mesmo assim ainda consigo sentir minha perna latejando por baixo do gesso. Que maravilha! Respiro fundo e tento me sentar, mas isso parece exigir muito esforço e eu desisto.
- Acho melhor você ficar deitada Becky. – A Vanessa diz. É a primeira vez que eu a vejo sair de casa assim: sem maquiagem, com o cabelo preso e bagunçado. Seus olhos estão cautelosos e preocupados e ela tenta sorrir para mim, mas só forma uma linha fina em sua boca. Respiro fundo. – Não fique assim, daqui a pouco você pode voltar a correr.
- Não, você sabe que não.
Não é como se eu fosse ficar para sempre sem poder andar, que foi minha teoria quando senti o impacto daquele carro em minha perna. Só soube que não ia morrer porque o famoso filme sobre minha vida não passou diante dos meus olhos, mas a dor era tão forte que eu tive a impressão que minha perna estava fora do corpo. Mas na verdade, segundo o médico, eu tive muita sorte.
Não quis saber muito sobre o que realmente aconteceu e nem dos seus termos médicos a única pergunta que fiz era em quanto tempo podia andar e se eu um dia realmente iria poder voltar a andar. Ele deu uma risada como se eu fosse uma boba e disse que eu ficaria com gesso por apenas um mês, mas teria que ficar usando muletas por algumas semanas e nada de correr por pelo menos cinco meses.
Nunca senti tanta raiva na vida. Estava com raiva do Brian por ter me insultado, mesmo que ele não tenha feito isso em voz alta. Raiva por ele ter me dado as costas e ter me obrigado a fazer papel de idiota. Raiva por não saber me controlar e correr atrás dele. Raiva por ter sido idiota e ter sido atropelada. E agora só a dor da perna é maior que minha raiva.
Não o culpo. De forma alguma. Eu corri porque quis e eu poderia ter olhado para ver se algum carro estava vindo, mas não. Decidi que o melhor era correr atrás de um garoto que estava me insultando e me odeia.
Solto um gemido de frustração e tento esconder meu rosto.
Como sou tão idiota?
- Daqui a pouco a dor passa. O remédio já deve estar fazendo efeito. E seu pai está lá fora conversando com o médico. – Ela para de falar, mas percebo que tem mais algo para dizer. Ela está relutante e isso me assusta. Lá vem bomba!
- O que foi Vanessa? – Pergunto enquanto me sento e ignoro completamente a dor que esse movimento dispara em minha perna.
- O Brian quer muito te ver. Ele está desesperado.
Por um momento sinto um enorme alivio, mas depois minha raiva volta. Porque ele está desesperado? Deve estar com medo de que eu o culpe e seu papaizinho corte sua mesada. Reviro os olhos. E por mais que eu queria falar que nunca mais quero ver sua cara, apenas aceno com a cabeça.
- Tá certo.
A Vanessa sai do quarto que estou dividindo com várias pessoas, cada uma protegida por uma cortina branca e eu não paro de pensar em como quero sair logo daqui. Sempre fui fraca e medrosa para dor. Faço escândalos apenas em pensar que uma agulha terá que passar por minha pele, mas sempre que estou em situações assim tento ser otimista e pensar em alguma situação que poderia ser pior. Nesse caso seria pior se o carro tivesse feito com que eu voasse por cima dele e precisasse de uma cirurgia. Mas o carro “apenas” bateu em minha perna com força, não fez muitos estragos.
- Rebeca? – Não preciso virar para saber de quem é a voz, mas mesmo assim viro minha cabeça para o lado. O Brian está com a mesma expressão da Vanessa: lábios apertados formando uma linha fina, olhos alarmados, diria até preocupados. Suas mãos estão dentro dos bolos da calça e ele parece inseguro. Pela primeira vez ele não parece completamente confiante.
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Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...