Dois meses depois
Sinto meu coração acelerar ainda mais e o suor escorrer pelas minhas costas, braços e cada pequeno pedaço do corpo. O cabelo está grudado pela nuca e rosto. Minha boca seca solta suspiros ofegantes. Acelero um pouco mais os passos até sentir minha perna queimar tanto que sou completamente obrigada por meus instintos a parar.
Assim que meus pés começam a seguir um ritmo mais lento para parar, meu celular toca estridente. Olho para a tela e vejo que é a Penélope. Faz mais de dois meses que não converso direito com ela e não faço a menor ideia de quando foi à última vez que ela me ligou. Aliás, não sei quanto tempo faz que eu não falo com qualquer pessoa da escola, fora um "bom dia" e um aceno de cabeça com sorriso sem graça.
- Alô? - Atendo assim que tomo coragem e recobro o folego.
- É, oi. - Ela diz daquele jeito tímido dela que me faz querer rir um pouco. - Então... Tudo bem?
- Tudo Penny, e com você? - Digo tentando soar normal para ela. Meu coração está batendo acelerado, e nem é por causa da corrida. Eu não sei direito porque nos afastamos, ou melhor, por que eu me afastei dela, mas desconfio que seja tudo por culpa do Brian. Ou minha.
- Tudo. - Ela parece mais aliviada agora e parece até mesmo estar sorrindo. - Então, eu sei que você deve estar achando estranho eu estar te ligando agora, a gente tem andado distante e tal. Mas é que minha mãe resolveu fazer uma festa de aniversário pra mim e eu queria te convidar...
Meu coração acelera mais um pouco. Ouvir a voz suave da Penélope me faz ficar triste por ter esquecido ela e do seu aniversário. Ela sempre foi uma boa amiga, mesmo que nunca tenha sido tão próxima e saber que eu me afastei dela por causa de um garoto não me parece muito inteligente.
- Claro Penny! - Animo um pouco mais a minha voz para expressar minha real felicidade por ela ter se lembrado de mim e não ter feito como eu fiz. - Que dia e que horas?
- Vai ser sábado que vem, às oito da noite. Conto realmente com sua presença. Estou com medo disso ser um fracasso. Você sabe né, não sou muito popular. - Sua voz parece ficar mais fraca e triste e isso me parte ainda mais. Que droga Rebeca, como você pode ser tão estupida?!
- Pode contar, vou estar aí. E para de bobeira, aposto que vai bombar, todo mundo vai comentar dela na segunda, aposto.
- Espero que sim, obrigada Becky. Beijos.
- Beijo, tchau!
***
Vou correndo um pouco mais lentamente para minha casa, dessa vez um pouco mais feliz que antes. Faz tanto tempo que não falo com ninguém além da Vanessa, meu pai, a Babi e minha mãe! E eu nem ao menos sei o porquê de ter me excluído tanto.
Desde a festa do Brian que eu coloquei em minha cabeça que eu mereço mais do que isso. Mais do que alguém que me beija em um dia e no dia seguinte posta milhares de fotos no facebook com outra garota. Que se diz sensível e no minuto seguinte é o maior canalha. Eu mereço alguém que saiba o que quer, pois eu, agora, sei também o que quero. Mereço alguém que queira estar comigo e todo o pacote junto, incluindo as indecisões, confusões e melancolias. Não alguém que quer apenas o pacote alegria e diversão. Não sei ser metade. Ou é tudo, ou é nada.
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Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...