Naquele mesmo dia fui visitar a Penélope, como nunca havia pegado catapora não via problemas. E sem nem perceber, acabei contando como havia sido a minha tarde e contei como conheci o Guilherme. Eu estou realmente ficando boa em me abrir e falar da minha vida para pessoas que eu não tenho menor relação de intimidade.
Talvez esse seja o problema quando você muda para um lugar novo: não tem com quem desabafar. E por mais que eu possa ligar para a Babi a qualquer hora, não é a mesma coisa.
Nunca é.
- Por que você cortou contato com ele? Ele parece ser um cara bem legal! – Os olhos dela estavam brilhando e dava para ver como ela estava radiante com a história, mesmo estando doente e se coçando a cada cinco minutos.
- Não sei. Só não quero me envolver e sou muito fácil de me apegar, passeis dias pensando nele depois de tê-lo conhecido. – Suspirei profundamente. Essa era a desculpa que eu estava sempre falando, principalmente para mim mesma. Era como se nem eu mesma conhecesse a verdade e tivesse tentando me iludir.
- Ou então você está interessada em outra pessoa.
Eu sabia perfeitamente do que ela estava falando. Ou melhor, de quem. O Brian, claro! A Penélope não era insistente como a Babi, mas sempre que podia deixava no ar que eu tinha algum interesse pelo Brian. O que não era verdade.
E também não era mentira.
A verdade é que tanto o Brian quanto o Guilherme mexem comigo de maneiras completamente diferentes. O Guilherme é tranquilo e tem sempre algo bom para dizer, é doce e cauteloso. O Brian tem um ar de metido e só de olhar para ele em cima daquela moto você sabe que é problema na certa. O único problema é que, depois que ele falou sobre o pai no elevador, pude perceber que ele usava uma mascara.
Um filme. É isso que essa confusão poderia ser, como a Penélope mesmo havia dito. E olha que ela nem sabia do lado Brian da história.
A Penélope tinha o que dizemos ser uma família perfeita. Sua mãe era superprotetora e podia até exagerar, mas sabia que era tudo amor, dava para ver como elas se olhavam. Eu costumava ser quase assim com minha mãe, quando não brigávamos. O pai dela também era bem legal, apesar dele ter chegado praticamente na hora em que eu estava saindo. Ele era alegre e fazia piadas bobas (que fazia todo mundo rir, inclusive eu).
Quando estava entrando no prédio o Brian estava lá. Novamente ele esperou as portas do elevador se fecharem para falar:
- Acho que nós poderíamos ir conversando sobre o livro. Tenho muita dificuldade com filosofia e é meio difícil para mim. – Ele estava com as mãos nos bolsos da calça e se balançava, levemente, para frente e para trás. Era como se estivesse nervoso.
- Por mim, tudo bem. – Me forcei a sorrir sem ainda saber direito se deveria aceitar ou não. Mas como eu realmente queria tirar boas notas esse ano, achei que era melhor ajudar ele para que o trabalho ficasse bom.
- Pode ser amanhã? Umas três da tarde. Está bom para você?
- Tudo bem. – Digo enquanto saio do elevador, que acabou de abrir as portas indicando que cheguei ao meu andar.
- Ah, por sinal – Ele diz enquanto coloca as mãos entre as portas do elevador para que não se feche. – Esse vestido ficou maravilhoso em você.
O Brian já me disse muitas coisas desse tipo, mas essa foi a primeira vez que ele conseguiu me elogiar sem me deixa constrangida ou com vontade de pular em seu pescoço. O que fez com que minha boca sorrisse mesmo sem minha permissão. Enquanto as portas se fechavam também pude perceber um sorriso que brincava em seus lábios.
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Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...