Um

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Ele

O maior e pior erro primário que qualquer assassino – amador ou profissional – pode cometer é esquecer que os fragmentos humanos ficam por toda parte e que numa cena de crime eles serão procurados exaustivamente.

Por mim.

Porque este é o meu trabalho.

Então, se você tem a intenção de matar alguém, eu aconselho que, antes de entrar em ação, tome um suco forte de maracujá para se acalmar, respire bem fundo diversas vezes e utilize luvas. Aquelas de látex, de preferência. Várias, sobrepostas uma em cima da outra. Sério. Esse é o melhor jeito de utilizá-las na minha opinião. Além de leves, vão te proteger e são confortáveis. E conforto é tudo, até na hora de ceifar a vida de alguma pessoa. Então, para um assassinato, elas são mais do que o suficiente para garantir que você não seja identificado e preso em seguida, pois se uma rasgar, suas digitais continuarão em segredo.

Já parou para pensar no porquê que assassinos em série demoram de ser capturados? Sim, porque eles mantêm a calma. São frios e raramente cometem erros, e consequentemente não são pegos.

Ao cometer um erro, como não lembrar de usar luvas, por exemplo, o assassino coloca tudo a perder. Todo o planejamento e esforço mental feitos, noites mal dormidas com ideias macabras de como fazer aquela pessoa sofrer como ela merece, ódio diário semeado contra a vítima... Será tudo em vão. Ele será identificado e vai se ferrar.

É só questão de tempo, garanto.

Como você e todos já devem saber, nossas digitais ficam mesmo gravadas em toda e qualquer superfície, e, com os equipamentos certos, sou capaz de descobri-las onde quer que estejam e comprovar quem foi capaz de sujar as mãos de sangue. E devo mencionar também que nossos fios de cabelo – curtos ou longos – caem pelo chão a todo instante, por mais que não percebamos, tornando-se mais alguns aliados meus. Então sim, estes dois fragmentos são capazes de revelar quem esteve presente no local.

Exatamente como agora.

–– Interessante –– murmuro, estreitando os olhos e sorrindo por detrás da máscara após puxar com a pinça um comprido fio loiro que se encontrava abaixo da cama king size.

Melhor nem descrever a situação do cômodo, que já foi analisado pelos outros peritos criminais. Uma verdadeira carnificina.

–– Achou alguma coisa, Sebastian? –– indaga o delegado Carlos na porta do quarto, examinando o chão amadeirado e ensanguentado.

–– Bem... –– inicio, voltando a me levantar. Desviando do sangue esparramado, que escorreu do cadáver, vou na ponta dos pés até a entrada. –– Tudo foi limpo. Não há nada no celular ou computador dele. Também não há nada no botão da campainha, tampouco nas portas, maçanetas ou em qualquer móvel ou acessório da sala até aqui, o quarto. Absolutamente nenhuma digital. Todas as janelas estão trancadas por dentro, sem sinal de invasão, e também foram limpas. E algo que me chamou muita a atenção: as unhas dele foram limpas, talvez com uma escovinha e água quente. As pontas dos dedos estão queimadas. Ele pode ter tentado se defender, por isso levou essa facada na palma da mão direita e teve as unhas limpas. Essa pessoa não está de brincadeira, veio preparada para qualquer imprevisto. É exatamente a mesma coisa que aconteceu no caso do mês passado e no do mês retrasado.

–– Esta vítima também esperava pelo assassino, assim como as duas anteriores. –– Ele relanceia o corpo no colchão. Um homem barrigudo com a careca lustrosa, deitado de costas, com os braços abertos – no esquerdo há um corte minucioso da dobra do cotovelo até o pulso, e completamente nu, além de estar com o peitoral e a barriga cobertos de sangue e furos de uns dois centímetros. Foi esfaqueado pelo menos umas trinta vezes. Não é uma visão muito agradável de se ter logo pela manhã.

#2 - Logo Após Você PartirOnde histórias criam vida. Descubra agora