Não sabia exatamente quando eu havia dormido. Não sabia se foi por causa do calor convidativo que emanava do menino que me abraçava, ou se foi pelo alívio que percorreu o meu corpo quando ele me garantiu que guardaria o meu segredo. Eu não fazia a menor ideia, nem mesmo quando abri meus olhos e me deparei com o braço forte de Austin Dawson ao meu redor eu soube me responder.
Permaneci quieta sob o braço do garoto, que, por sua vez, dormia profundamente ao meu lado. E quando digo profundamente, quero dizer de fato profundamente, já que tinha espaço para roncos baixinhos e leves remexidas atrás de mim.
Pensei até em me libertar de seus braços e ir para o mais longe possível dele, além do mais, Austin Dawson é o garoto problema que preciso manter distância. Se não fosse por sua descoberta, muita coisa não teria acontecido, assim como também não teria acontecido se eu tivesse negado Blaise há mais de um mês e evitado tudo isso. Contudo, não consegui me afastar. Não quando o seu calor corporal se tornou algo tão prazeroso, necessitante e familiar para mim. Não quando Austin deixou de ser o meu “problema” e se mostrou alguém quando me ajudou e me consolou ontem, quando me desfiz em lágrimas e soluços.
Calmamente, me virei frente a frente com ele, encontrando olhos fechados, os mesmos que milagrosamente consegui encontrar suas pupilas na noite passada, e lábios entreabertos. Sua feição estava tranquila, neutra. Era estranho assumir que sua tranquilidade também resultava na minha.
Suspirei baixinho, e em seguida me amaldiçoei.
Seus lábios se fecharam e seus olhos e sobrancelhas se franziram quando o rapaz balançou a cabeça e... despertou, suas íris encontrando as minhas e nossas respirações — que àquele ponto já estavam irregulares — se misturando graças aos poucos centímetros que nos afastavam.
— Bom dia — ele desejou, e apesar do constrangimento entre nós crescendo, não se afastou, pelo contrário, senti seu braço ao meu redor me prender mais contra ele.
Sabia que tinha bebido somente uma cerveja ontem, mas não tinha conhecimento que fora necessária para me fazer esquecer do que possivelmente aconteceu na noite passada, neste quarto com Austin. Lembro de ter chorado, dele ter me abraçado e beijado o meu ombro, mas após isso... Nada.
Espremi meus lábios e devolvi o cumprimento, pousando minhas mãos contra seu peito e acariciando o tecido de sua camisa com o polegar suavemente.
— O que aconteceu ontem? — ousei perguntar, esgueirando minha perna para às suas e entrelaçando-as.
Parecíamos amantes, de fato. E isso não me trazia nenhum constrangimento. Por quê?
— Você dormiu — respondeu simplesmente após a leitura de meus lábios. — Achei que, pelo o que sofreu, dormir abraçados a faria se sentir mais segura.
Por estarmos tão próximos, suas pupilas dilatadas não foram difíceis de encontrar. Pergunto-me se as minhas também estavam assim, ainda mais pelo sentimento forte que aquecia meu peito por sua fala carinhosa. Não duvido que, de fato, estivessem.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...