Meu coração ainda estava acelerado quando me voltei a Austin e o olhei com tristeza e medo nos olhos. Ele, por outro lado, já havia compreendido a situação e já me visava preocupado. Os seus sentimentos por mim fez meu peito aquecer levemente, mas não foi capaz de me reconfortar. Não daquela vez.
— Me desculpa — sussurrei e então corri na direção de meus pais, torcendo mentalmente para que minhas pernas não falhassem e nem meu coração.
Parei um metro de distância deles e os analisei com hesitação, meu olhar intercalando entre o casal e a morena que ainda me observava com o seu sorrisinho maldito.
— Madison... — A voz rouca de meu pai foi interrompida pela esganiçada de minha mãe, que fechou sua mão em meu braço com força o suficiente para me fazer encolher e me observou com a mais pura das friezas.
— Vamos embora, já! — Então me arrastou pelo corredor, na direção da saída, e em passos fundos e calculados.
Daquela vez, nem Electric Love, que ainda tocava no único fone pendurado em minha orelha, conseguiu conter o peso excessivo dos olhares dos alunos espalhados pelo corredor e pelo estacionamento que recaiu com tudo sobre mim e meus pais. E por um longo instante, desejei que minha punição em casa viesse logo para não ter que passar por esse cenário vergonhoso. Se é que este é o ápice da situação, a constar que eu acabara de vez com aquilo que meus pais estavam reconstruindo aos poucos.
No carro, a caminho de casa, meus responsáveis discutiram ferozmente nos assentos à frente. Mamãe dizia palavras que me magoavam e meu pai tentava contradize-la, optando por esperar que as explicações saíssem pela minha boca assim que chegássemos em casa e nos acomodássemos no sofá, mas apenas recebia um xingamento por sua tentativa de manter a paz. A todo instante, me mantive encolhida no banco traseiro do veículo e tentei ao máximo me concentrar nas batidas que ecoavam por meus fones, mas era impossível. Sequer parecia que eu estava ouvindo música, eu sequer estava. O cenário estava tão crítico que eu ouvia tudo, definitivamente tudo, menos a música estrondosa vinda dos fios conectados às orelhas.
Assim que o automóvel parou em frente à casa grande e branca, pareceu que eu estava vivendo em um filme de terror; meus pais eram os monstros que logo mais me devorariam, minha própria casa seria o lugar onde deixaria de existir e o jardim verdinho a frente desta seria o meu cemitério. Mas sabia que as coisas eram contrárias. Sabia que eu era o monstro e meus pais, as pessoas que tentariam me deter, apesar de já estar conseguindo fazer isso por conta própria.
Engoli em seco, abracei os livros didáticos com força contra o peito e então abri a porta do veículo, retirando-me do carro e esperando meus pais fazerem o mesmo com os olhos fixos no meu all star amarelado, antes branco.
— Entre! — minha mãe ordenou, e antes que meus neurônios pudessem enviar o comando para minhas pernas, eu já estava a obedecendo. O olhar sempre baixo enquanto seguia à minha residência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...