Me questiono se minha resposta fora realmente tão boa a ponto de calar Austin por tanto tempo. Fui sincera, claro. Meus pais queriam, de fato, se mudar, trocar nossa rotina e nos retirar da nossa zona de conforto atrás de mais tentativas para conseguirem estabilizar a relação deles, entretanto, em comparação a como eram na Carolina do Norte, o tiro saiu pela culatra, já que as brigas que antes eram alternadas entre três ou quatro dias, se tornaram tão frequentes que parece ser um sufoco para eles permanecerem no mesmo ambiente sem iniciar uma discussão sem pé e nem cabeça.
Em silêncio, eu devorava pãezinhos açucarados e bebia refrigerante direto de sua lata vermelha, evitando contato às íris negras de Austin e fingindo que sua presença não estava ali assim como minha infelicidade e desprazer em está tão próxima dele.
— Sabe — ele quebrou o silêncio e meus olhos logo alcançaram os seus. Austin ficara silencioso para limpar o açúcar que melava seus lábios e arredores com um guardanapo —, se não queria vir era só ter dito “não”, é muito melhor levar um fora do que gastar dinheiro com uma pessoa que está desgostosa com a minha presença — repreendeu e sua sinceridade ficou nítida agora.
Ele não havia mentido hoje mais cedo, entretanto, ao analisarmos nosso trágico começo, meio e possível fim, era de se esperar que eu supusesse que não teria escolhas se não vir a este encontro. Era terrível saber que eu continha uma segunda opção e não a utilizara.
— Não sabia que tinha essa opção — retruquei e dei a mordida que extinguia os pãezinhos de meu prato.
Ainda mastigando, ergui minha mão na direção do depósito vermelho de guardanapos que ficava no meio da mesa e me surpreendi quando a mão grossa e quente de Austin se pôs sobre a minha, prensando-a ali.
Meus olhos se erguerem aos seus e censura os dominava.
— Sempre há uma segunda opção, Madison — anunciou, e tive que lutar contra o ímpeto de puxar minha mão dali, para longe da sua enquanto o sentia intercalar o seu olhar intenso entre meus orbes e lábios.
A cabeça do garoto tombou para o lado e seus olhos se semicerraram, minha mão ainda se mantendo sob a sua. Por incrível que pareça, o seu calor, o seu toque... eram tranquilizantes apesar dele ser uma ameaça.
— Ou você não tinha quando estava com Blaise? — Apesar de ser ironia, notei os vestígios de sinceridade em sua voz e temi por minha resposta.
Não por minha resposta, mas por minha própria língua. Se ela ganhasse vida própria, diria coisas que nem eu mesma acredito.
Blaise me dava outras opções, claro, não só quando estas se referiam a qual posição sexual eu gostaria fazer, mas ele, de fato, me dava. Me deu escolhas quando me perguntou se eu gostaria de uma carona para casa depois de uma noite de festa na casa de Harper; me deu escolhas quando o medo me fez subir em seu colo duas quadras antes da casa onde meus pais obviamente estariam discutindo; me deu escolhas quando me olhou nos olhos e me perguntou se era realmente aquilo que eu queria, se eu realmente queria trair minha melhor amiga; me deu escolhas de pôr um fim naquilo logo que chegamos juntos ao nosso limite, suados e satisfeitos. Todas as vezes eu disse sim, e todas as vezes pus em minha cabeça que a culpa era somente minha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...