Eu só esperava, acima de tudo, que ele ainda estivesse disposto para mim.
Tinha minhas suspeitas que não, e imaginá-las me doía tanto que nem lembro quantas foram às vezes que tive que comprimir meus lábios e apertar o volante até que os nós de meus dedos esbranquiçassem quando estávamos a caminho de sua casa. Austin, por sua parte, não disse absolutamente nada o percurso inteiro, somente se limitou a observar a paisagem através da janela do veículo até que chegássemos em frente à sua residência e ele soltasse o cinto, abrisse a porta e a batesse delicadamente. Nem um adeus ou tchau soou de seus lábios e isso, apesar de me dar uma leve esperança de que aquilo não era um fim, me magoou.
Permaneci com o carro estacionado a frente de sua residência até que ele entrasse e a coragem me invadisse para ir embora. Quando isso ocorreu, já haviam se passado cinco minutos. Cinco minutos de pura dor, angústia e lágrimas.
Mesmo tendo a noção que meus pais estariam em seus respectivos trabalhos até às meadas 19h, não retornei para casa, pelo contrário, trafeguei pelas ruas de Southergade até o topo daquele mesmo monte que havia passado a noite do dia anterior, a procura da pouca paz e da bela vista que ele me trouxera.
Sentada no capô do carro enquanto visava a cidade abaixo com fascínio, cheguei à conclusão que iria passar mais uma noite nesse lugar que, assim como a cama quente e a presença de Austin, me fazia fugir da minha realidade dentro de minha própria residência, só que, daquela vez, me deitaria no banco traseiro de meu Kia Soul e vislumbraria os pontinhos brilhantes que tatuavam o céu tão escuro quanto os olhos e os cabelos de Austin Dawson pelo teto solar enquanto me perderia em pensamentos sobre onde Madison Harrison havia se perdido e onde esta se encontrava agora.
...*...
Hoje cedo, quando atravessei o vão da porta de minha residência e presenciei palavras de baixo calão e fúria nos tons de meus pais, cogitei fugir. Se possível, para todo o sempre.
Eles nunca brigavam pela manhã, e nem na minha frente.
Mas hoje em específico decidiram não me dar uma sequer trégua. Meu pai foi uma exceção, claro. Quando apareci na sala, a caminho da escada, e acabei encontrando ele e minha mãe trocando palavras, frases tão impuras, ainda notei o instante em que ele me percebera e tentara acalmar os ânimos da mulher revoltada e explosiva. Não conseguira, por isso aprecei meu passo e segui o mais rápido para o quarto. Naquele instante só queria me arrumar o melhor possível para o meu último dia na Southergade High School, pois seria 7 horas longe dessa casa.
7 horas para me encontrar.
7 horas perto do garoto que amo e que me rejeitou e que rejeitei em seguida.
Ao entrar em meu único refúgio dentro dessa casa, não me demorei em colocar “Blinding Lights” na pequena caixa de som branca que tinha. Ao menos assim a música animada poderia se sobressair em relação a gritaria que continuava no andar inferior.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...