Seu peso fez o colchão afundar e o calor familiar que emanava de seu corpo açoitou minha costas. Tentei engolir o choro quando seus dedos finos tocaram meus fios de cabelo e os acariciaram com leveza e cuidado.
Estava tão envergonhado, não por chorar, Madison já me flagrou chorando antes, mas por ter esquecido da sua presença no calor do momento. Se eu lhe desse a atenção que merecia e permitisse que fosse minha âncora desde o princípio talvez não estivesse tão no fundo do poço assim.
A cama se remexeu minimamente quando Madison se deitou, abraçando minhas costas e se aconchegando em minha retaguarda. Senti seus lábios macios tocando minha nuca e supus um beijo, que podia facilmente acusar de ser o responsável pela intensificação de meu choro.
Na frente de Madison, eu podia ser quem era e demonstrar meus sentimentos sem nenhum problema; aquele simples gesto de afeição me provou isso, que ela não me julgaria, que apenas se inundaria de silêncio e permaneceria comigo até mesmo depois que as lágrimas parassem de rolar e não restasse mais nada além de culpa e tristeza incubadas. Foi por essa confiança, por esse laço forte que tínhamos que retornei a desabar.
Como não podia ouvir meus soluços e berros, me concentrei no meu peito pulsante, nas lágrimas que se deslocavam pelas minhas bochechas e na rouquidão que atingiu as paredes da minha garganta; essas eram as únicas provas que eu tinha do meu choro, juntamente com uma leveza da parte dos sentimentos cruéis que avassalavam meu coração. Chorar era uma válvula de escape quando se há muitos sentimentos profanos dentro de si, essa ação tão simples e primordial amenizava a dor, por essa razão eu devia aproveitar cada segundo que tinha enquanto me restassem lágrimas, pois quando meu corpo não tiver mais forças para fabricá-las, eu me afundaria em dor, e o silêncio que me rondava faria ela se mesclar a mim.
Desconhecia o tempo exato que pude me beneficiar do choro, somente entendi que ele se esgotara quando um nó se formou em minha garganta e a dor se arrastou por todo o meu corpo feito uma serpente, silenciosa e devagar, esperando o instante perfeito para dar o bote e me encher com o seu veneno. E por medo deste instante, segurei os pulsos de Madison e afastei seus braços de mim. Girei o corpo e fiquei frente a frente com ela, podendo vislumbrar suas íris verdes e seu perfil bonito e trivial, em busca de consolo e ajuda.
— Me perdoa por ter esquecido de você — lamentei e senti minha garganta arranhar pela rouquidão consequente do choro. Torci para ter tido voz e ela ter conseguido me ouvir. Apesar do breu do quarto, notei que um vislumbre de sorriso surgiu no canto de sua boca, me provando que sim.
Ela afastou as mãos de mim e buscou alguma coisa no chão. Assim que retornou o membro para o meu campo de visão, seu celular estava entre seus dedos.
Esperei pacientemente ela escrever no nosso arquivo do Word. Quando pronto, Madison virou o celular em minha direção e a claridade que advinha do seu telefone iluminou minha face e me deixou momentaneamente cego.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...