Fazia um mês que minha mãe havia retornado para Carolina do Norte, e, devia confessar, me sentia mais leve desde então. Agora eram só papai e eu naquela enorme propriedade, mas ainda assim conseguíamos preencher aquele enorme espaço com alegria e serenidade. Após tanto tempo enfurnada num clima pesado e cruel, já tinha até mesmo me esquecido do quão bom era viver em paz, sem ouvir brigas e chorar às escondidas, me questionei quando que essas duas ações nebulosas se tornaram tão rotineiras. Agora, até mesmo Marcus aparentava estar mais feliz, apesar de tê-lo flagrado algumas vezes cabisbaixo e pensativo. Ele, sem dúvidas, ainda amava muito mamãe, e não duvidava que, independentemente das várias circunstâncias, seu sentimento fosse mútuo.
Talvez, depois que eles se encontrassem, um recomeço fosse possível.
Larguei a tesoura na pia, logo acima de tufos de fios louros, e analisei meu reflexo no espelho com atenção. Fazia-se um mês desde que minha vida ganhara outro rumo, um rumo melhor, bem melhor, então não via justificativas para eu não mudar com ele, só não sabia se eu tinha feito certo em mudar o corte do meu cabelo sozinha, apenas com um tutorial do YouTube para me auxiliar.
Não havia feito mudanças drásticas na estrutura do cabelo, talvez fossem apenas dois ou três dedos que cortara, deixando-o acima dos seios, mas a franjinha que ia até as têmporas era uma baita novidade. Analisando-me com atenção pelo espelho, me questionei se fiz certo. Eu sempre amei meu cabelo, cuidava dele como se fosse uma das coisas mais preciosas do planeta, agora que o havia detonado com uma tesoura, o que eu só queria era encontrar um meio para disfarçar, pelo menos um pouco.
Agarrando aquela cascata loura logo atrás de mim, imitei um rabo de cavalo, que deixaria apenas a franjinha aparente, e me vislumbrei de todos os sentidos possíveis.
Eu acabei de foder com o meu cabelo, minha voz mental estava um tanto decepcionada e triste. Não retirei sua razão.
Com uma forte lufada, soltei meu cabelo e me obriguei a ignorar a imagem refletida de mim mesma logo à frente, focando-me na limpeza do banheiro.
Tinha um encontro com Austin às 18h e acreditei na minha pessoa quando achei que conseguiria mudar meu visual dentro das duas horas que faltavam até ele vir aqui me buscar. Iríamos na pizzaria que ele frequentava com a mãe, a mesma que ele foi no dia do seu acidente, que, à princípio, quando ele sugeriu, eu fiquei receosa, já que a última coisa que eu queria era deixá-lo ou vê-lo mal. Contudo, o pequeno sorriso que ele deu e suas palavras dizendo que conseguiria me ganharam facilmente, apesar de ainda estar com o peito apertado.
Com mais nenhum fio de cabelo sobre o chão, retirei o short jeans e o top azul que estava vestida e invadi o box. Deixei que as partículas de água levassem os restos de fios que ficaram soltos em mim e me permiti relaxar.
Iria levar o dicionário ilustrado que comprei há semanas para continuar tendo minhas aulas com o garoto. Fazíamos isso com mais frequência agora; eu estava mais animada para aprender e Austin, mais disposto a ensinar. Ele tinha paciência comigo, gesticulava bem devagarinho para eu entender e segurava e guiava meus gestos quando eu não conseguia. Essas definitivamente eram as únicas aulas que eu, de fato, me esforçava e amava ter.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...