Seu perfume doce foi a primeira coisa que detectei quando ela se sentou ao meu lado e me fitou com tanta intensidade e propícia que foi até estúpido a forma com que meu coração se rendeu à ela tão simploriamente da maneira como se rendera. O que ela estava fazendo aqui? O que a fazia se sentar ao meu lado quando se havia um outro assento próximo a uma garota qualquer da orquestra do colégio? O que a fazia querer ficar tão próxima de mim mesmo depois de nossas desavenças e foras? Mesmo depois de termos nos machucado, o que a havia feito se sentar logo tão próxima de mim?
As respostas vieram tão rápidas quanto presumi, e só bastou Madison erguer os braços levemente no pequeno espaço que havia entre nós e gesticular, usando a fucking língua de sinais, a frase que eu tanto esperei durante os últimos dias:
“Você ainda está disposto para mim?”
Porra! Era óbvio que eu estava. E como estava.
Nos últimos dois dias em que passamos separados, em que não pude tocá-la, nem acariciá-la ou muito menos vislumbrá-la, eu só conseguia pensar nela, em como seus olhos são lindos e em como fui idiota em deixá-la ir, em machucá-la. Tendo dias resumidos em longos banhos, sonos breves e tentativas estúpidas de escutar música (um processo o qual eu simplesmente colocava meus fones nos ouvidos e aproveitava as vibrações que um rock qualquer proporcionava no aparelho pequeno), ainda obtive noites em que choros silenciosos — eu espero — dominavam meu ser enquanto as lembranças de meu indicador enrolando uma pequena mecha do cabelo dourado da menina ao meu lado infernizava minha mente sem piedade.
A cada mísero segundo dessas 48 horas só consegui fantasiar como seria ter ela de volta em meus braços e me questionar se isso ainda teria chances de acontecer. Agora, com ela tão próxima de mim, sorrindo tão iluminada quanto antes, tive certeza de três coisas: (1) ela havia conseguido se encontrar; (2) eu estava muito orgulhoso dela por isso; e (3) ela estava de volta para mim.
Creio que foram esses os fatores responsáveis pelo sorriso leve e o breve inclinar de cabeça que me ocorreu e me fez aproximar mais da garota, seu perfume e seu calor me invadindo quando pousei meu antebraço sobre sua mesa e a observei fundo nos olhos.
— E aí, loira.
Como um manto que acabara de cobri-la e livrá-la de todo mal existente, Madison relaxou os ombros tensos e o sorriso tatuado em seus lábios iluminou meu dia e deixou no passado os dois antecessores, aquecendo o meu coração e me dando fortes vontades de abraçá-la, de tê-la em meus braços e de dize-la o quanto senti sua falta e o quanto eu a amava.
— Oi... — A palavra escapou juntamente com um suspiro, e se não fosse tão previsível assim, com certeza não a teria decifrado.
Meu sorriso se alargou e meus incisivos mordiscaram meu lábio inferior quando meu olhar se distanciou do seu e se focou no exemplar azul sobre sua mesa. O título, grifado em negrito e sobressaltado em relação a cor e a textura da capa, deixava claro o propósito daquilo.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...