Madison lia minha antiga válvula de escape com atenção. O caderno em suas mãos tinha uma capa encouraçada escura e folhas amareladas pelo tempo e rabiscadas por um adolescente amargurado de 16 anos que tinha acabado de sofrer um acidente e perder um dos cinco sentidos humanos.
Eu tinha cedido aquele caderno repleto de frases aleatórias — inclusive a que estava gravada permanentemente abaixo da minha nuca — à Madison havia alguns dias. Nem mesmo Aimée teve acesso permitido àqueles surtos em forma de palavras e versos, embora sejamos muito próximos e transparentes um com o outro. Aquelas escrituras eram como sexo, algo que não é de se ficar comentando com qualquer um, ainda mais se esta pessoa é sua mãe. É algo íntimo. Apenas indivíduos que tivessem uma ligação forte feito aço e uma confiança quase indestrutível comigo poderiam ser dignos de lê-las, e, bem, Madison obtinha todos os requisitos, portanto, não vi nenhum problema em mostrá-la mais um lado meu, só não esperava que ela ficaria tão encantada com aquilo. Isso é perfeito! Já pensou em ser um escritor algum dia?, foi o que tinha me dito assim que leu as duas primeiras frases daquele caderno. À princípio, eu tinha rido, zombeteiro, contudo, mais tarde naquele dia, após ela ter entrado em seu Kia Soul e trafegado até sumir no fim da rua, eu refleti com mais cuidado aquela pergunta e me questionei: por que não?
— Magnífico! — ela gesticulou e me relembrei de nossa aula sobre elogios.
Sorri, já acostumado com o enaltecimento que a loura me dava por absolutamente qualquer coisa.
Com o indicador, Madison apontou para seus lábios sorridentes, pedindo que lhes desse atenção. Obedeci.
— São todas de sua autoria, certo? — perguntou e eu confirmei com a cabeça. — Você se importaria se eu usasse uma? — Uni as sobrancelhas e deixei em evidência minha confusão.
Os lábios da loura afastaram-se e seus ombros cederam; um suspiro. Ela fechou o caderno e o deixou de lado para se aproximar de mim e pegar minhas mãos. Um misto de nervosismo e alegria tomou conta de seu semblante quando ela parecia estar se preparando para me dizer algo. Me foquei em seus lábios e os observei com atenção.
— Completarei 18 anos próximo mês — anunciou e me forcei a conter a surpresa — e estive pensando em fazer minha primeira tatuagem. Depois que li suas escrituras e me encantei por elas, não vi nada mais justo que tatuar uma delas.
Abri um sorriso presunçoso em sua direção, curvei meus dedos nos seus, correspondendo aquele aperto, e analisei suas íris verdes com atenção.
— Tatuar permanentemente algo relacionado a parceiros amorosos não é uma coisa muito aconselhável, Madison — expressei —, ainda mais se é de uma relação adolescente e recente.
Ela me olhou seriamente e piscou algumas vezes antes de tomar fôlego e se preparar para sua explicação. Assim que seus lábios se desgrudaram, os lancei um olhar atento.
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Sintonia Silenciosa | ✓
Teen FictionMadison Harrison achava que o condutor das rédeas de seu destino estivesse de brincadeira com ela. A beleza, sem dúvida, era uma de suas principais qualidades, a razão pela qual atraía tantos olhares pelos corredores da Southergade High School e, de...