CAPÍTULO 2

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Sobre a infância, educação e alimentação de Oliver Twist

Oito ou dez meses depois, as autoridades paroquiais resolveram que Oliver Twist deveria ser despachado para uma sucursal do abrigo a umas três milhas de distância, onde ficaria sob a custódia de uma mulher que recebia as crianças em troca de sete pence e meio por semana por cabeça. Esse valor semanal representa uma boa alimentação para uma criança.

Mas a senhora era uma mulher de sabedoria, então apropriava-se da maior parte da contribuição em benefício próprio, e fazia as crianças subsistirem com a menor porção possível da comida mais rala imaginável. E, a cada oito entre dez casos, adoeciam de fome e frio, ou caíam no fogo por fraqueza.

Em seu nono aniversário, Oliver Twist estava pálido e magro, mas fez uma pequena festa no depósito de carvão com outros dois jovens onde haviam sido trancados pela Sra. Mann, após uma terrível surra. Entretanto, a boa senhora foi surpreendida pela aparição do Sr. Bumble, o bedel.

– Santo Deus! É o Sr. Bumble? – disse a Sra. Mann, colocando a cabeça para fora da janela com uma falsa expressão de alegria. – Que satisfação!

O Sr. Bumble era um homem gordo e mal-humorado.

– Sra. Mann – falou –, venho a trabalho.

A Sra. Mann levou o bedel até uma pequena saleta, ofereceu-lhe assento e, com uma atitude serviçal, colocou seu chapéu de três pontas e bengala sobre a mesa em frente.

– O senhor fez uma longa caminhada, não precisa de algo para beber, Sr. Bumble? – falou a Sra. Mann docemente. – Apenas um gole, com um pouco de água gelada e um torrão de açúcar.

– O que é isso?

– É algo que dou aos queridos meninos quando não estão bem, Sr. Bumble – ela respondeu. – É gim.

– A senhora dá gim às crianças? – questionou o homem.

– Ah, louvado seja Deus, dou, sim – respondeu a enfermeira. – Não poderia vê-los sofrendo, o senhor sabe.

– É uma mulher humanitária, Sra. Mann... Vou mencionar isso ao conselho na primeira oportunidade. A senhora parece uma mãe. – Ele mexeu o gim com água e engoliu metade. – E agora ao trabalho. O garoto Oliver Twist completa nove anos de idade hoje. E, apesar da oferta de recompensa de dez libras – falou o Sr. Bumble –, nunca conseguimos descobrir quem é o seu pai, a origem, o nome ou a condição de sua mãe.

A Sra. Mann levantou as mãos com surpresa, mas acrescentou, após um momento de reflexão:

– Como pode então ter um nome?

– Eu inventei. Damos nomes aos nossos órfãos em ordem alfabética. O último tinha sido um S, dei-lhe o nome de Swubble. E então era o T, de Twist. Eu escolhi o nome dele.

– O senhor é tão letrado, Sr. Bumble! – comentou a Sra. Mann.

– Bem – replicou, satisfeito com o elogio –, talvez eu seja. – E acrescentou. – Sendo Oliver agora muito velho para permanecer aqui, o conselho determinou que deve voltar à casa. Vim para levá-lo.

– Vou buscar o menino – disse a mulher saindo.

Tendo Oliver já conseguido remover o máximo possível da sujeira que estava incrustada em sua face e mãos, foi levado para a sala.

– Irá comigo, Oliver? – disse o Sr. Bumble, com voz majestosa.

Oliver estava pronto a dizer que iria com qualquer um, quando viu o punho da enfermeira balançando furiosamente. Entendeu a ameaça, pois aquele punho tinha muitas vezes deixado impressões em seu corpo.

Oliver Twist (1838)Onde histórias criam vida. Descubra agora