Conta como Oliver Twist estava muito perto de conseguir um trabalho
Uma semana após a ofensa de pedir por mais comida, Oliver continuava trancafiado no quarto escuro e solitário. Chorava amargamente o dia todo e, quando a noite chegava, cobria os olhos com as mãos para afastar a escuridão e, encolhido no canto, tentava dormir.
Mas, mesmo durante o período de encarceramento solitário, Oliver teve acesso a exercício, ao prazer da sociedade ou aos benefícios do consolo religioso. O exercício era lavar-se todas as manhãs sob o belo clima frio na bomba de água do jardim de pedra, sempre na presença do Sr. Bumble, que evitava que pegasse um resfriado aplicando-lhe repetidas bengaladas. No que dizia respeito à sociedade, era levado em dias alternados ao salão onde os garotos jantavam e recebia uma surra publicamente, servindo de exemplo e alerta. E, sobre os benefícios do consolo religioso, era levado todas as noites para ouvir a oração dos meninos, que, obrigados pelo conselho, pediam para serem resguardados dos pecados e vícios de Oliver Twist.
Então aconteceu que numa manhã o Sr. Gamfield, o limpador de chaminés, desceu pela rua pensando em formas de saldar suas dívidas e, em meio ao seu desespero aritmético, açoitando alternadamente seu cérebro e seu jumento, passou pelo abrigo e seus olhos vislumbraram a nota no portão.
– Eia! – disse o Sr. Gamfield ao jumento.
O animal não ouviu a voz de comando e continuou andando.
O Sr. Gamfield rogou uma praga contra o jumento e, segurando bem o arreio, deu um puxão, lembrando-lhe de que não era seu próprio dono e fazendo-o dar meia-volta. Então se aproximou para ler a nota.
O cavalheiro do colete branco estava de pé ao portão e, tendo testemunhado a pequena disputa entre o homem e o jumento, sorriu ao perceber que o Sr. Gamfield seria exatamente o tipo de dono que queria para Oliver Twist.
– Esse garoto aqui, senhor, a paróquia quer que aprenda, e tô bem no negócio de limpar chaminés – começou o Sr. Gamfield, dirigindo-se humildemente ao cavalheiro de colete branco. – Quero um aprendiz e tô pronto a levar ele.
– Entre – falou o homem de colete branco.
O Sr. Gamfield seguiu o cavalheiro e viu Oliver pela primeira vez.
– É um negócio desagradável – comentou o Sr. Limbkins quando Gamfield terminou de falar.
– Crianças já morreram sufocadas em chaminés – disse outro cavalheiro.
– Era porque molhavam a palha antes de descer – respondeu Gamfield. – Não adianta acender palha molhada para o garoto descer. Isso só faz ele ficar sonolento.
O cavalheiro do colete branco parecia estar se divertindo com essa explicação, mas sua alegria foi controlada com um olhar do Sr. Limbkins. Os membros do conselho conversaram entre si por alguns minutos em voz baixa e, quando o sussurro acabou, o Sr. Limbkins disse:
– Consideramos sua proposta, e não a aprovamos.
Como o Sr. Gamfield fora acusado de ter espancado três ou quatro garotos até a morte, ocorreu-lhe que o conselho talvez tivesse levado isso em consideração.
– Então, os senhores não me deixarão levá-lo? – falou o Sr. Gamfield, dando uma parada perto da porta.
– Não – respondeu o Sr. Limbkins. – Pelo menos, para esse trabalho sujo, achamos que deveria aceitar um pouco menos do que o oferecido.
O semblante do Sr. Gamfield iluminou-se e, com passadas rápidas, voltou para perto da mesa e disse:
– O que darão, cavalheiros? Por favor! Não sejam tão duros com um pobre homem.