Onde um plano notável é discutido e traçado
Era uma noite fria, quando o Judeu saiu de sua toca. Parou por um momento na esquina da rua e, olhando ao redor de modo suspeito, seguiu em direção a Spitalfields.
Manteve o curso através de muitas vielas estreitas e tortuosas e, finalmente, entrou em uma, iluminada apenas por um candeeiro lá longe. Bateu à porta de uma casa e subiu as escadas.
Um cachorro rosnou quando ele tocou a maçaneta da porta da sala e a voz de um homem perguntou quem estava ali.
– Apenas eu, Bill – respondeu o velho.
– Então, entre – falou Sikes. – Quieto, cachorro estúpido! Dê-lhe alguma coisa para beber, Nancy – falou o Sr. Sikes.
Rapidamente ela pegou uma garrafa. Sikes encheu um copo de conhaque e mandou que Fagin o bebesse.
– Muito bom, obrigado, Bill – respondeu o homem pousando o copo após ter apenas tocado seus lábios nele.
Com um rosnar de desprezo, o Sr. Sikes pegou o copo, jogou o resto de seu conteúdo nas cinzas e o encheu novamente para si.
– Agora estou pronto para os negócios – falou Sikes estalando os lábios.
– Sobre o berço em Chertsey, Bill? – começou Fagin. – Quando será executado, Bill? Que prataria!
– Não pode ser um trabalho interno como esperávamos – disse Sikes. – Toby Crackit está cercando o lugar há quinze dias e não consegue arregimentar um empregado.
– O que quer dizer, Bill? – falou Fagin suavizando a voz. – Que nenhum dos dois homens da casa pode ser subornado?
– Sim, é isso. A velha senhora mantém-nos há vinte anos e mesmo se oferecêssemos a eles quinhentas libras, não daria em nada
– Então quer dizer – protestou o velho – que as mulheres também não são subornáveis?
– Nem um pouco – respondeu Sikes.
O homem parecia estarrecido com a informação. Um longo silêncio seguiu-se, durante o qual o velho mergulhou em pensamentos, e Sikes o olhava furtivamente de tempos em tempos.
– Fagin – falou Sikes abruptamente –, valeria cinquenta peças9 extras se pudesse ser feito com segurança pelo lado de fora?
– Sim.
– Então, que seja tão logo queira. Toby e eu sondamos os painéis das portas e persianas. O berço tranca-se à noite, como uma cadeia, mas há um ponto por onde podemos entrar.
– E qual é, Bill? – perguntou Fagin ansioso.
– Não importa como é. Precisaremos apenas de uma broca e um garoto. A primeira, nós temos. O segundo, você precisa encontrar para nós. E ele não pode ser grande.
Fagin acenou a cabeça em direção à Nancy e indicou com um sinal que ele deveria mandá-la sair da sala. Sikes encolheu os ombros como se achasse desnecessário, mas pediu à garota que buscasse uma jarra de cerveja.
– Você não quer cerveja alguma – falou Nancy. – Continue Fagin. Eu sei o que ele ia dizer, Bill. Não precisa se incomodar comigo.
O velho ainda hesitou. Sikes olhava um e outro com alguma surpresa.
– Você não se incomoda com a garota, não é, Fagin? – perguntou finalmente. – Conhece ela há tempo suficiente para confiar, que diabos. Ela não vai delatar. Não é, Nancy?
– Devia pensar que não! – respondeu a garota, puxando a cadeira e colocando os cotovelos sobre a mesa.
– Não, minha cara, eu sei que não – falou Fagin –, mas... – e novamente o velho fez uma pausa.
– Mas o quê? – perguntou Sikes.
– Eu não saberia se ela, talvez, ficaria fora de si, você sabe, meu caro, como aconteceu na outra noite – respondeu o Judeu.
Ouvindo essa confissão, a Srta. Nancy desatou a rir alto e, engolindo um copo de conhaque, balançou a cabeça com um ar de desafio, gritando frases diversas como "O jogo tem que continuar!", "Nunca diga morra!" e coisas parecidas. Aquilo pareceu ter um efeito de garantia para os dois homens.
– Então, Fagin – disse Nancy com uma gargalhada –, fale logo para o Bill sobre o Oliver!
– Você é muito esperta. Era sobre o Oliver que eu ia falar, com certeza. Ha! Ha! Ha!
– O que tem ele? – quis saber Sikes.
– É o garoto para você, meu caro – respondeu Fagin.
– Pegue-o, Bill! – disse Nancy. – Pode não ser treinado, mas só vai abrir a porta para vocês.
– E está na hora de começar a trabalhar pelo pão – replicou Fagin. – Além disso, os outros são todos muito grandes.
– Ele tem exatamente o tamanho que eu quero – falou Sikes ruminando a ideia.
– E vai fazer qualquer coisa que quiser, Bill. Não tem escolha. Quer dizer, se você amedrontá-lo o suficiente.
– Amedrontá-lo! – ecoou Sikes. – Não haverá nenhuma falsa ameaça, você sabe. Se houver qualquer coisa estranha com ele quando entrar no trabalho, não o verá vivo novamente, Fagin. Pense nisso!
– Já pensei – respondeu Fagin energicamente. – Se sentir que é um de nós, será nosso para o resto da vida. Isso não podia acontecer em melhor hora.
– E o que – falou Sikes encarando-o sério – faz você ter tanto cuidado com esse garoto quando existem cinquenta outros à sua escolha vadiando pelo Common Garden?
– Porque não me servem para nada, meu caro. A aparência deles os condena quando se metem em problemas. Com esse garoto, bem administrado, meus caros, poderia fazer o que não posso com vinte dos outros.
– Quando será? – perguntou Nancy.
– Combinei com Toby para a noite depois de amanhã – respondeu Sikes rudemente. – Se não ouvisse nada diferente da minha parte.
– Bom – comentou Fagin. – Sem lua.
– Sem lua – concordou Sikes.
– E está tudo certo para trazer a pilhagem, não é?
Sikes acenou afirmativamente.
– E sobre...
– Está tudo planejado – interrompeu Sikes. – Não se preocupe com os detalhes. Apenas me traga o garoto amanhã à noite. Devo sair uma hora antes do amanhecer. Então, segure sua língua e mantenha o caldeirão de fundir pronto. É tudo o que precisa fazer.
Ficou decidido que Nancy deveria ir até o esconderijo de Fagin na tarde seguinte para trazer Oliver. E também foi combinado que o menino deveria ficar sob a custódia e cuidado do Sr. William Sikes para os fins da expedição, que lidaria com ele como achasse melhor.
– Boa noite, Nancy – disse Fagin.
– Boa noite.
Seus olhos encontraram-se. O Fagin examinou-a atentamente. Não houve vacilo. Ela estava levando o assunto tão a sério quanto o próprio Toby Crackit.
O velho desejou-lhe boa-noite mais uma vez, desceu as escadas e seguiu o rumo pela lama até seu domicílio, onde o Trapaceiro aguardava o seu retorno.
– Oliver está na cama? Quero falar com ele. – Foi a primeira coisa que disse enquanto descia a escada.
– Há horas... – respondeu o Trapaceiro abrindo uma porta – ...está ali!
O garoto estava dormindo em uma cama improvisada no chão. Tão pálido de ansiedade e tristeza, e da clausura de sua prisão, que parecia morto.
– Não agora – falou Fagin virando-se suavemente. – Amanhã.