Relata uma conversa entre o Sr. Bumble e uma senhora
A noite estava muito fria quando a Sra. Corney, enfermeira-chefe do abrigo onde nasceu Oliver Twist, sentou-se em frente à lareira em seu quarto e olhou para a mesa repleta de tudo o que era necessário para uma saborosa refeição.
Como uma mínima coisa pode perturbar a serenidade das mentes! A chaleira, sendo pequena, transbordou e a água queimou ligeiramente a mão da enfermeira.
– Maldita chaleira! Coisinha estúpida que só serve para uma pobre criatura desolada como eu. Oh céus!
O pequeno bule e a solitária xícara acordaram em sua mente memórias tristes do Sr. Corney, e ela rendeu-se.
– Nunca haverá outro como... como ele.
Acabara de dar o primeiro gole quando foi perturbada por uma batida na porta.
– Entre! – falou secamente. – O que houve agora?
– Nada, madame, nada – respondeu a voz masculina.
– Oh céus! – exclamou em um tom muito mais suave. – É o senhor, Sr. Bumble?
– Ao seu serviço, madame – falou o bedel, segurando o chapéu em uma mão e um embrulho na outra. – Devo fechar a porta?
A senhora hesitou, pensando ser impróprio ficar com o Sr. Bumble a portas fechadas. O homem, aproveitando a hesitação, não esperou pela permissão.
– Clima difícil, Sr. Bumble.
– Realmente difícil – respondeu. – Este é o vinho do Porto que o conselho encomendou para a enfermaria. Tirado do barril esta manhã!
O Sr. Bumble colocou as duas garrafas em cima de uma cômoda e pegou seu chapéu como se fosse embora.
A senhora olhou para a pequena chaleira e para o bedel que se dirigia para a porta e perguntou se ele não gostaria de uma xícara de chá.
Instantaneamente, o Sr. Bumble colocou seu chapéu e bengala sobre uma cadeira e puxou outra para perto da mesa.
O chá estava pronto e foi entregue em silêncio.
– Vejo que a senhora tem um gato – comentou o Sr. Bumble. – E filhotes!
– O senhor não sabe o quanto gosto deles – respondeu a mulher. – Me fazem companhia e gostam muito do lar.
– Sra. Corney – falou o bedel lentamente, marcando o tempo com a colher de chá –, qualquer gato ou filhote que viva com a senhora e que não goste de seu lar é um idiota.
– Ah, Sr. Bumble! – protestou a Sra. Corney.
Ele entregou sua xícara sem falar nada, apertou o dedo mindinho da Sra. Corney quando ela a pegou e, dando dois tapinhas com a mão aberta em seu próprio colete, deu um suspiro e afastou um pouco sua cadeira do fogo.
Quais fossem as intenções do Sr. Bumble, ao mover sua cadeira, diminuiu a distância entre os dois. E, se a enfermeira movesse a sua para a direita, cairia no fogo, e se o fizesse para a esquerda, cairia nos braços do Sr. Bumble. Então, ela permaneceu onde estava.
O bedel tomou seu chá até a última gota, terminou um pedaço de torrada, sacudiu as migalhas dos joelhos, limpou os lábios e, deliberadamente, beijou a enfermeira.
– Sr. Bumble! – gritou a senhora com um sussurro. – Então, de uma forma lenta e digna, ele colocou o braço em torno da cintura da enfermeira.
Foi quando houve uma batida apressada na porta. O bedel, com grande agilidade, olhou para as garrafas de vinho e começou a espaná-las, enquanto a enfermeira perguntou rispidamente quem batia.
– Desculpe, senhora – falou uma velha muito magra –, a velha Sally está morrendo.
– Eu não posso mantê-la viva, posso?
– Não senhora – respondeu a mulher. – Ninguém pode, mas, quando fica lúcida, ela diz que tem algo a dizer, que precisa ouvir. Que não morrerá tranquila até que a senhora chegue.
A digna Sra. Corney, enrolando-se em um xale, pediu ao Sr. Bumble que ficasse ali até que voltasse. E foi até o quarto da mulher doente reclamando por todo o caminho.
A conduta do Sr. Bumble ao ficar sozinho foi inexplicável. Ele abriu o armário, contou as colheres de chá, pesou os torrões de açúcar, inspecionou atentamente a leiteira de prata, certificando-se de que era genuína.
Então, esticando-se com as costas para a lareira, começou a inventariar mentalmente a mobília.