CAPÍTULO 13

142 14 1
                                    

Alguns novos personagens são apresentados ao leitor

– Onde está Oliver? – perguntou Fagin, ameaçador. O que aconteceu com o garoto? Desembuchem!

O Sr. Fagin parecia sério demais.

– Os tiras o pegaram, e foi isso – falou Jack com raiva. – Vai descontar na gente, é?

O velho deu um passo para trás e, com mais agilidade do que se esperaria de um homem tão decrépito, pegou um pote e preparou-se para jogar na cabeça de seu adversário. Mas Charley Bates desviou sua atenção com um grito, e o arremesso errou o garoto.

– Que diabos é isso! – gritou uma voz rouca. – Quem jogou aquilo em mim? Demônios, meu lenço está molhado de cerveja! Entre, pequeno verme, não fique parado aí fora como se tivesse vergonha de seu amo!

O homem que rosnou essas palavras era um cara robusto de uns trinta e cinco anos, com a barba por fazer há mais de três dias e olhos sinistros. Um cão branco felpudo, com o focinho arranhado, entrou timidamente na sala atrás dele.

– Deite!

Essa ordem foi acompanhada de um chute que jogou o animal para o outro lado da sala. Ele parecia estar acostumado, pois se encolheu em um canto, sem emitir um som.

– Está maltratando os garotos, velho avarento? – falou o homem ao sentar-se. – Espero que não os mate! Se fosse eu...

– Quieto! Sr. Sikes – falou o velho tremendo –, não fale tão alto!

– Sempre há problemas quando começa assim!

– Ora, ora! – falou Fagin com ares de humildade. – Você parece de mau humor, Bill.

– Talvez esteja – respondeu Sikes. – E devo pensar que você também está aborrecido, a menos que goste de jogar potes nos outros como faz quando fala demais e...

– Está louco? – disse o velho, apontando em direção aos garotos.

O Sr. Sikes contentou-se em fazer um nó imaginário em sua orelha e sacudir a cabeça para o lado, em uma alusão a algo que Fagin parecia conhecer muito bem. Então, em uma linguagem cheia de jargões numa conversa toda partilhada, pediu um cálice de licor.

– E espero que não o envenene – falou o Sr. Sikes.

Isso foi dito num tom de zombaria, mas, se o homem pudesse ver o olhar diabólico do velho quando se virou para o guarda-louça, tomaria cuidado.

Após engolir dois ou três copos de bebida, o Sr. Sikes dignou-se a ouvir os garotos sobre o motivo e a maneira como Oliver havia sido capturado.

– Temo – falou Fagin – que ele diga algo que nos traga problemas.

– É bem possível – respondeu Sikes. – Você está em apuros, Fagin.

– E temo – acrescentou o velho, como se não tivesse notado a interrupção – que poderá ser pior para você do que para mim, meu caro.

Houve uma longa pausa. Cada membro do respeitável grupo parecia estar absorto em suas próprias reflexões.

– Alguém precisa descobrir o que aconteceu no tribunal – falou o Sr. Sikes. – Se não delatou e está preso, não há o que temer até que saia.

O velho balançou a cabeça concordando.

A prudência dessa linha de ação era óbvia, mas, infelizmente, havia um obstáculo muito forte: os quatro cultivavam profunda antipatia pela ideia de ir a uma delegacia.

Então Bet e Nancy chegaram, e o assuntou ganhou um novo caminho.

– Isso! Bet irá, não é, querida? Só até a delegacia – falou Fagin de forma persuasiva.

Oliver Twist (1838)Onde histórias criam vida. Descubra agora