O encontro mantido
O relógio da igreja mostrava onze horas e quarenta e cinco minutos quando duas silhuetas apareceram na Ponte de Londres. Uma era a de uma mulher que olhava ansiosamente em volta, como se procurasse por alguém. A outra era de um homem que se escondia nas sombras e sincronizava seu passo com o dela.
Era uma noite muito escura.
A garota andou algumas vezes pela ponte, para cima e para baixo, sem parar, observada de perto pelo homem, quando o pesado sino de St. Paul informou o fim de mais um dia.
Não havia se passado dois minutos quando uma jovem dama acompanhada por um cavalheiro grisalho desceu de uma carruagem e andou em sua direção.
– Tenho medo de falar com vocês aqui – disse Nancy. – Venham, descendo as escadas!
Os degraus apontados pela garota ficavam na margem de Surrey, no mesmo lado da ponte onde ficava a Igreja de Saint Saviour. Para esse ponto, o homem com aparência de camponês correu sem ser visto e, após observar o lugar, começou a descer.
Essas escadas fazem parte da ponte. Consistem em três lances. Bem abaixo do final do segundo lance, a parede de pedra à esquerda termina em um pilar ornamental de frente para o Tâmisa. Ali os degraus mais baixos se alargam de modo que uma pessoa nesse ângulo da parede está necessariamente fora da visão de qualquer um que esteja nas escadas de cima. O camponês esgueirou-se para o lado, com as costas para a pilastra.
Tão lentamente passou o tempo, que considerou o assunto por encerrado. Estava pronto a sair de seu esconderijo quando escutou o som de vozes bem próximas.
– Aqui está bom – falou a voz do cavalheiro. – Por que nos trouxe até este estranho lugar?
– Eu lhe disse – respondeu Nancy – que tinha medo de falar lá em cima.
– Seja gentil com ela – disse a jovem ao seu acompanhante. – Parece precisar disso.
– Oh, querida senhorita, por que aqueles que se dizem amigos de Deus não são tão bondosos e gentis com pobres diabos como nós do jeito que você é? – gritou a garota.
– Bom – falou o cavalheiro. – Esta jovem me informou o que lhe disse há umas duas semanas. Confesso que tive dúvidas, mas agora acredito firmemente. E digo-lhe sem reservas que pretendemos extorquir o segredo, seja ele qual for, desse Monks. Mas se... se... – continuou o homem – não conseguirmos que seja preso, você precisará entregar o Judeu.
– Fagin? – falou a garota encolhendo-se. – Isso eu não vou fazer!
– Pode me dizer por quê?
– Por uma razão – respondeu firmemente. – Nenhum deles se virou contra mim embora pudessem ter feito.
– Então – falou o homem rapidamente –, coloque Monks em minhas mãos e deixe-me lidar com ele.
– E se ele entregar os outros?
– Prometo que nesse caso, se ele falar a verdade, eles sairão impunes.
– Monks nunca vai descobrir como vocês ficaram sabendo o que sabem? – indagou Nancy.
– Nunca – garantiu o homem.
Explicou minuciosamente a localização do lugar, a melhor posição para observar e a noite e hora em que Monks costumava frequentá-lo.
– Ele é alto – falou a garota – e bem forte, mas não robusto. Seu rosto é escuro como seu cabelo e olhos. Os lábios dele estão quase sempre sem cor ou desfigurados com marcas de dentes porque tem ataques desesperados e... O que está olhando? – perguntou a garota subitamente.
– Desculpe – ele falou e pediu que prosseguisse.
– Parte disso, eu soube de outras pessoas, porque só o vi duas vezes. Ah! E ainda – ela acrescentou –, em sua garganta, quando ele vira o rosto, é possível ver sob o lenço de pescoço uma...
– Uma grande marca vermelha, como uma queimadura? – disse o cavalheiro.
– Você o conhece! – falou Nancy.
A jovem dama deu um grito de surpresa, e, por alguns momentos, eles ficaram calados.
– Acho que sim – falou o homem quebrando o silêncio. – Vamos ver. Talvez não seja o mesmo.
Quando falou isso, deu um passo ou dois mais para perto do espião oculto, de forma que este claramente ouviu o homem murmurar. "Só pode ser ele!"
– Você nos deu um auxílio valioso, minha jovem – ele disse. – O que posso fazer por você?
– Nada – respondeu Nancy.
– Isso é inaceitável – disse o homem. – Não digo que temos o poder de lhe oferecer paz de espírito, mas um lugar tranquilo aqui na Inglaterra ou em algum país estrangeiro. Você precisa ser posta fora do alcance de seus antigos parceiros e deixar-nos apagar os seus rastros. Venha enquanto há tempo e oportunidade!
– Não senhor – respondeu Nancy após uma rápida batalha interna. – Fui longe demais para voltar atrás... Preciso ir para casa.
– Esta bolsa – gritou Rose. – Aceite-a, por mim. Para que tenha algum recurso numa hora de necessidade.
– Não – disse Nancy. – Não fiz isso por dinheiro. Mas... me dê algo que use: gostaria de ter alguma coisa... suas luvas ou lenço... algo que eu possa manter comigo e que foi seu. Isso. Deus lhe abençoe!
Rose Maylie hesitou, mas o cavalheiro a levou embora. Quando desapareceram, a garota encolheu-se quase completamente em um dos degraus de pedra e chorou.
Após um tempo, levantou-se e subiu a rua. O atônito ouvinte saiu de seu esconderijo e foi embora a toda velocidade.