Perseguição e fuga
Perto daquela parte do Tâmisa onde a igreja de Rotherhithe se confina, fica o mais sujo e mais estranho dos muitos locais escondidos em Londres, desconhecido, mesmo de nome, da maior parte dos habitantes da cidade.
Nessa vizinhança fica a ilha de Jacob, cercada por um pântano de seis a oito pés de profundidade e quinze ou vinte de largura quando a maré está cheia, conhecido, no tempo em que se passa esta história, como Folly Ditch. Todos os indícios repulsivos da pobreza, toda indicação de sujeira, podridão e lixo. Tudo isso ornamentava as margens de Folly Ditch. Para buscar refúgio na ilha, é preciso ter fortes motivos para residir secretamente ou não ter qualquer condição para viver em outro lugar.
Em um andar superior de uma dessas construções, fortemente resguardada por portas e janelas, estavam reunidos três homens, que permaneciam em profundo silêncio há um bom tempo. Um deles era Toby Crackit; o outro, o Sr. Chitling; e o terceiro, um ladrão de cinquenta anos, de nome Kags.
– Quando pegaram Fagin?
– Na hora do almoço. Charley e eu tivemos sorte de sair pela chaminé. Bolter entrou de cabeça naquele galão de água vazio, mas as pernas dele eram tão longas que ficaram para fora, então o pegaram.
– E Bet?
– Ela foi ver o corpo – respondeu Chitling – e ficou louca, gritando e batendo com a cabeça nas paredes. Então eles a colocaram numa camisa de força e levaram para o hospital.
– E o jovem Bates? – perguntou Kags.
– Está andando por aí e não virá antes de escurecer. – falou Chitling. – Não há para onde ir. As pessoas do Cripples estão todas sob custódia.
– A sessão está aberta – falou Kags –, e, se eles interrogarem Bolter, podem provar que Fagin foi a causa, e ele balançará daí a cinco dias.
Um barulho foi ouvido nas escadas, e o cachorro de Sikes entrou na sala.
– Ele não pode vir aqui – falou Toby.
– Dê um pouco de água que o cão está esgotado – comentou Kags, parando para examinar o animal.
– Ele... (ninguém chamava o assassino pelo nome) teria acabado consigo mesmo? O que acha? – perguntou Chitling.
Toby balançou a cabeça.
– O cachorro nos levaria até o lugar – respondeu Kags – Não. Acho que saiu do país e deixou o cão para trás.
Essa opção parecia ser a mais provável.
Estava escuro, a persiana fechada, e uma vela acesa foi colocada sobre a mesa. Os terríveis eventos dos dois últimos dias haviam marcado os três, e ficaram prestando atenção a qualquer som. De repente, ouviram o barulho de batidas apressadas na porta lá embaixo.
– Jovem Bates – falou Kags.
A batida foi repetida. Não. Não era ele. Ele nunca batia daquele jeito.
Crackit foi até a janela e colocou a cabeça para fora, tremendo. Seu rosto pálido foi o suficiente para dizer quem era.
– Temos de deixar ele entrar.
Crackit desceu até a porta e retornou seguido pelo fantasma de Sikes.
Nenhuma palavra dita. Quando sua voz rouca quebrou o silêncio, os três assustaram-se. Pareciam nunca ter ouvido aquela voz antes.
– O jornal diz que Fagin foi pego.
– É verdade.
Ficaram em silêncio novamente.