Sendo oferecido em outro lugar, Oliver entra na vida pública
Em boas famílias, quando o jovem não consegue um lugar vantajoso, é costume enviá-lo para o mar. O conselho, imitando esse exemplo, resolveu despachar Oliver Twist em um pequeno navio mercante o mais rápido possível.
O Sr. Bumble tinha sido enviado a fazer pesquisas preliminares sobre a questão e voltava ao abrigo para comunicar o resultado de sua missão, quando encontrou no portão o Sr. Sowerberry, o agente funerário.
Ele era um homem alto e magro. Seus traços não condiziam com o jeito sorridente.
– Acabei de tirar as medidas de duas mulheres que morreram noite passada, Sr. Bumble.
– O senhor ficará rico, Sr. Sowerberry – disse o Sr. Bumble.
– O senhor acha? Os preços permitidos pelo conselho são muito baixos.
– Assim como os caixões – replicou o bedel com um meio sorriso.
O Sr. Sowerberry achou graça e riu por um bom tempo sem parar.
– Ora, Sr. Bumble – falou finalmente. – Não há como negar. Desde que o novo sistema de alimentação começou, os caixões ficaram mais estreitos e mais rasos, porém precisamos ter algum lucro.
– Ora, todo negócio tem seus inconvenientes. Um lucro justo é permitido, claro.
– Claro, claro – replicou o comerciante. – E, se eu não fizer o meu lucro sobre um ou outro artigo em particular, faço-o a longo prazo. He! He! He! Embora eu deva observar – continuou – que as pessoas gordas vão primeiro. Elas estiveram em melhor situação e pagaram impostos, e são as primeiras a afundar quando entram na casa. E aqueles oito ou dez centímetros a mais podem causar um rombo nos lucros.
O Sr. Bumble decidiu mudar de assunto, e o tema mais fresco em sua mente era Oliver Twist.
– A propósito – falou –, conhece alguém que queira um garoto? Um aprendiz paroquial.
Enquanto falava, o Sr. Bumble levantou sua bengala para apontar a nota presa ao portão e bateu três vezes sobre as palavras "cinco libras", impressas em tamanho gigante.
– Puxa! – exclamou o agente funerário. – Era exatamente sobre isso que queria lhe falar. Sabe que eu pago uma taxa para os pobres.
– Sim! – disse o Sr. Bumble. – E?
– Bem – retrucou o agente funerário –, estava pensando que se pago tanto em benefício deles, tenho o direito de explorá-los o máximo, Sr. Bumble, então acho que vou pegar o garoto para mim.
O Sr. Bumble levou o homem para dentro do prédio. O Sr. Sowerberry ficou em uma sala fechada com o conselho por cinco minutos e decidiu-se que Oliver deveria ir com ele naquela tarde "como experiência", o que significava que se o garoto lhe rendesse mais lucros do que o seu custo de alimentação, o Sr. Sowerberry ficaria com ele definitivamente para fazer o que quisesse.
Quando Oliver foi levado perante o "cavalheiro" naquela mesma tarde e informado que à noite passaria a ser ajudante do construtor de caixões, ouviu em silêncio e, com a trouxa nas mãos (que era leve, já que tudo o que possuía cabia em uma caixa de papelão de quinze centímetros quadrados por um centímetro de altura), cobriu os olhos com o boné e, mais uma vez segurando o casaco do Sr. Bumble, foi levado para um novo lugar de sofrimento.
Quando chegaram perto do destino, o Sr. Bumble achou por bem conferir se o garoto estava apresentável.
– Oliver! Tire o boné dos olhos e erga a cabeça.
O Sr. Bumble viu a lágrima rolar pela bochecha do garoto. E foi seguida de outra, e outra. O menino fazia um enorme esforço, mas não conseguia segurá-las, então cobriu o rosto com as duas mãos, e chorou.
– Ora! – exclamou o Sr. Bumble – Ora! De todos os garotos ingratos e problemáticos que eu conheci, Oliver, você é o...
– Não, senhor – soluçou Oliver. – Eu quero ser bom, de verdade, senhor! Sou muito pequeno e tão... tão...
– Tão o quê? – perguntou o Sr. Bumble com espanto.
– Tão sozinho, senhor! – chorou o menino. – Todo mundo me detesta. Ah, senhor! Não brigue comigo!
O Sr. Bumble fitou por alguns segundos o olhar indefeso de Oliver com algum espanto. Então mandou Oliver secar os olhos e ser um bom menino.
O agente funerário, que tinha acabado de fechar as janelas de sua loja, estava fazendo algumas anotações em seu livro diário, quando o Sr. Bumble entrou.
– Ah! – disse o homem levantando os olhos do livro. – É você, Bumble?
– Ninguém mais, Sr. Sowerberry – respondeu o bedel. – Trouxe o garoto.
Oliver fez uma reverência.
– Sra. Sowerberry, teria a bondade de vir aqui um momento, querida?
A Sra. Sowerberry veio de uma pequena sala atrás da loja. Era uma mulher pequena, magra, com um olhar maléfico.
– Minha querida – disse o Sr. Sowerberry –, este é o menino do abrigo, do qual lhe falei.
Oliver se inclinou novamente.
– Querido meu! – respondeu a mulher. – Ele é muito pequeno.
– É pequeno – respondeu o Sr. Bumble. –, não posso negar, mas crescerá, Sra. Sowerberry.
– Ah! Sim – respondeu a senhora com um tom rabugento –, com nossa comida. Não vejo proveito nas crianças da paróquia. Custa mais mantê-las do que valem. Mas os homens acham que sabem tudo. Ei! Vá para baixo, pequeno saco de ossos. – A esposa do agente funerário abriu uma porta lateral e empurrou Oliver escada a baixo, para uma cela de pedra, escura e úmida, que era a antessala do depósito de carvão e que também era chamada de "cozinha". Lá encontrava-se uma garota maltrapilha.
– Ei, Charlotte – disse a Sra. Sowerberry, que tinha descido –, dê a esse garoto os restos que guardamos para o Trip. Ele não voltou, então ficará sem. O garoto não vai se incomodar, vai, menino?
Oliver respondeu que não. E um prato cheio de restos de carne foi colocado à sua frente.
– Ora – disse a mulher do comerciante quando Oliver terminou o jantar –, acabou?
Não tendo nada mais comestível ao seu alcance, Oliver respondeu que sim.
– Então, venha comigo – falou, pegando um lampião e subindo as escadas. – Sua cama é sob o balcão. Suponho que não se incomode de dormir entre os caixões. Mas não importa se tem medo, pois não há outro lugar. Venha, não vou esperar a noite toda!
Oliver não demorou e humildemente seguiu sua nova senhora.