Contém novas descobertas e mostra que surpresas, assim como infortúnios, nunca vêm sozinhas
A situação dela era, na verdade, a de um julgamento de dificuldade incomum.
Se por um lado sentia-se ansiosa em desvendar o mistério da história de Oliver, precisava manter a sagrada confiança que aquela mulher havia depositado nela.
Permaneceriam em Londres por apenas três dias antes de seguirem para uma parte distante da costa. Agora era a meia-noite do primeiro dia. O que poderia ser feito em quarenta e oito horas? Ou como seria possível adiar a viagem sem despertar suspeitas?
O Sr. Losberne estava com elas, mas Rose conhecia sua impetuosidade. Pelo mesmo motivo precisaria de enorme cuidado ao relatar aquilo para a tia, cujo primeiro impulso seria discutir o assunto com o ilustre doutor. Por um momento ocorreu-lhe a ideia de procurar Harry, mas isso despertou a lembrança de seu último encontro e pareceu-lhe insensato chamá-lo de volta.
Perturbada por todas essas reflexões, inclinando-se para uma decisão, depois para outra, e novamente desistindo de todas, Rose passou a noite sem dormir. E, após pensar muito, chegou à conclusão desesperada de consultar Harry.
Estava considerando e reconsiderando a primeira linha de sua carta quando Oliver, que estava andando pelas ruas com o Sr. Giles, entrou na sala com tamanha agitação que parecia sinalizar um novo motivo de preocupação.
– O que o deixou tão agitado? – perguntou Rose indo ao seu encontro.
– Oh céus! Você poderá confirmar que contei a verdade! – respondeu.
– Nunca duvidei – disse Rose acalmando-o. – De quem você está falando?
– Eu vi o cavalheiro – falou Oliver derramando lágrimas de alegria. – O Sr. Brownlow. Saindo de uma carruagem e entrando numa casa. Ele não me viu, mas Giles perguntou se ele morava ali, e disseram que sim. Olhe aqui – continuou abrindo um pedaço de papel. – É onde ele mora. Estou indo lá agora!
Rose leu o endereço e decidiu conferir.
– Rápido! – ela disse. – Diga-lhes para preparar uma carruagem. Apenas avisarei à minha tia que sairemos.
E em pouco mais de cinco minutos, estavam a caminho. Rose deixou Oliver na carruagem e, enviando seu cartão pelo empregado, pediu para encontrar-se com o Sr. Brownlow sobre um assunto muito importante. O empregado retornou solicitando que ela o acompanhasse até a sala no andar superior.
– Ora! – falou o cavalheiro com grande educação. – Sente-se, por favor.
– Sr. Brownlow, eu creio? – falou Rose.
– Este é o meu nome – ele respondeu. – Este é o meu amigo, Sr. Grimwig. Grimwig, poderia nos deixar por alguns minutos?
– Eu creio – interrompeu a Srta. Maylie – que neste ponto não será preciso. Se estou corretamente informada, ele está ciente do assunto sobre o qual desejo lhe falar.
O Sr. Brownlow inclinou a cabeça.
– Mas, como o senhor demonstrou grande bondade certa vez a um amigo meu muito querido – começou Rose –, tenho certeza de que estará interessado em saber dele. Oliver Twist, foi como o conheceu.
Mal as palavras haviam escapado dos lábios dela, o Sr. Grimwig, que parecia entretido com um livro que estava sobre a mesa, soltou um grande assovio.
O Sr. Brownlow não estava menos surpreso. Puxou a cadeira para mais perto da Srta. Maylie e disse:
– Faça-me um favor, minha cara senhorita, de deixar fora de questão essa bondade que mencionou e deixe-me saber. Permita-me assegurar-lhe que esgotei todos os meios ao meu alcance para descobrir seu paradeiro.