CAPÍTULO 39

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Mostra como Monks e Fagin associaram-se

Na noite seguinte ao encontro relatado no capítulo anterior, o Sr. William Sikes, acordando de um cochilo, rosnou sonolento, querendo saber as horas. O quarto não era o mesmo onde estivera antes da expedição a Chertsey, embora se localizasse na mesma parte da cidade.

O assaltante estava deitado na cama, enrolado em seu grande casaco branco, aparentando um estado cadavérico de doença. O cachorro estava ao lado da cama. Sentada perto da janela, ocupada em cerzir um velho colete do ladrão, estava uma mulher, tão pálida e magra pela privação que seria difícil reconhecê-la como a mesma Nancy que já apareceu nesta história.

– Um pouco mais de sete – disse ela. – Como se sente, Bill?

– Fraco como a água – respondeu o Sr. Sikes. – Aqui, dê-me a mão e ajude-me a sair desta maldita cama.

A doença não havia melhorado o temperamento do homem. Quando a garota o levantou e o colocou na cadeira, murmurou diversas pragas sobre sua inabilidade e deu-lhe um tapa.

– Por que está chorosa? – disse Sikes. – Venha! Não fique aí choramingando.

– Não é nada – ela respondeu jogando-se na cadeira. – Não precisa se preocupar comigo. Logo estará acabado.

– O que estará acabado? – gritou o Sr. Sikes de um jeito selvagem. – Que maluquice você está aprontado agora? Levante-se e mexa-se. E não me venha com essas bobagens de mulher.

Em qualquer outro momento, essa ameaça e o tom com que foi feita teriam surtido o efeito desejado, mas a garota estava realmente fraca e exausta, e desmaiou. Sem saber o que fazer nessa emergência incomum, já que os ataques histéricos da Srta. Nancy eram em geral violentos, o Sr. Sikes chamou por socorro.

– Qual o problema aqui, meu caro? – disse Fagin olhando para dentro do quarto.

– Ajude a garota – respondeu impacientemente. – Não fique aí parado!

Com uma exclamação de surpresa, Fagin correu para ajudar.

– Abane-a um pouco, Charley – disse o Sr. Dawkins –, e bata nas mãos dela, Fagin, enquanto Bill desaperta a anágua.

Nancy gradualmente recobrou a consciência e, cambaleando até a cadeira ao lado da cama, afundou o rosto no travesseiro, deixando o Sr. Sikes com os recém-chegados.

– Que vento dos diabos os trouxe até aqui? – perguntou para Fagin.

– Nenhum vento diabólico, meu caro, já que o diabo não traz nada de bom. Trapaceiro abra o pacote e entregue a Bill as pequenas bobagens em que gastamos todo o nosso dinheiro.

Obedecendo ao pedido, o Astuto desamarrou o pacote, que era grande e feito com uma velha toalha de mesa, e foi entregando a Charley Bates, um a um, os artigos que ali estavam contidos. Este, por sua vez, foi dispondo-os sobre a mesa, tecendo elogios à sua raridade e excelência.

– Sinta a torta de coelho, Bill – exclamou o garoto –, com chá verde, açúcar mascavo, pães frescos, um pedaço do melhor queijo Glocester e, para completar tudo isso, um pouco do melhor que você já bebeu!

Mestre Bates tirou de um de seus profundos bolsos uma grande garrafa de vinho cuidadosamente arrolhada, e o Sr. Dawkins, no mesmo instante, encheu um copo, que o doente virou sem hesitação.

– Ah! – disse Fagin. – Você vai ficar bom, Bill.

– Ficar!? – exclamou o Sr. Sikes. – O que significa deixar um homem neste estado por mais de três semanas, seu vagabundo?

Oliver Twist (1838)Onde histórias criam vida. Descubra agora