O resultado insatisfatório da aventura de Oliver e uma conversa importante entre Harry Maylie e Rose
Quando os moradores da casa, atraídos pelos gritos de Oliver, correram até o quarto, encontraram-no pálido e agitado, apontando na direção dos prados atrás do chalé e mal conseguindo articular as palavras: O Judeu! O Judeu.
Harry Maylie, que ouvira de sua mãe a história de Oliver, entendeu de imediato.
– Em que direção ele foi? – perguntou pegando um pedaço de pau.
– Naquela – respondeu Oliver apontando para o caminho que o homem havia tomado.
– Então, estão no fosso! – falou Harry. – Sigam-me! – E, dizendo isso, pulou o muro e correu.
Giles o seguiu e Oliver também. E, em questão de um minuto ou dois, o Sr. Losberne pulou o muro para segui-los com mais agilidade do que se esperaria dele, que queria saber qual era o problema.
A busca foi em vão. Não havia nem traços de pegadas recentes.
– Só pode ter sido um sonho, Oliver – falou Harry Maylie.
– Oh, não, senhor – respondeu o menino tremendo pela simples lembrança do rosto do velho. – Vi os dois, tão claramente como estou vendo o senhor agora.
– Quem era o outro? – indagaram Harry e o Sr. Losberne juntos.
– O mesmo que me atacou de repente na pousada – falou Oliver. – O mais alto pulou bem ali, e o velho correu um pouco mais para a direita e pulou por aquela falha.
Os dois homens olhavam Oliver atentamente enquanto ele falava e pareciam satisfeitos com a precisão do que dizia. Ainda assim, não havia qualquer sinal de que os tais malfeitores tivessem corrido para qualquer direção.
– Isso é estranho! – comentou Harry.
– Estranho? – ecoou o doutor. – Nem mesmo Blathers e Duff poderiam fazer nada.
Apesar da evidente inutilidade da busca, não desistiram até que o cair da noite lhes tirasse as esperanças.
No dia seguinte, uma nova busca foi efetuada e mais perguntas foram feitas, mas sem melhor resultado. Após alguns dias, o caso começou a ser esquecido e, como acontece com a maioria dos casos quando nada ocorre para alimentá-los, acabou morrendo.
Enquanto isso, Rose deixara o quarto e podia ficar mais tempo com a família, alegrando o coração de todos.
Mas, embora essa feliz mudança tivesse um efeito visível no pequeno círculo, a Sra. Maylie e seu filho conversavam a sós por longos períodos e, mais de uma vez, Rose pareceu chorar. Depois que o Sr. Losberne marcou a data para seu retorno a Chertsey, esses sintomas aumentaram e ficou evidente que algo estava acontecendo.
Finalmente, numa manhã, quando Rose estava sozinha na sala de desjejum, Harry Maylie entrou.
– O que vou dizer já deve ter sido notado por você – disse o jovem puxando uma cadeira para perto dela. – Conhece os desejos do meu coração, embora ainda não os tenha ouvido dos meus lábios.
Ela apenas fez uma reverência e esperou que ele prosseguisse.
– Eu... eu... deveria ter ido embora antes – falou Harry. – Fui trazido aqui pelo medo de perder alguém querido, em quem estão fixados meus profundos desejos e esperanças.
Havia lágrimas nos olhos da garota enquanto essas palavras eram ditas.
– Uma criatura – ele continuou apaixonadamente –, uma criatura tão pura e inocente quanto um anjo tremulou entre a vida e a morte. Oh! Rose, saber que você estava morrendo foi quase grande demais para suportar. Eram meus os desejos egoístas de que você não deveria morrer sem jamais saber o quão devotamente eu a amo. Vi você sair da quase morte para a vida, com olhos que estão cegos de profunda afeição. Não me diga que gostaria que eu tivesse perdido isso.
– Apenas queria que tivesse voltado para os altos círculos nobres, em busca de objetivos mais dignos para você – falou Rose chorando.
– Nada é mais valoroso do que a luta para ganhar o seu coração – respondeu o jovem pegando a mão dela. – Rose, minha querida! Há anos... anos... eu busco meu caminho para a fama, apenas para voltar orgulhosamente e dizer-lhe que o fiz para compartilhar com você. Mas agora, com nenhuma fama conquistada, eu ofereço-lhe o coração que há tanto tempo é seu.
– Seu comportamento sempre foi bom e nobre – falou Rose controlando as emoções. – Mas deve me esquecer. Tenha outro tipo de paixão por mim, pois serei a amiga mais confiável e verdadeira que jamais terá.
– E as suas razões, Rose? – falou em voz baixa.
– Você tem o direito de saber – respondeu Rose. – É um dever que preciso cumprir. Eu devo isso a mim mesma, assim como aos outros.
– A si mesma?
– Sim, Harry. Devo isso a mim. Eu, uma garota sem dotes, com uma mancha sobre o nome. Devo isso a você e a sua família, para evitar que tenha esse grande obstáculo em seu caminho.
– Então você corresponde o meu amor? – falou Harry.
– Se eu pudesse, sem fazer um grande mal àquele que amo – retrucou Rose –, eu teria...
– Teria recebido esta declaração de modo diferente? – perguntou Harry.
– Pare! – falou Rose soltando a mão. – Por que devemos prolongar esta dolorosa conversa? Adeus, Harry! Como nos encontramos hoje, não nos encontraremos mais, apenas em outras situações. A perspectiva à sua frente é brilhante. Todos os grandes talentos e ligações poderosas que podem ajudar os homens na vida pública estão ao seu dispor. Mas essas pessoas são orgulhosas, e eu não vou querer me misturar com alguém que despreza a mãe que me deu a vida, nem trarei desgraça ou fracasso ao filho de quem supriu tão bem o lugar daquela mãe.
– Uma palavra mais, Rose – falou Harry inclinando-se sobre ela. – Se meu destino fosse uma vida obscura e tranquila... você teria me aceitado?
– Não me obrigue a responder – falou Rose.
– Oh, Rose, em nome do meu ardente e duradouro apreço – retrucou Harry –, responda a esta única pergunta!
– Então, se eu pudesse ajudá-lo e confortá-lo em qualquer lugar de paz e tranquilidade, e não ser uma mancha e um empecilho em seu caminho de ambição e fama – respondeu –, reconheço que seria muito mais feliz.
– Peço-lhe apenas mais uma coisa. Digamos que em um ano, ou um pouco antes, eu venha lhe falar sobre esse assunto pela última vez. Se você ainda estiver firme em sua decisão, não tentarei mudá-la.
– Então que seja – respondeu Rose.
Ela estendeu a mão. Mas o jovem a abraçou e, dando-lhe um beijo na testa, saiu da sala.