Sobre o magistrado Sr. Fang e uma mostra de seu modo de aplicar a justiça
O crime fora praticado perto de uma delegacia muito conhecida. Havia um pequeno pátio onde o policial entrou com Oliver, e ali estava um homem robusto com um molho de chaves na mão.
– O que temos agora?
– Um ladrãozinho – respondeu o policial.
– O senhor é quem foi roubado? – perguntou o homem das chaves.
– Sim, sou eu – respondeu o cavalheiro. – Mas não estou certo de que é esse o garoto e prefiro não prestar queixa.
– Agora tem que ser perante o magistrado, senhor – falou o homem. – Sua excelência estará disponível em meio minuto. Venha, jovem candidato à forca!
Isso era um convite para que Oliver entrasse numa cela, onde foi revistado e nada foi achado com ele.
O cavalheiro parecia quase tão triste quanto o garoto. Olhou para o livro que tinha sido a causa de toda essa confusão.
– Há algo no rosto do menino – pensou alto. – Algo que me intriga. Será inocente? Ele parecia... meu Deus. Onde já vi aquele olhar?
Depois de pensar por alguns minutos, o cavalheiro andou até uma antessala que se abria para o pátio e ali, se recolhendo em um canto, buscou em sua mente por rostos que os anos o fizeram conhecer.
– Não, só pode ser imaginação.
O cavalheiro não conseguia lembrar-se de ninguém que tivesse os traços de Oliver.
Sentiu um toque no ombro. O homem das chaves o chamava a comparecer perante a imponente presença do renomado Sr. Fang, um homem severo de rosto sério.
Era uma sala grande, e o Sr. Fang sentava-se atrás de um púlpito na parte superior, ao lado de uma espécie de cercado, onde o pobre Oliver já estava tremendo de terror.
O cavalheiro inclinou-se respeitosamente e, avançando sobre a mesa do magistrado, disse:
– Este é o meu nome e endereço, senhor.
Então deu um passo ou dois para trás educadamente, esperando ser interrogado.
Acontece que o Sr. Fang estava lendo um artigo no jornal da manhã que alertava sobre alguma recente decisão sua. Ficara irritado e olhou para cima com raiva.
– Quem é você? – perguntou.
O cavalheiro apontou, com surpresa, seu cartão.
– Oficial! – falou o Sr. Fang, jogando o cartão e o jornal para longe com desprezo. – Quem é esse camarada?
– Meu nome, senhor – respondeu o homem –, é Brownlow. Permita-me perguntar o nome do magistrado que insulta gratuitamente uma pessoa respeitável, sob a proteção da lei.
– Oficial! – falou o Sr. Fang. – Do que ele é acusado?
– Não é acusado, excelência. É o queixoso contra este menino.
Sua excelência sabia disso, mas era uma forma de aborrecer o homem.
– Queixoso contra o menino, não é? – disse examinando o Sr. Brownlow. – Que preste juramento!
– Antes de prestar juramento, peço licença para dizer uma palavra. É que na verdade eu nunca teria acreditado...
– Cale-se, senhor! – ordenou o juiz.
– Não, senhor! – respondeu o cavalheiro.
– Como ousa desafiar um magistrado? – disse o Sr. Fang.