CAPÍTULO 51

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A explicação para mais de um mistério e uma proposta de casamento sem dote ou dinheiro

Os eventos narrados no último capítulo tinham acontecido havia apenas dois dias quando Oliver se viu em uma carruagem seguindo para sua cidade natal. A Sra. Maylie, Rose, a Sra. Bedwin e o bom doutor estavam com ele. O Sr. Brownlow seguia em um outro veículo acompanhado de uma pessoa cujo nome não fora mencionado.

Ele e as duas senhoras haviam sido informados pelo Sr. Brownlow sobre a natureza das afirmações que tirara à força de Monks, mas o assunto ainda estava envolto em muita dúvida e mistério.

Viajavam em silêncio. Ninguém disposto a dar voz a pensamentos que passavam pela cabeça de todos.

– Olha lá! – gritou Oliver batendo na mão de Rose e apontando pela janela. – Aquele é o degrau onde eu subi, os muros onde me escondi! Lá longe é o caminho que leva até a casa onde fiquei quando era pequeno! Ah, Dick, meu amigo. Se eu pudesse vê-lo!

– Você o verá logo – respondeu Rose segurando as mãos dele.

– E nós vamos... – falou Oliver. – levá-lo embora, e vesti-lo e ensiná-lo, e o mandar para algum lugar tranquilo no campo onde possa crescer forte e bem... Podemos?

Rose acenou "sim", pois não conseguiu falar.

– Ele me disse "Deus te abençoe", quando eu fugi – gritou o garoto cheio de emoção –, e eu agora mostrarei quanto o amo por isso!

Conforme aproximavam-se da cidade, começou a ficar difícil controlar o menino. Lá estava a agência funerária de Sowerberry, a carroça de Gamfield, o abrigo... Lá estava quase tudo como se ele tivesse ido embora ontem e como se toda a sua vida recente fosse apenas um sonho feliz.

Os carros foram diretamente para a porta do melhor hotel, onde o Sr. Grimwig os esperava. O jantar estava preparado e os quartos prontos, e tudo havia sido organizado como em um passe de mágica.

Mas quando a excitação da primeira meia hora passou, caiu sobre eles o mesmo silêncio que prevaleceu durante a viagem.

Finalmente, quando bateu nove horas, o Sr. Losberne e o Sr. Grimwig entraram na sala seguidos do Sr. Brownlow e de um homem que quase fez Oliver gritar de susto. Disseram-lhe que era seu irmão, mas era o mesmo em quem esbarrara na cidade e que estava com Fagin quando o viu na janela de seu quarto de estudos: Monks. O Sr. Brownlow, com alguns papéis nas mãos, andou até a mesa.

– Esta é uma tarefa dolorosa – falou –, mas estas declarações que foram assinadas em Londres perante muitos cavalheiros precisam ser repetidas aqui.

– Seja rápido – disse Monks virando o rosto. – Não me prenda aqui.

– Esta criança – falou o Sr. Brownlow apontando Oliver – é seu meio-irmão, o filho ilegítimo de seu pai, meu amigo Edwin Leeford, com a jovem Agnes Fleming, que morreu dando-lhe a vida.

– Sim – disse Monks. – Esta é a criança bastarda.

– Ele nasceu nesta cidade – continuou o Sr. Brownlow.

– A história está aí – e apontou para os papéis.

– Preciso confirmar isso aqui também – disse o Sr. Brownlow olhando para os ouvintes.

– Então ouçam! – continuou Monks – O pai dele ficou doente em Roma e foi acompanhado pela minha mãe, de quem estava separado havia muito tempo e que saiu de Paris me levando com ela... Ele nem percebeu a nossa presença, ficou dormitando até o dia seguinte, quando morreu. Encontramos em sua mesa dois papéis datados da noite em que ficou doente, em um envelope endereçado a você – olhou para o Sr. Brownlow. – Algumas poucas linhas e uma observação do lado de fora dizendo que não deveria ser encaminhado até que tivesse morrido. Um dos papéis era uma carta para essa garota Agnes, e o outro, um testamento.

Oliver Twist (1838)Onde histórias criam vida. Descubra agora