CAPÍTULO 22

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O assalto

– Alô! – gritou uma voz rouca assim que colocaram o pé na casa.

– Mostre a luz, Toby – falou Sikes trancando a porta.

– Barney, uma luz! Você ouviu? Bill Sikes está na porta sem ninguém para ajudá-lo, e você dormindo aí – gritou a voz.

– Zenhor Sikes! – exclamou Barney. – Ente, senhor, ente.

Entraram em uma sala escura com uma lareira, onde um homem estava deitado com as pernas para cima, fumando um cachimbo de barro: era o Sr. Crackit.

– Bill, meu garoto! – falou. – Ei!

Fazendo essa exclamação em tom de surpresa, enquanto seus olhos encaravam Oliver, o Sr. Toby Crackit perguntou quem era.

– Apenas o garoto! – respondeu Sikes.

– Um dos abrendizes do Fagid – explicou Barney.

– Ah, do Fagin! – exclamou Toby olhando para Oliver. – Que garoto valioso será para as bolsas das velhas senhoras nas igrejas! Vai lhe render uma fortuna.

– Ei, ei, chega disso – interrompeu Sikes impacientemente. – E, se nos der alguma coisa para comer e beber enquanto esperamos, será bom. Sente-se perto do fogo, menino, e descanse, porque vai sair conosco novamente hoje à noite.

Tendo Sikes saciado seu apetite, os dois homens deitaram-se nas cadeiras para um rápido cochilo. Oliver ficou no banquinho perto do fogo. Barney, enrolado em um cobertor, se esticou no chão bem perto da lareira.

Oliver caiu em um sono pesado e então foi despertado por Toby Crackit, que declarava ser uma e meia.

Sikes e seu companheiro envolveram o pescoço e queixo em grandes xales escuros e vestiram seus enormes casacos. Barney, abrindo um armário, trouxe diversos objetos, que colocava nos bolsos deles.

– Os trabucos, faixas, chaves, brocas, lanternas, nada esquecido? – perguntou Toby.

– Vamos! – falou Sikes esticando a mão.

Oliver colocou sua mão mecanicamente na que Sikes esticara.

– Pegue a outra mão dele, Toby – mandou Sikes. – Vá olhar, Barney.

O homem foi até a porta e voltou informando que estava tudo tranquilo. Os dois ladrões saíram, com Oliver entre eles.

Cruzaram a ponte e seguiram em direção às luzes que viram antes. E logo chegaram a Chertsey. Apressaram-se através da rua principal da pequena cidade, que, àquela hora da noite, estava completamente deserta. O sino da igreja tocou duas horas. Então, após andar cerca de um quarto de milha, pararam em frente a uma casa cercada por um muro. Toby Crackit pulou o muro num piscar de olhos.

– Agora o garoto – falou.

Antes que Oliver tivesse tempo de olhar em volta, Sikes pegou-o sob os braços e, em três ou quatro segundos, estava do outro lado do muro com Toby. Em seguida, Sikes pulou. E esgueiraram-se em direção à casa.

Então, pela primeira vez, Oliver, quase louco de terror, entendeu que arrombamento e roubo, talvez até assassinato, eram os objetivos da expedição. Uma névoa surgiu diante de seus olhos, o suor frio correu pelo seu rosto sujo, seus membros faltaram-lhe e caiu de joelhos.

– Levante-se! – sussurrou Sikes com raiva, tirando a pistola do bolso.

– Oh! Pelo amor de Deus, deixe-me ir e morrer no campo – chorou Oliver. –Nunca vou chegar perto de Londres, nunca! Oh, por favor, não me faça roubar.

O homem engatilhou a pistola, mas Toby, tirando-a dele, tapou a boca do garoto com a mão e puxou-o para perto da casa.

– Silêncio! – disse. – Aqui, Bill, abra a veneziana. Ele está muito assustado, deixe que eu cuido.

Sikes pegou o pé de cabra com raiva, mas sem fazer barulho. Após um tempo, e com alguma ajuda de Toby, a janela cedeu. Era uma pequena janela de treliça, a cerca de um metro e meio do chão nos fundos da casa, que levava a uma copa.

– Agora ouça, seu moleque – sussurrou Sikes tirando uma lanterna do bolso. – Vou colocar você por aqui. Pegue esta luz, suba com cuidado os degraus logo à sua frente e ande por um pequeno corredor até a porta da rua. Destranque e deixe-nos entrar.

Toby se posicionou bem firme, com a cabeça contra a parede abaixo da janela e as mãos nos joelhos, fazendo de suas costas um degrau. Sikes, subiu e colocou Oliver suavemente pela janela: primeiro os pés, então, sem soltar seu colarinho, o pousou seguramente no chão, dentro da casa.

Sikes, apontando para a porta da rua com o cano da pistola, o avisou para prestar atenção, porque se vacilasse, cairia morto na mesma hora.

– Só leva um minuto – disse Sikes com o mesmo sussurro. – Vou soltá-lo. Ouça!

– O que foi isso? – sussurrou o outro homem.

Ouviram atentamente.

– Nada – falou Sikes soltando Oliver. – Agora!

No curto espaço de tempo que teve para recobrar os sentidos, o garoto resolveu que, mesmo morrendo na tentativa, faria um esforço para subir a escada do corredor e alertar a família. Com essa determinação, foi em frente, mas furtivo.

– Volte! – gritou subitamente Sikes em voz alta. – Volte!

Assustado com a repentina quebra do silêncio mortal do lugar, Oliver deixou a lanterna cair, sem saber se avançava ou fugia.

Uma luz apareceu. A visão de dois homens no topo da escada. Um clarão. Um barulho alto. Uma fumaça. Um estampido. E ele cambaleou para trás.

Sikes desapareceu por um instante, mas voltou e pegou-o pelo colarinho antes que a fumaça se dissipasse. Atirou com sua pistola contra os homens, que já estavam recuando, e puxou o garoto.

– Aperte bem o seu braço – falou Sikes enquanto o puxava. – Eles atingiram o garoto. Rápido! Como sangra!

Então veio um toque de sino, misturado com o barulho de armas de fogo, gritos de homens e a sensação de ser carregado sobre um terreno irregular a passos rápidos. E então, os barulhos tornaram-se confusos e distantes e uma sensação de frio mortal penetrou no coração do menino. E ele não viu ou ouviu mais nada.

Oliver Twist (1838)Onde histórias criam vida. Descubra agora