Um assunto breve e que talvez seja importante para esta história
Era um quarto no sótão, onde uma luz fraca queimava em um canto. Havia uma mulher ao lado da cama. O aprendiz de boticário da paróquia estava em pé perto do fogo.
– Noite fria, Sra. Corney – falou o jovem quando a enfermeira entrou.
– Realmente muito fria, senhor – ela respondeu.
A mulher doente gemeu.
– Oh! – falou o jovem como se tivesse esquecido a paciente. – Está perto do fim, Sra. Corney. Se ela durar umas duas horas, ficarei surpreso. É um colapso total do sistema.
E, desejando um bom trabalho à Sra. Corney, o jovem saiu na ponta dos pés.
Depois de ficarem algum tempo em silêncio, as duas mulheres levantaram-se e, encolhendo-se frente ao fogo, começaram a conversar em voz baixa.
– Anny querida, ela falou mais alguma coisa enquanto eu estava fora? – perguntou a mensageira.
– Nem uma palavra – respondeu a outra.
Enquanto estavam distraídas, a chefe, impaciente, juntou-se a elas perto do fogo e perguntou quanto tempo ainda teria de esperar.
– Não muito, senhora – respondeu uma delas. – Nenhuma de nós espera muito pela morte. Paciência!
– Martha, ela já esteve desse jeito antes? – falou a chefe severamente.
– Com frequência – respondeu.
– Mas não acontecerá de novo – acrescentou a outra. – E só acordará mais uma vez. Preste atenção, senhora, que não será por muito tempo!
– Muito ou pouco – disse a patroa de mau humor –, não me encontrará aqui quando acordar.
Ela estava saindo quando um grito das duas mulheres, que, agora, estavam de frente para a cama, a fez voltar. A paciente tinha se levantado e esticara os braços em sua direção.
– Quem está aí? – ela gritou com uma voz quase inaudível. – Eu vou contar a ela. Venha mais perto!
Ela agarrou a enfermeira-chefe pelo braço e forçou-a a sentar-se na cadeira ao lado da cama. Olhou ao redor e viu as duas mulheres inclinando-se para ouvir também.
– Mande-as embora – falou. – Rápido!
Ao serem excluídas, elas gritaram pelo buraco da fechadura que a velha Sally estava bêbada.
– Agora, preste atenção – falou a moribunda. – Aqui, nesta mesma cama, eu cuidei de uma jovem. Ela deu à luz um menino e morreu. Deixe-me pensar, qual foi mesmo o ano?
– Não importa o ano – falou a impaciente enfermeira. – O que tem ela?
– Ah... – murmurou a doente. – O que tem ela? O que tem... eu sei! – gritou. – Eu roubei-a! Ela ainda não estava fria... quando roubei.
– Roubou o quê, por Deus? – gritou a enfermeira-chefe.
– A única coisa que tinha. Ela precisava de roupas e comida, mas o mantinha seguro, perto do peito. Era de ouro! Ouro que poderia ter-lhe salvo a vida!
– Ouro! – ecoou a senhora inclinando-se. – Prossiga: quem era a mãe? Quando foi?
– Ela pediu-me para mantê-lo seguro – respondeu a mulher com um suspiro – e confiou em mim. E a morte da criança, talvez, esteja na minha conta. Eles a teriam tratado melhor se soubessem de tudo!
– Soubessem o quê? – perguntou a outra. – Fale!
– O garoto ficou igual à mãe – disse a mulher divagando –, e eu nunca consegui esquecer. Pobre garota! Era tão jovem! Espere, há mais. Não contei tudo, contei?
– Não, não – respondeu a enfermeira tentando entender as palavras, que vinham cada vez mais fracas. – Rápido.
– A mãe – falou –, a mãe sussurrou ao meu ouvido que, se o bebê sobrevivesse: Seja menino ou menina, que tenha alguns amigos que ajudem uma criança sozinha e abandonada à mercê deste mundo turbulento.
– E o nome do garoto? – perguntou a enfermeira.
– Eles chamaram-no de Oliver – respondeu fracamente. – O que eu roubei era...
– Sim, sim... o quê? – gritou a outra.
Mas, segurando a coberta com as duas mãos, a velha apenas murmurou alguns sons indistintos e caiu, sem vida, na cama.
– Morta – falou uma das mulheres, quando a porta foi aberta.
– E não disse nada – respondeu a chefe indo embora despreocupadamente.
As outras duas, aparentemente ocupadas demais com suas obrigações, não responderam e ficaram sozinhas rodeando o corpo.