Faz uma apresentação dos moradores da casa onde Oliver se refugiou
Em uma bela sala estavam sentadas duas senhoras em uma mesa de desjejum bem servida. O Sr. Giles, vestido com um completo traje preto, cuidava delas.
Uma das damas era bem avançada nos anos e sentava-se de forma imponente, com as mãos cruzadas na mesa à sua frente. Seus olhos estavam atentamente voltados para sua jovem companheira.
A mais jovem era uma linda flor na primavera da feminilidade. Era como se os anjos pudessem assumir formas mortais para cumprir os propósitos de Deus.
Não tinha mais de dezessete anos. Criada em molde tão leve e requintado, tão delicada e gentil, tão pura e bela, tinha um sorriso aconchegante e alegre.
– Brittles já saiu há uma hora, não foi? – perguntou a senhora.
– Uma hora e doze minutos, madame – respondeu o Sr. Giles, consultando um relógio de prata que puxou do bolso.
– Ele sempre é lento – observou a senhora.
– Brittles sempre foi um garoto lento, madame – comentou o empregado.
– É imperdoável se ele parar para brincar com qualquer garoto – disse a jovem sorrindo.
O Sr. Giles estava considerando se seria apropriado dar um sorriso respeitoso, quando um trole passou pelo portão. Dele, pulou um homem gordo, que, ao entrar correndo na sala, quase derrubou o Sr. Giles e a mesa juntos.
– Nunca ouvi tal coisa! – exclamou o cavalheiro. – Minha querida Sra. Maylie... santo Deus... no silêncio da noite... eu nunca ouvi tal coisa!
Com essas expressões de condolências, o cavalheiro apertou as mãos das duas damas e, puxando uma cadeira, perguntou como estavam.
– Vocês poderiam ter morrido – falou o cavalheiro. – Por que não mandou me chamar? Tão inesperado! No silêncio da noite!
O doutor parecia especialmente incomodado com o fato de o assalto ter sido inesperado, e de que a tentativa tenha sido durante a noite, como se fosse costume dos cavalheiros no mercado de arrombamento cuidarem dos negócios à tarde, e marcarem hora, pelo correio, com um dia ou dois de antecedência.
– E você, Srta. Rose? – falou o doutor.
– Oh! Muito bem, obrigada – ela o interrompeu. – Contudo, há uma pobre criatura que a tia gostaria que o senhor visse.
– Ah! Certamente – respondeu o médico –, que seja. Foi obra sua, Giles, eu entendo.
O Sr. Giles, que estava colocando as xícaras de chá no lugar, corou e disse que tinha tido a honra.
– Onde está ele? Mostre-me o caminho – disse o médico. – Volto aqui quando descer, Sra. Maylie. Foi por aquela pequena janela que ele entrou? Bem, eu não conseguiria acreditar!
O Sr. Losberne, um médico da vizinhança, conhecido em um raio de dez milhas como "o doutor", era tão gentil, bondoso e excêntrico como pode ser um velho solteirão.
O doutor ausentou-se por muito mais tempo do que poderia prever. Uma grande caixa foi retirada do trole, um sino de quarto tocava com frequência e os serviçais corriam para cima e para baixo o tempo todo. Finalmente ele retornou e, em resposta às perguntas ansiosas sobre o paciente, olhou muito misteriosamente e fechou a porta com cuidado.
– Esta é uma coisa extraordinária, Sra. Maylie – falou o doutor, de costas para a porta, como se quisesse mantê-la fechada.
– Ele não está em perigo, espero? – perguntou a senhora.
– Não acho que ele esteja – respondeu o doutor. – A senhora viu o ladrão? Não ouviu nada sobre ele?
– Não – ela respondeu.
– Perdão, madame – interrompeu o Sr. Giles –, mas eu estava prestes a lhe contar quando o dr. Losberne chegou.
O fato era que o Sr. Giles ainda não havia sido capaz de aceitar o fato de que tinha atirado em um menino.
– Rose quis ver o homem – falou a Sra. Maylie –, mas eu não permiti.
– Hum! – retrucou o doutor. – Tem alguma objeção em vê-lo na minha presença?
– Se for necessário, certamente não.
– Eu acho que é necessário – falou o doutor. – E tenho certeza de que a senhora ficará profundamente arrependida se adiar isso. Ele está tranquilo agora. Permita-me, Srta. Rose? Não há nada a temer, dou-lhe minha palavra!