Capítulo 3 - Manuela

2.2K 501 153
                                    


Larguei a mão dele e plantei meus pezinhos doloridos no chão imundo do posto de gasolina, esperando uma resposta.

- Sim é claro, mas antes você quer me explicar por que você ficou maluca!?

- Como assim? Você com certeza está me confundindo, eu só estava comprando tranquilamente na lojinha de conveniência.

Ele me encarou com seus grandes olhos escuros. Me dei conta que eram bonitos. Bem bonitos.

- Sim, eu percebi. Completamente sozinha, duas da manha, com um carro chamativo e um vestido curto.

- E agora você por acaso é a patrulha da moda?! Eu não sabia que agora é crime vestir Prada. E deixe de ser machista.

Ele revirou os olhos e me olhou sem acreditar.

- O que você obviamente não sabia é que enquanto você fazia compras despreocupadamente numa loja de conveniências num posto de gasolina às duas da madrugada, aqueles cinco caras bêbados e mal-encarados estavam planejando te encurralar atrás do posto assim que você saísse e fazer deus sabe o que.

- Como assim, como você sabe?

- Por que eu estacionei logo depois de você e ouvi eles conversando. Ah, e esse anel enorme no seu dedo também não ajudou em nada.

Olhei surpresa para minhas mãos. Além da aliança, o único anel que eu usava era o diamante solitário obsceno de tão gigantesco que eu ganhara de noivado do meu agora ex marido João Guilherme.

De fato, pensando em retrospecto, era meio óbvio que aquela joia gigantesca ia chamar a atenção de qualquer pessoa que pusesse os olhos nela. Talvez não tivesse sido a melhor ideia do mundo descer sozinha num posto no meio do nada, de madrugada, usando vestido curto e anel exclusivo de diamantes da Cartier.

- Bom, muito obrigada senhor...?

- Me chame de Pedro. Ainda não cheguei na idade de senhor.

Num golpe rápido, tirei o anel do dedo, junto com a aliança. Já usava há tanto tempo que não tirava em nenhuma ocasião, era como se fizessem parte do meu corpo. Senti uma leve dor, como arrancar realmente um pedaço do coração na unha. No local, apenas uma marca redonda onde o sol não tinha queimado. E no peito um buraco do tamanho do Grand Quenion

Deixei os anéis na palma da minha mão, mirando-os com tristeza. A vontade de chorar subiu feito um foguete pelo meu corpo. Mas eu me segurei para não dar vexame.

Precisava da minha família. Agora.

Subi olhar para o desconhecido Pedro. Ele me olhava curioso.

Peguei a mão dele e coloquei os anéis bem no centro.

- Toma. Fica de recordação da doida que você salvou num posto de gasolina de madrugada.

Ele arregalou os olhos para os anéis e depois pra mim.

- Moça, você bateu a cabeça?

- Pode me chamar de Manuela. E não, eu não bati a cabeça. Eu só não quero eles mais. Bom Pedro, foi um prazer, mas como você disse são duas da manhã e eu preciso ir pra casa.

Virei bem princesa, obstinada em chegar no meu carro, plugar o carregador no carro e encaixar no celular, ligar o waze e chegar em casa.

- Moça, onde você acha que você vai?

Parei de andar e me virei surpresa. Oi?

- Para casa, onde mais?

- São duas da manhã. Você pelo menos faz a menor ideia de onde você está?

Café com LeiteOnde histórias criam vida. Descubra agora