Capítulo 13 - Pedro

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A sala de reuniões do nosso escritório ainda tinha cheiro de tinta fresca – alguns poucos tons de cinza, masculino e minimalista. As cadeiras giratórias de couro foram compradas de segunda mão e reformadas de um escritório de contabilidade. Começamos o empreendimento de forma precária na sala de estar da avó do Rodrigo, e só recentemente conseguimos nos mudar para aquela sala comercial no centro de São Paulo.

Nós dois tínhamos um puta orgulho daquele escritório. E do trabalho, do sangue e do suor, que só há pouco tempo começava a dar um lucro mais expressivo.

Elvira era nossa secretária,  mas também cuidava das finanças e da contabilidade com mão de ferro. Afinal, nós dois éramos de humanas e bastante avesso a contas. 

Ela nos conhecia como a palma da sua mão. Ela na verdade tinha sido minha professora de matemática no primário, e eu tenho certeza que ela daria chibatadas nos alunos se pudesse, bem no estilo dos colégios internos de 1930. Foi uma ideia brilhante oferecer a ela o emprego, e sinceramente esse escritório dependia muito mais da experiência dela do que a minha e a do Rodrigo juntas.

Dessa forma, eu senti meu estômago despencar no chão quando ela entrou na sala atrás do Rodrigo, com uma cara muito contrariada.

Não tinha ninguém que eu tinha mais medo no planeta terra inteiro do que da Elvira. E mesmo o Rodrigo, com toda aquela pose dele, também morria de medo dela.

A mulher era mais baixa que Manuela, e mesmo assim imponha o respeito de uma atiradora de elite treinada para matar.

Nem eu entendia como.

Fechei os olhos e respirei fundo. La vinha problema. Mais problema.

Engraçado como encontrar Manuela Morales Diniz aleatoriamente  num posto de gasolina de beira de estrada estava fazendo um ótimo trabalho em colocar minha vida de cabeça para baixo.

- Então, Pedro, tem mais ou menos uns quarenta minutos que recebemos uma ligação interessante de um cliente seu. Aquela ação tributária de ICMS de uma empresa de sapatos, lembra?

Lembro perfeitamente. Foi um dos primeiros clientes que eu peguei que pagaram honorários acima dos cinco dígitos. Tomei um porre de uns três dias com o Rodrigo.

Apesar de ser advogado doutorado em direito civil, mais especificamente em direito de família, eu logo percebi que bons advogados de família tinham um bom domínio em direito empresarial e tributário, já que muitos problemas de família, em especial relacionados com divisão de bens (divórcio, herança, filiação, etc), dependiam profundamente de conceitos de direito tributário e empresarial. Então comecei a domina-los, o que trouxe bons clientes para o escritório. Mas meu talento ainda reside na delicada bagunça do direito de família.

- Sim Rodrigo, lembro muito bem. Consegui ganhar para eles uma bolada do fisco em repetição de indébito e créditos tributários. Mas a ação ainda está correndo. O que que tem?

- Bom, o chefe deles ligou querendo falar com você. Como não conseguiu, ele deixou recado com a Elvira.

Me virei na direção dela. Ela não estava nem um pouco feliz.

Merda.

- Bom, Pedro, simplificando, eles exigem que, para que você continue a ação em curso com eles, você deve cortar quaisquer laços profissionais e pessoais com a família Morales Diniz.

Senti que todos os meus órgãos internos estavam entrando em luta livre. Não era uma sensação agradável, eu garanto.

- Eles explicaram o por que dessa exigência, Elvira?

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