Capítulo 6 - Manuela

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- Você por acaso anda me seguindo, criatura?

Definitivamente era esquisito encontrar ele novamente, ainda mais nesse fim de mundo. Ou ele estava me seguindo ou aquilo era uma coincidência muito doida.

- Eu poderia de fato estar te seguindo. Com essa roupa esquisita, você não é muito difícil de identificar. Porém, parece que é você quem anda me seguindo, senhorita Manuela.

Senti o ódio fermentar no fundo da garganta. Roupa esquisita é o cacete.

Ok, de fato eu não estava no meu dia mais elegante da vida. Eu ia matar a Paula por me enfiar nessa roupa pavorosa. Mas quem era aquele caipira para me dizer alguma coisa?!

- Eu tenho mais o que fazer do que seguir gente doida, senhor Pedro.

Ele riu com vontade. Olhando com a luz do sol, eu podia analisa-lo com mais detalhe. Era um homem alto, de pele bem bronzeada, cabelos castanhos encaracolados e olhos muito escuros. A barba que descia por seus maxilares dava um ar másculo ao rosto anguloso. Usava uma calça jeans e uma camiseta, com uma jaqueta de couro por cima. Tinha uma risada contagiante, mesmo que debochada.

Tive a repentina impressão de já conhecê-lo de algum lugar, em algum canto muito distante da memória. Mas a impressão passou, tão rápido quanto veio.

- Quer carona? Você parece meio perdida. Alias, bateu a cabeça de novo? Por que você está sempre perdida?

Senti o ódio do signo de pinsher começar a sacudir minhas mãos de raiva. Se eu tivesse qualquer coisa na mão, eu tacava nele. Onde diabos estavam minhas irmãs inúteis?! Elas eram incapazes de chegar na hora?!

- Olha, não estou perdida, estou esperando minha carona. Eu não subiria nessa sua moto nem por todo o dinheiro do mundo. E você faça o favor de parar de me seguir por que eu já tenho problemas suficientes na vida para ainda por cima lidar com um stalker.

- A pobre princesinha do café tem muitos problemas? Coitadinha. Força guerreira.

Levei um susto.

- Como você sabe quem eu sou!? Definitivamente um stalker. E eu não sou nenhuma princesa.

- Por que eu nasci por aqui, e tenho muitos clientes aqui na região, estou inclusive voltando de uma reunião numa fazenda aqui perto. É minha obrigação conhecer as famílias mais influentes. Esqueceu que eu sei onde você mora?

- Clientes? Você é o que por acaso? Revendedor de café?

Ele rolou os olhos, talvez estupefato com a minha pergunta aparentemente estúpida.

- Sim, nas horas vagas. No horário comercial sou advogado.

-Ué. Você definitivamente não parece muito com um advogado.

Novamente aquela risada expansiva. Era um som alto, bonito de se ouvir.

Mesmo que ele estivesse claramente debochando da minha cara.

- Você está vendo muita série da Netflix se acha que advogado fica o dia todo de terno e gravata e andando de porshe.

De fato, na minha cabeça um advogado seria sempre o como o Harvey Specter de suits.

Pedro não tinha nada a ver com Harvey Specter. Tirando talvez as covinhas na bochecha. E o ar debochado.

O que me lembrava uma coisa desagradável. Eu realmente estava precisando de um advogado, já que além de estar precisando de um divórcio, eu aparentemente também estava sendo acusada de violência doméstica.

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