Capítulo 29 - Manuela

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- PUTA QUE PARIU SUA RETARDADA, EU ESTAVA PRESTES A CHAMAR A POLÍCIA!!!!

Minha irmã mais velha definitivamente não estava muito feliz. Paula estava uma mistura entre enfurecida e indignada, e nada seria capaz de conter suas mãos em volta de mim – ainda não estava muito certa se para estrangular ou abraçar.

- Meu deus Paula, o que diabos aconteceu?!

- VOCE NÃO ATENDE O CELULAR, SUA FILHOTE DE CAPETA!!!! VOCE NÃO ESTÁ MAIS NO SEU APARTAMENTO ANTIGO, VOCE SABE QUE TIPO DE BRUXARIA EU TIVE QUE FAZER PRA TE ACHAR?!?!?!

Rapidamente, meu falecido celular meio veio na mente, escondido na gaveta do rapaz que ia consertar ele para mim.

- Meu deus, como você me achou????

Paula meu olhou nos olhos, e algo turvou as bonitas irises azuis. Ela não estava apenas preocupada com meu paradeiro, algo definitivamente a estava incomodando profundamente.

Ela definitivamente não era como eu, uma pessoa agitada que entrava em pânico ao menor sinal de problema. Paula era uma pessoa profundamente racional, e não teria vindo até São Paulo à toa.

Aliás, ela detestava São Paulo. Ela gostava mesmo da zona rural, do cheiro agradável de bosta de cavalo e do gosto de café fresco com caramelo e leite recém tirado de vaca que a Malu fazia.

- Paula, o que aconteceu, está tudo bem???

- Manu, vamos entrar, que tal?

A convidei para entrar no meu alegre apartamento com capinha de renda no bujão de gás e paredes pintadas de cores esquizofrênicas. Paula estava absolutamente horrorizada. Não porque ela era fresca como eu – ela dormiria num estábulo cheio de palha se pudesse, e eu tenho incerteza que ela era incapaz de diferenciar vermelho de marsala – mas sim porque ela simplesmente não acreditava que eu pudesse morar num lugar tão esquisito.

Ela conhecia meu antigo apartamento. A gente tinha pinturas originais do Portinari, pelo amor de deus.

- Manuela, tem certeza que você está bem?

- Estou ótima. Aceita alguma coisa?

A geladeira amarela me olhava desconfiada no canto, como que me desafiando a procurar alguma coisa útil nela.

Obviamente eu não tinha nada de útil na dispensa pra oferecer para a minha irmã. Um rápido olhar me revelou uma garrafa de vinho fechada, escondida atrás da fruteira vazia.

Perfeito.

- Manuela, estamos preocupados. Você morando nesse apartamento no mínimo, esquisito, sozinha. E eu tive que recorrer ao seu ex marido para te achar.

Virei de costas numa chicotada, no meio do movimento de abrir a garrafa.

- O João Guilherme te contou onde eu moro?!

- E você por acaso tem outro ex marido??

Me apressei para abrir logo o vinho. Pelo jeito, eu ia precisar dele.

- Manuela, seu ex marido falou umas coisas esquisitas...

Ah.

Meu.

Deus.

- Paula, o que diabos aquele imbecil te falou?! Você por acaso está acreditando em alguma coisa que sai da boca suja dele?! Eu achei que você estava do meu lado, e não ia falar com ele para o resto da eternidade!

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