Capítulo 1- Sonhos desfeitos

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Olá, pessoal. Aqui estou eu novamente com um novo projeto. E espero que gostem deste primeiro capítulo que desde o princípio mostra a personalidade de um de nosso protagonistas principais. por isso, espero que me enviem seus comentários me dizendo o que acharam. Muito obrigada, e desculpem pelos erros ortográficos.

GILBERT
A manhã era chuvosa e fria, mas Gilbert Blythe não se importou. Ele estava acostumado a esse clima instável, pois Londres, cidade onde vivera nos quatro anos anteriores, exibia esse aspecto úmido diariamente.  Assim, a chuva que caía naquele instante, dando à Avonlea certo ar melancólico, em nada atrapalhou sua caminhada até o trabalho.

Gilbert morava a duas quadras da clínica onde trabalhava como psiquiatra há cerca de um ano, e andar até lá era um hábito que adquirira logo que chegara ali. Isso o ajudava a pensar, a preparar seu espírito para passar as oito horas seguintes ouvindo histórias de almas quebradas e corações partidos. Levadas ao extremo de suas emoções humanas, acabavam desenvolvendo síndromes e doenças psicossomáticas crônicas, que passavam a comandar suas vidas como uma segunda personalidade. A função de Gilbert era fazê-las manter a mente aberta para novas possibilidades de qualidade de vida.

O rapaz amava seu trabalho e escolhera essa profissão por pura paixão. Desde criança, Gilbert se interessava pelos mistérios da alma humana e, quando chegou a época de ir para a faculdade, ele soube que não havia outra coisa que gostaria de fazer na vida além de trazer alento a pessoas internamente destruídas pelas tragédias do mundo e seus complexos interiores.

Ele foi um aluno aplicado e se graduara com louvor. Logo que pegara seu diploma nas mãos, ele já estava trabalhando no maior e melhor hospital psiquiátrico de Londres, primeiro como residente e depois como médico titular, coroando assim uma vida de sucessos e sonhos realizados.

Assim como sua carreira progredia, sua vida amorosa nunca estivera melhor. Entre seu período universitário e conquista de ser um psiquiatra conceituado, Gilbert Blythe namorou, noivou e se casou com a garota que o acompanhara nessa escalada para sua ascensão profissional.

A doce Ruby sempre fora seu sonho de companheira e mulher ideal. Ele a conheceu ainda na adolescência, quando ambos estudavam no colégio de Avonlea.  Após meses cortejando-a, ele a pedira em namoro e nunca mais se separaram. 

Ambos vinham de famílias tradicionais e ricas, e a amizade empresarial de seus pais ajudou muito na aproximação do casal, que após encontros casuais em muitas festas, além do convívio diário na escola, acabaram se apaixonando e em pouco tempo se tornaram a sensação da sociedade local.

Ruby era como um raio de sol. Seus cabelos longos e dourados lhe chegavam até a cintura, seu corpo delicado e de curvas discretas  sempre encantou Gilbert, combinando perfeitamente com sua figura pequena e suave. Seus olhos eram castanhos, e o rosto de pele lisa e sem nenhuma mancha era incrivelmente atraentes, se harmonizando-se  perfeitamente com seus lábios naturalmente rosados.

Quando estavam juntos, Gilbert se sentia a pessoa mais feliz do mundo, porque Ruby tinha u  jeito de transformar qualquer dia ruim em algo glorioso. Pelos anos que viveram juntos, o rapaz não se lembrava de ter deixado de sorrir um único dia. Mesmo depois de casados e ocupado como ele estava com sua vida de médico importante, ela não deixava de ter esse efeito encantador sobre ele.

Eles se casaram no último ano de Gilbert na faculdade e foram morar em Londres, na mesma cidade onde o rapaz cursava psiquiatria. Viveram dois anos incríveis juntos, até que a onda de felicidade que pairava sobre o casal fosse totalmente apagada por um acontecimento mudaria para sempre a vida do jovem Dr. Blythe, que até então somente tinha conhecidoo lado colorido do seu mundo encantado.

Assim, pouco a pouco, Gilbert foi reconstruindo sua vida e descobriu na dor de seus pacientes o antídoto para aplacar a sua. Ele não era mais o homem feliz e cheio de otimismo que fora antes, mas ainda mantinha dentro de si o desejo de ajudar pessoas que sofriam assim como ele e  encontrava em suas tragédias particulares um meio de esquecer, mesmo que momentaneamente, a sua, e seguir em frente para onde quer que tudo aquilo o levasse.

Quase três anos haviam se passado desde que Ruby se fora, e ele ainda cultivava a memória dela como se sua esposa nunca tivesse partido. Sua vinda para Avonlea no último ano fora uma tentativa de escapar de suas lembranças, que como fantasmas não o deixavam em paz.

Seu primo Jerry era administrador do hospital psiquiátrico dali e lhe fizera o convite ao saber por John Blythe, pai de Gilbert,  o tipo de vida que ele estava levando em Londres, e o rapaz vira ali uma oportunidade de recomeçar, e não se arrependia.

Embora adorasse a vida movimentada de uma grande cidade, ele sentia falta da calmaria que uma vida no campo poderia lhe proporcionar. Avonlea tinha um ambiente totalmente rural e também lhe trazia as melhores recordações de sua infância, com seus amigos, seus pais e Ruby. 

A adaptação foi mais rápida do que ele pensara e acabara encontrando velhos amigos que, assim como ele, tinham abraçado a medicina como profissão do coração. Billy Andrews se tornara psicólogo, e Moody encontrara na Cardiologia sua vocação verdadeira.  Ambos trabalhavam no mesmo hospital que Gilbert,  e assim puderam retomar os laços de amizade que tiveram no passado.

Fazia quase um ano que estava de volta, e embora sua vida profissional tivesse seguido novos rumos, a sua vida amorosa continuava tão deserta quanto antes. Após a morte de Ruby, Gilbert não se sentia pronto para um relacionamento sério. Ele ainda amava sua doce esposa, cuja breve existência fora a luz dos seus dias e lhe dera mais amor do que podia se lembrar.

Naqueles dois anos de solteirice, ele não vivera uma vida propriamente de celibatário, mas seus envolvimentos eram apenas superficiais, breves e de comum acordo com ambas as partes. As mulheres com quem saía eram apenas um alento para seus jantares solitários, e se acabavam na cama,  eram apenas por necessidade física. 

Gilbert nunca mais se envolvera sentimentalmente com alguém e se sentia satisfeito dessa maneira. Tinha vinte e cinco anos, uma carreira solidamente construída, bons amigos para tomar vinho nos fins de semana,e encontros casuais sem profundidade. A vida perfeita para um homem que, como ele,  já tivera o melhor de tudo um dia e que amara uma mulher com todo o seu coração, que fora enterrado junto com ela. Portanto, ele sabia que jamais se apaixonaria assim de novo.

Após se desviar de algumas poças de água pelo caminho, evitando que sua capa de chuva ficasse enlameada, Gilbert chegou ao trabalho. Ele cumprimentou alguns colegas nos corredores, passou pela recepcionista,  ignorando completamente seus olhares insinuantes em sua direção e caminhou para o consultório. No entanto,  antes que abrisse a porta, ele ouviu uma voz feminina chamá-lo.  Ao se virar viu que era Josie Pye, enfermeira chefe da psiquiatria com quem Gilbert saíra algumas vezes.

—  Bom dia, Gilbert. Eu queria apenas confirmar nosso jantar de sexta feira.

—  Claro. Vai ser exatamente como combinamos. —  Ela lhe deu um sorriso discreto assentindo, e continuou seu caminho,  enquanto Gilbert entrava em seu consultório agradavelmente silencioso.

Ele gostava de Josie, principalmente porque assim como ele. não estava em busca de um compromisso. Além disso, era uma excelente companhia, bastante inteligente e sempre bem informada sobre tudo o que acontecia no mundo fora dos muros daquele hospital. Conversar com ela  nunca era entediante, pois Josie sabia falar sobre tudo sem que se tornasse enfadonha ou desinteressante. 

Como amante também era incrível. Não tinha um comportamento apaixonado, era prática e sem falsos romantismos, mas sabia dar prazer a um homem que como ele estava apenas em busca desde tipo de atenção e nada mais. Deste modo, o relacionamento informal que tinham era satisfatório para ambos.

Gilbert tirou sua capa de chuva e a deixou em um canto do consultório para secar. Ajeitou os cabelos levemente úmidos, e se sentou em sua mesa para dar uma olhada nas fichas dos pacientes do dia.

 Seu olhar se fixou em uma foto de Ruby em cima de sua mesa, e seu rosto se suavizou ao ver o sorriso que ele tanto amava, assim como seu coração se encolheu dentro do peito ao pensar que nunca mais teria a chance de admirar aquele rosto incrível pela manhã  ou abraçar sua cintura fina que quase cabia em suas duas mãos.

 Ainda com o olhar enterrado na foto e os pensamentos mergulhados no passado,  uma batida na porta o fez voltar a realidade. Ele a abriu e encontrou sua enfermeira auxiliar no corredor, que lhe disse sem rodeios:

— Bom dia, Doutor Blythe. O senhor tem uma nova paciente. — Gilbert pegou a ficha que ela lhe entregava e passou os olhos pelo nome da paciente,  que se chamava Anne Shirley Cuthbert.

Assumindo sua postura profissional costumeira, ele disse:

—  Tudo bem, Irina. Peça a ela que entre.

Broken Hearts-  Anne with an eOnde histórias criam vida. Descubra agora