Capítulo 45

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Encaro a os pingos das chuvas através do vidro. Meu quarto está em silêncio e escuro. Mais uma semana se passou depressa e sem rodeios, confesso que esperava pela recuperação de Mark.

Duas semanas sem ele. Meu aniversário foi bom, passei com as pessoas que amo. Mas e ele?

Naquela noite no hospital, imaginei que estava acordado, com isso conseguir dormir ao seu lado, aconchegada em seus braços. Eu sinto falta desses pequenos detalhes. De tudo. É como se parte de mim estivesse se desfazendo.

Não estou sozinha no apartamento. Meu pai está aqui e confesso que não é tão ruim como imaginei, mas ainda falta algo entre nós. Não é tão fácil concertar o tempo perdido como achei.  Sinto que Owen está se esforçando.

Owen transferiu a sua filial para cá e está trabalhando algumas horas no dia. E Rebeca está simplismente adorando a ideia que ele esta aqui. Com o pretexto que não fique sozinha por muito tempo. Ela está hospedada por alguns dias. 

Fecho os olhos com um pequeno sorriso. A conivência entre eles é ótima e tão... diferente. As vezes sinto que estou atrapalhando algo. Os olhares que trocam com um pequeno sorriso por algo dito, é assustador.

Estou com vinte e sete semanas. Sete meses. E com ideia de Owen, vamos algumas vezes ao parque caminhar e fazer ioga juntos. O médico havia me recomendo antes, mas me considero uma grávida preguiçosa. Mark deu um nome melhor quando tentava me convencer aos exercícios, "grávida sedentária ".  É tão verdade. Não sinto vontade de fazer exercícios. Minhas pernas doem, as costas latejam e sinto uma vontade imensa de sentar. Mas a ioga está sendo mais fácil do que imaginei.

Daqui a cinco dias, é o aniversário de vinte e três anos de, Mark. Jamais imaginaria que fôssemos passar por algo assim, e está cada vez mais complicado não chorar, quando penso na possibilidade dele não acordar.

O médico explicou que o hospital poderá ficar com ele apenas três meses. E se Mark não acordar ou reagir durante esse tempo, será mandado para uma casa de saúde. Especializada nesse tipo de situação. O médico relatou vários casos de pessoas que esperaram anos ou meses para acordar. E se Mark não estiver aqui quando Ramona nascer?

Limpo as lágrimas solitárias que descem por minha bochecha. Não quero pensar nisso, mas o medo me assombra a cada instante, me sufocando.

Estou cansada de ser consumida por  toda essa dor. E se perguntarem sobre isso, não saberei por onde começar.

Levanto com dificuldade. Encaro meu rosto no espelho e molho o rosto com a ponta dos dedos no banheiro.

Sempre achei que tivesse bastante bochecha e não puxei para a minha mãe. Deve ser genética. Toco com a palma da mão e aperto minha pele.

Umedeço os lábios. Balanço minha cabeça e saio do banheiro atônita. Desço as escadas devagar e vou para a cozinha em silêncio.

Corto as fatias de melância, maçã e uva. Fico tentada a não colocar leite condensado e misturar, mas o médico me proibiu. Eu estava fazendo isso antes. Agora está cortado da minha dieta.

--Em? -- Owen entra na cozinha. Levanto o rosto para encara-lo.

-- Oi...

-- Esta se sentindo bem? -- ele pergunta curioso.

-- Só com fome. Geralmente eu comia uma coxinha... essas coisas. Claro que antes de estar grávida. Agora é tudo controlado.

Mordo o lábio contendo minha vontade de sorrir. Despejo as frutas na pequena tigela de porcelana branca e pego uma colher na gaveta.

GRÁVIDA DO MEU AMIGOOnde histórias criam vida. Descubra agora