Capítulo 19

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Valentina

Sentia o vento bater no meu rosto, uma brisa fresca e calma acariciava meus cabelos. Sentia uma paz tremenda naquele lugar, mais eu sentia falta de algo. Era como se faltasse uma parte minha.

Não sei explicar ao certo o que é, me sentia incompleta. Mesmo com todo aquele verde a minha volta, mesmo com toda a paz que aquele lugar me trazia, algo me faltava.

Está certo que eu mal me lembro quem eu sou, mais essa ausência em minha alma era persistente.

- Valentina, venha almoçar! – ouvi a mulher que dizia ser minha mãe, me chamar.

Olhei para ela que estava um pouco longe e fiquei a encarar alguns instantes antes de começar a caminhar rumo a casa.

Já faz algum tempo que eu estou aqui e não sabia exatamente de nada, nem quem eu era e muito menos como chegamos aqui. Não tinha a menor ideia de quem eram aquelas pessoas que hospedavam aquela casa junta a mim.

A única coisa que eu sabia de concreto é que eu havia sido atingida por dois tiros. Um no peito, que por centímetros não acertou meu coração e outro na cabeça.

Esse último era o mais complicado, porque segundo os médicos eu estava viva por Deus. A bala se mantinha alojada na minha cabeça e se ela se movesse por qualquer que fosse o motivo era morte na certa.

Tinha todo um cuidado especial, meus pais não me deixava fazer nada que fosse bruto ou que fosse pesado. Eu aguardava para que pudesse ser operada, enquanto eu estava internada os médicos acharam que por bem, era melhor me manter como estava, com a projétil na minha cabeça. Aquilo ainda me mantinha viva e não havia causado nenhum dano mais grave a não ser a perda de memória e assim tentava de todas as formas preencher o meu tempo vago.

Eu ficava no campo a procura de algo ou alguma lembrança que preenchesse esse vazio enorme no peito.

Mas tudo era em vão, depois de uma semana em coma e uma viagem as pressas para esse lugar. Eu não me lembrava de nada, apenas sonhos.

Eu acordava aos prantos todas as noites, eu via aqueles olhos verdes intensos e fodidamente perfeitos. Eles pareciam enxergar minha alma, era como se aqueles olhos estivesse esperando por algo que eu não sabia exatamente o que era.

Aquele sonho era tão intenso que eu acordava sem ar, com a respiração pesada e chorando de forma descontrolada. Todas as noite eram iguais, eu dormia com minha irmã para que na hora que eu acordasse assustada ela estivesse ali para me amparar. Existia uma preocupação por causa dos meus sonhos, eu via que todos ficavam apreensivos quando eu falava dos olhos verdes que me encaravam.

Porém tudo que era feito não surtia nenhum resultado positivo, só fazia aquela agonia e vazio aumentar ainda mais. O casal que morava naquela casa que diziam ser meus pais, não me davam nenhuma informação, não me contava muita coisa.

Apenas diziam coisas sobre igreja e alguns costumes que aquela família tinha. Via que a mulher tratava aqueles que deveriam ser meus irmãos de uma maneira muito carinhosa.

Era muito diferente da forma que ela me tratava. O sentimento era palpável e eu não fazia a menor ideia do porque a aquela sensação tomava conta do meu coração.

- Você demorou! – meu pai indagou quando adentrei o cômodo em que todos estavam.

- Ela fica perdida no mundo da lua, eu a chamei faz tempo para vir almoçar.

- Desculpa, eu estava no campo... – baixei os olhos sabendo que seria repreendida.

- Sabe que não deve ficar naquele lugar sozinha, não é mesmo?! É perigoso para seu estado atual.

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