Capítulo 44

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Ayla

Eu deveria ter me planejado mais?

Não consigo me conter, nem dá. Certo? A vida acontecia de ma maneira enigmatica, a mais ou menos um ano se me perguntasse qual era minha expectativa para o futuro, eu não tinha.

Eu não me planejava e nem tão pouco me forçava a pensar no futuro. Simplesmente eu vivia um dia de cada vez, sem grandes projeções e nenhuma expectativa. Meu trabalho era meu foco, minha distração e minha válvula de escape, para não me entregar a dor que morava em mim e que tentava todas as manhãs ignorar e afundar ainda mais dentro de mim.

Me esconder era algo que eu havia aprendido a fazer como ninguém, eu, Ayla era expert em me esconder, em esconder meus sentimentos. Eu era o que as pessoas me diziam que eu devia ser.

Foi nessa mentira em que eu encontrei a segurança que eu precisava para continuar vivendo. O fim da minha vida não era uma solução plausível, eu não podia me dar ao luxo de me entregar, por que no meio dessa história triste haviam pessoas que me amavam e que estavam se esforçando muito para me ver bem.

A começar pela minha mãe, Dona Júlia se entregou tanto para me ver altiva novamente que esqueceu de todo o resto, ela simplesmente fechou os olhos para sua volta com medo de perder-me, só que a única coisa que ela não sabia era que eu já não estava mais ali, não como antes. Não tinha nada que eu fizesse que me trazia paz e inocência que me foi tirado naquele dia.

Eu perdi muito mais do que o amor da minha vida, eu perdi a esperança e a crença que às crianças tem na vida. Sem nenhuma força para acreditar que a vida um dia seria tão bela como antes, me entreguei ao automático para que a minha mãe pudesse voltar a viver e enxergar as pessoas que precisavam dela muito mais do que eu, pessoas que podia devolver o amor que ela entregava na mesma intensidade.

Foi só assim que ela notou o quanto minha irmã Anya precisava de ajuda. Essa é meu maior trauma, sei lá.

Até hoje sinto que é minha responsabilidade tudo que minha irmã menor passou, ela passou por algo que criança nenhuma da sua idade deveria passar, ela não deveria passar por tudo aquilo, tanta violência e horror, era obvio que minha pequena precisava de cuidados. Mas as pessoas estavam preocupada demais comigo que esqueceram de enxerga-la, não tarde, mas não cedo o bastante para priva-la de passar por mais situações degradantes.

Anya é minha maior falha, e mesmo eu falhando miseravelmente com ela, minha pequena sempre fez de tudo para me apoiar, até mesmo suportar sua própria dor em silêncio para que toda a atenção se voltasse apenas para mim.

- Porque você não me contou o que estava acontecendo com você? - peguntei a ela quando ficamos as sós.

- Eu não queria te deixar preocupada, não é nada demais, Ayla.

- Nada demais Anya?! - levantei uma sobrancelha inquisidora.

- Eu só precisava me distrair... - ela não me olhava, sempre com os olhos fixos em suas mãos.

- Sei que todos estavam preocupados demais comigo – me aproximei dela – Olha pra mim! -pedi com carinho – Promete pra mim que nunca mais vai fazer essas coisas?

Seus olhos se encheram de lágrimas, seus lábios tremulos tentando com todas as forças não chorar.

- Promete pra mim Anya, que você nunca mais ira usar essas coisas?! Eu estou aqui!! - Sempre estarei e nunca mais deixarei que alguém ou você se machuque, não por minha causa, ok!?

- Ok! - ela concordou com lagrimas em seu rosto.

- Eu te amo! - Abracei minha irmã o mais forte que pude, numa tentativa urgente de passar para ela toda minha verdade e toda a segurança que ela precisava.

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