Uma chuva fina e constante se encarrega de ensopar roupas e cabelos. Com um olhar triste e cansado encaro a lápide com o nome talhado de Constancy Montenegro. Alguém se aproxima do túmulo onde jaz o corpo de minha mãe e para ao meu lado com um guarda-chuva, tentando de alguma forma me oferecer consolo e proteção.
O gramado e o solo do terreno estão escorregadios. Posso sentir os saltos afundando na lama que se forma. Uma última lágrima escorre por meu rosto. Fungo e seco com a manga do casaco.
Um pequeno grupo esteve presente no sepultamento dela. Não temos parentes próximos, apenas poucos e bons amigos que conquistamos na vizinhança e no antigo trabalho de minha mãe.
Deposito um pequeno ramalhete de flores em seu túmulo, balbucio um adeus abafado e coloco as mãos nos bolsos de meu grosso casaco preto começando a caminhar para a saída do cemitério.
Como será agora sem ela? O que farei sozinha? Sempre foi somente nós duas. Meu pai nos abandonou quando eu ainda era pequena. Desde que descobrimos sua doença, adiei o sonho da faculdade e comecei a trabalhar para nos sustentar e pagar as despesas com os tratamentos e medicamentos caros que ela precisava.
Tive sorte de conseguir uma vaga de emprego em uma multinacional conceituadíssima no país. Comecei como trainee há três anos e hoje com vinte e dois anos de idade sou a secretária de um dos diretores da empresa.
No início, me inscrevi para a vaga meio desacreditada de que conseguiria, mas durante o processo seletivo, minhas aptidões e organização com a rotina do escritório começaram a se destacar e chamar a atenção dos encarregados, que me escolheram para ocupar a vaga de secretária executiva de Bartolomeu Fonseca, um dos mais exigentes diretores da Boston Office Corporation, um centro empresarial, que abriga centenas de médias e grandes empresas de ramos diversificados. Existe filiais da Office Corporation em outras grandes cidades norte americanas, além de filiais na Argentina, México e Europa.
Jogo a chave do pequeno apartamento no móvel próximo a entrada. Penduro meu pesado casaco no cabideiro e me jogo no sofá da pequena sala, que agora parece tão espaçosa para apenas uma solitária garota. Chips pula em meu colo. Esse gato da vizinha parece mais meu do que dela. Acaricio seu pêlo malhado e me permito derramar mais lágrimas por não ter minha mãe por perto. Ela foi minha única base. Sempre protetora, conselheira e amiga.
A empresa me garante cinco dias de luto em casa, mas o que eu faria nesses dias sozinha no minúsculo apartamento? No trabalho pelo menos me distraio com as tarefas e tenho Henry, que está sempre ao meu lado para o que der e vier.
Além de sempre me tirar boas risadas com suas atrapalhadas, meu amigo é uma "fera" da informática. Acho que só por isso não perdeu o emprego ainda, porque já aprontou todo tipo de confusão na empresa. Henry é um descendente de sul-coreanos totalmente americanizado, pois veio ainda pequeno com os pais para os EUA, mas apesar de ser um tecnólogo extremamente talentoso e capacitado, na mesma dose é também desligado e estabanado.
Me levanto do sofá e me dirijo para meu quarto. Talvez um banho me ajude a colocar as ideias no lugar. Preciso me sentar e colocar no papel todas as contas que tenho que quitar. Com minha mãe em fase terminal, já nos encontrávamos totalmente mergulhadas em dívidas.
Agora, preciso trabalhar em dobro para pagar todos os gastos com o tratamento, além de me conformar que não terei mais aquela mulher inteligente e forte para me aconselhar e ensinar as coisas da vida. Colocarei em prática tudo o que aprendi com ela e o resto, terei que me virar sozinha...
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Fazenda 3 Irmãos - O Casamento. Vol.2
RomanceBartolomeu e Samantha estão vindo de Boston (EUA) em lua de mel para passarem uma temporada na Fazenda 3 Irmãos. O problema é que ninguém sabe que Bartolomeu, o primogênito da família Fonseca, se casou. Isso porque o casamento foi arranjado. Tudo pl...