Como a segunda vítima tinha exatamente as mesmas características da primeira, Reid chamou os outros da equipe para uma reunião na delegacia. Ele me convidou e eu aceitei, fui para sanar minha curiosidade e observá-los.
Eles divulgaram o perfil do assassino para os policiais presentes. Eu assisti a tudo com muita atenção. Falaram sobre seus possíveis hábitos, seu possível emprego, seu possível método de "caça" e sua maneira de ver as situações ao seu redor. Disseram que provavelmente ele andava sempre armado, uma informação que me deu um calafrio. Temia por mim e por eles. Não queria ver nenhum rosto conhecido na gélida sala ao lado.
Depois da reunião eu estava dispensada até segunda ordem, ou seja, até encontrarem outro corpo - o que nós não queríamos que acontecesse. Fui caminhar nos arredores, sabendo que eles me ligariam caso precisassem. Por sorte, havia uma livraria aberta no final da rua. Ah, uma livraria! Só o cheiro de livro novo já me tranquilizava. Na correria para arrumar minha mala, Will não havia pegado o exemplar de "O vendedor de armas", de Hugh Laurie, que estava na gaveta da cômoda do meu quarto e eu certamente sentiria falta de uma leitura na volta, após toda a adrenalina da viagem.
Sempre amei ler e lia de tudo um pouco: os romances de Jane Austen, as investigações de Sherlock Holmes, as biografias de meus músicos e atores favoritos, os aterrorizantes contos de Edgar Allan Poe... até mesmo os vampiros de L. J. Smith e Stephenie Meyer já havia lido. Com certeza não eram boas leituras para se pensar em ter no momento.
Ao entrar na livraria, me deparei com um lugar pequeno e abarrotado de exemplares de todos os tamanhos e cores organizados em ordem alfabética pelo sobrenome do autor. Fui direto ao "P", buscando livros do Poe - que não poderiam faltar num estabelecimento clássico como aquele. Logo um senhor grisalho e encurvado, com cerca de 70 anos e um sorriso simpático, apareceu para me oferecer ajuda. Percebendo que eu já havia encontrado o que estava procurando, tomada apenas pela indecisão de qual exemplar do autor levar, começou a tagarelar. Ele me contou que a pequena livraria era um negócio de família, herdou de seu pai e agora passava para seu filho. Uma livraria de respeito, disse ele, conhecida em toda a região.
Escolhi a edição cujos contos, em sua maioria, eu ainda não conhecia. Paguei ao idoso simpático e voltei ao necrotério, entrando pela porta da frente, sem passar pela delegacia agitada. Sentei em uma das cadeiras próximas à mesa e abri o livro no conto "Metzengerstein", inédito para mim. Por mais incrível que possa parecer, as palavras sanguinárias de Poe me ajudavam a lidar com a realidade quase tão apavorante quanto as histórias. Elas me ajudavam a enxergar melhor as situações ao meu redor e perceber o grande distanciamento entre realidade e ficção.
Não muito tempo depois, minha leitura foi interrompida pela chegada de outro corpo. Daquela vez eu sabia exatamente pelo que esperar e o que deveria fazer. Quase que instantaneamente, meu telefone começou a tocar. Após constatar que era Reid, atendi:
- Alô?!
- Oi! Sou eu. Tudo bem por aí? Recebeu o novo trabalho? - começou ele, levemente desajeitado.
- Tudo bem. Recebi sim! Vou começar agora mesmo. - eu respondi, tentando parecer o mais animada possível com aquela situação.
- Logo mais eu chego aí, ok? Não quero te preocupar nem nada, mas o assassino foi um pouco mais descontrolado e agressivo nessa última morte. - ele foi baixando o tom de voz e falando cada vez mais rápido - Estamos preocupados com a reação dele em presença de autoridades como a polícia e o FBI. A última vítima caçada era um segurança armado.
- Ah, ok. - eu tentava parecer tranquila - Te espero aqui então. Até logo. - já estava extremamente amedrontada.
- Até logo... - ele disse e desligou.
Eu sempre fantasiava maníacos na sede do FBI, mas agora era diferente. Ali não era fantasia, era a pura realidade. Um assassino que podia a qualquer momento invadir a delegacia e até mesmo o necrotério para fazer o que quisesse, matar quem bem entendesse.
Olhei para meu livro uma última vez e suspirei. Poe não estava ajudando muito naquele momento.
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Um amor inesperado (Criminal Minds)
FanfictionMaggie tem uma vida boa. É jovem, formada em medicina e possui um cobiçado emprego no Federal Bureau of Investigation (FBI), onde atua como legista. Seu sonho é trabalhar com a Behavioral Analysis Unit (BAU) e ajudar o time a traçar perfis de serial...