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Abri os olhos e me deparei com um cômodo estranho e uma cama menor do que a habitual. Não era o que eu estava acostumada a olhar todos os dias ao acordar. Levou alguns segundos até que tudo fizesse sentido na minha cabeça: aquele era o quarto de Spence, a cama dele. Aproximei o nariz do travesseiro e respirei fundo para sentir bem seu cheiro. Mas ele não estava lá, eu estava sozinha.

Tentei resgatar minha última lembrança antes de dormir. Spence falando com a voz baixa que eu devia estar cansada. Nossos corpos muito próximos, quase colados na cama de solteiro. Meus olhos já haviam se fechado, mas ainda pude sentir um beijo em minha testa. E depois nada mais, nenhuma outra lembrança até acordar de manhã, provavelmente por eu estar exausta a ponto de não ter acordado nenhuma vez durante a noite.

Foquei minha atenção para ver se conseguia identificar algum som vindo de fora do quarto. Ouvi passos, mas não tinha certeza se eram de dentro do apartamento ou de algum vizinho. Só tinha um jeito de descobrir: sair do quarto e encarar o dia com a minha melhor cara amassada.

Abri a porta do quarto e a luz do sol que entrava pela janela da sala me cegou por alguns instantes. Spence estava em pé carregando alguns livros. Para minha enorme surpresa, ele já estava vestido e aparentemente pronto para ir trabalhar.

- Hey, bom dia! - ele largou tudo o que segurava e veio em minha direção, segurando meu rosto e dando um beijo delicado.

- Que horas são? Eu estou atrasada? Você precisa ir? - disparei de uma vez só.

- Não, não... Eu acordei mais cedo e decidi ajeitar um pouco as coisas por aqui. Você ainda tem tempo.

No mesmo instante, meu celular começou a fazer barulho em cima da mesinha do abajur da sala, onde eu o havia deixado carregando na noite anterior. Reconheci a música: Lucky, por Jason Mraz e Colbie Caillat, ou seja, meu despertador matinal.

- É, parece que ainda tenho tempo mesmo. - sorri para ele e fui até meu celular para desativar o alarme. Olhei a data no visor e lembrei que era dia de limpeza no necrotério, o que significava que eu começaria a trabalhar mais tarde do que normalmente. Seria ótimo se pudesse ficar mais tempo com Spence, então decidi perguntar - Que horas você tem que ir?

- Não tenho reunião marcada e meus relatórios estão em dia, mas eu estava pensando... acho que JJ tem razão sobre falarmos com Hotch. Quer dizer, ele é o líder da equipe e você tem trabalhado bastante com a gente. Seria bom deixar a situação clara para ele. - Spence disse enquanto eu voltava pra perto dele.

- Claro, sem problemas. - ele não parecia preocupado com isso, então conclui que não deveria me preocupar também.

- Ok, vou marcar hoje ainda pela manhã, pode ser?

- Ótimo. - passei os braços ao redor do pescoço de Spence e ele colocou as mãos na minha cintura - Deveríamos tentar falar com Will também.

Eu tinha certeza de que minha cunhada não falaria para meu irmão. Ela sabia que era eu quem deveria contar. Spence assentiu e franziu a testa. Agora ele parecia preocupado.

- Hey, nada disso, ok? Qual é, é só o Will, vai ser tranquilo! - era impossível não sorrir para a preocupação fofa de Spence - Não se preocupe, de verdade.

Esperei ele concordar e desenrugar a testa. Dei um beijo nele e fui para o banheiro.

No espelho pequeno do banheiro antigo, me enxergava cheia de espuma de creme dental na boca. Meu coque bagunçado de dormir estava caído para o lado, mas não estava estranho ou feio. Meu rosto não estava mais amassado e a água gelada da pia o ajudou a desinchar um pouco. Tentei me afastar para enxergar o máximo possível do meu corpo: vestia apenas uma camiseta azul larga, com o logo do FBI na frente e o nome "REID" atrás. Spence havia me emprestado a camiseta na noite anterior porque eu tinha esquecido de pegar pijama (eu sempre esquecia do pijama quando ia posar fora de casa). A camiseta era enorme para ele e já era velha, mas eu adorei usá-la e a adotaria como minha se ele deixasse. Levei a gola até meu nariz e pude sentir o cheiro dele ali também. Mais um motivo para a adorar.

Saí do banheiro e Spence tinha voltado a mover algumas pilhas de livros. Me aproximei dele, peguei seu braço e o puxei para o sofá de novo, exatamente como havia feito no dia anterior. Fiz com que ele sentasse.

- Você está muito ajeitadinho. Acho que devo te desarrumar um pouco. - eu disse.

Spence me olhou, confuso. Sorri e comecei a beijá-lo intensamente, segurando seu rosto. Me ajoelhei sobre o sofá, de frente para ele. Spence reagiu, colocando as mãos nas minhas costas e me puxando para mais perto dele. Por conta da nossa movimentação, a pilha alta de livros grossos que estava no sofá despencou no piso de madeira, fazendo um barulho semelhante ao de alguém caindo no chão. Mas isso não nos fez parar: ele já começava a sumir minha (sua) camiseta e eu desabotoava a camisa dele.

- Spencer? - uma voz feminina surgiu do corredor do prédio, fazendo com que paralisássemos de susto, seguida de várias batidas na porta - Está tudo bem? É a Natalie.

- Si... sim! - a voz dele falhou - É a vizinha do apartamento de baixo. Ela é policial, eu acho... - ele sussurrou pra mim.

Nos levantamos do sofá. Spence fechou alguns botões da sua camisa que já estavam abertos enquanto eu tentava me esconder em algum canto da sala que não pudesse ser visto da porta.

- Oi! - Spence disse ao abrir a porta, sendo simpático.

- Oi! Desculpe por bater assim, é que eu ouvi um barulho muito alto e fiquei preocupada. Sabe como é, instinto policial.

- Agradeço por ter vindo, mas não há o que se preocupar. Eu só derrubei uns livros ali. - Spence apontou para a bagunça no chão da sala.

Foi durante essa frase que, por algum motivo, meu nariz começou a coçar. Ai, eu sabia o que vinha em seguida. Espirros. Vários em sequência. Uma crise alérgica a algo que não consegui identificar de imediato. Após uns 5 espirros, a crise começou a ceder. Só então eu vi que Spence havia recuado na porta para me olhar e a mulher havia dado alguns passos à frente, fazendo com que eu entrasse em seu campo de visão e ela no meu.

- Desculpem. Olá, eu sou Maggie. - queria me aproximar para ser simpática também, mas mais espirros começaram. Sentia meu rosto esquentar e ruborizar de vergonha. Eu estava em pé, toda bagunçada, só de camiseta, no meio de uma crise de espirros, de frente para uma mulher desconhecida e bonita (como agora eu podia notar).

Ela vestia roupas apertadas de academia, era morena e alguns anos mais velha que eu. Seus olhos eram negros como seu cabelo. Podia-se dizer que ela era meu oposto em quase tudo.

- Eu sou Natalie... - ela respondeu com uma expressão um pouco espantada.

- Você está bem? - Spence me perguntou.

- Sim. Eu vou... para o quarto. Bom conhecê-la, Natalie.

Dei as costas apressada e fui para o quarto de Spence. Assim que entrei, os espirros cessaram. Só então percebi que deveria ser o perfume de Natalie que havia me causado essa alergia chata. Sentei na cama. Podia ouvi-los falando mais algumas coisas na sala. Aparentemente, ela queria puxar assunto, mas Spence não deu muita abertura. Assim que ela foi embora, ele veio até o quarto.

- O que aconteceu? - ele tinha a testa franzida, preocupado mais uma vez.

- Foi só uma crise alérgica. O perfume dela, eu acho...

- Tem certeza? - ele se ajoelhou na minha frente.

Eu assenti. Spence passou a mão na minha testa e tirou uma mecha de cabelo que havia caído ali. Sinalizei para que ele se sentasse ao meu lado. Depois, peguei seu queixo entre meu indicador e polegar, trazendo seu rosto para perto do meu.

- Eu vou no banheiro me... recompor - o certo seria limpar, mas algumas coisas não precisam ser faladas em voz alta - e depois podemos continuar de onde paramos, ok?

Spence concordou e deu um sorriso, aquele sorriso tímido que eu achava tão doce e tão lindo. Eu não podia acreditar que há poucas semanas eu mal tinha reparado nos sorrisos dele, no toque dele, e agora tudo que eu queria era estar em seus braços.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora