Estávamos sentados há mais ou menos dez minutos na sala de Hotch o aguardando. Ele estava atendendo a um telefonema na sala de reuniões. Aqueles minutos pareciam mais longos do que deveriam. A situação de conciliar a vida profissional com a pessoal ainda me incomodava, e era exatamente sobre isso que trataríamos na conversa com Hotch. Apoiei minhas mãos no colo e as encarei por alguns instantes: estavam um pouco trêmulas e suavam frio. Tentei disfarçar, mas é claro que Spence notaria.
- Está tudo bem. Não há nada de errado. - ele tentou me tranquilizar levando uma de suas mãos até as minhas e as apertando de leve.
- Eu sei. Só estou um pouco nervosa. - no mesmo instante em que terminei a frase, Hotch entrou pela porta.
Spence não tirou sua mão das minhas. Pelo contrário, entrelaçou seus dedos nos meus.
- Então, o que os traz aqui? - Hotch fingiu ignorar nossas mãos.
- Estamos aqui para deixá-lo ciente do nosso relacionamento. - Spence disse, sério e calmo, já que eu não conseguia pronunciar nenhuma palavra.
- Eu já estava ciente da existência de uma certa proximidade. Vocês passaram por muitas dificuldades juntos e é natural que uma aproximação ocorra. Afinal, as relações mais verdades surgem em momentos de tensão. Eu, como líder da BAU, não tenho direito algum de interferir na vida pessoal de vocês. Confio profundamente na consciência e competência de ambos para saberem como isso vai afetar seus trabalhos aqui. Sei que saberão lidar com a situação. Fora isso, só posso dizer que desejo muita felicidade para vocês. - um sorriso tímido surgiu no canto dos lábios de Hotch durante essa última frase.
- Obrigado, Hotch. - Spence disse, um sorriso amplo surgindo em sua expressão.
Conforme Hotch falava, meu nervosismo ia cedendo. Foi como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas. Nós estávamos levando para sair quando ele disse:
- Maggie, gostaria que você ficasse para dar sua opinião sobre um caso. - Hotch puxou de uma das gavetas de sua mesa um desses arquivos do FBI.
Spence saiu pela porta e eu sentei novamente. Hotch me passou o arquivo e eu o abri, encontrando várias fotos e relatórios de uma autópsia. Não conheci o nome do legista, o que significava que ele provavelmente não era local. Mas algo me parecia familiar: a vitimologia (eram duas mulheres loiras por volta dos 25 anos), a brutalidade das feridas post-mordem (cortes profundos por todo o abdômen), o exame toxicológico limpo...
- Isso não faz sentido. Por que não consta a causa da morte no relatório? - perguntei.
- Porque não conseguiram achar uma. Tudo aponta para uma overdose, mas todas as drogas testadas deram negativo no exame toxicológico. - essa informação me causou um arrepio.
- Você acha que foi ele? Acha que ele está de volta? - minha voz soou mais firme do que eu sentia.
- Não temos como ter certeza, mas parece ser.
- Vou entrar em contato com o legista responsável e requisitar imediatamente um exame toxicológico novo, dessa vez buscando por metilfenidato.
- Sim, faça isso. O caso não é nosso ainda, não está comprovada a ligação entre essas novas vítimas e as anteriores, principalmente pelas mortes terem ocorrido em jurisdições diferentes. Me avise assim que receber o resultado desses exames. - assenti para Hotch e saí apressada da sala.
Metilfenidato, também conhecido como ritalina, é uma droga comumente usada por adolescentes para ajudar na concentração, mas seu real uso médico é no tratamento de transtornos de déficit de atenção com hiperatividade. Quando utilizada em quantidades muito grandes pode levar a uma overdose de difícil identificação, uma vez que não está entre as drogas que normalmente são procuradas nos sistemas das vítimas em um exame toxicológico padrão. Muitos legistas não detectam isso.
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Um amor inesperado (Criminal Minds)
FanfictionMaggie tem uma vida boa. É jovem, formada em medicina e possui um cobiçado emprego no Federal Bureau of Investigation (FBI), onde atua como legista. Seu sonho é trabalhar com a Behavioral Analysis Unit (BAU) e ajudar o time a traçar perfis de serial...