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Bateram na porta da sala de necropsia e uma frustração enorme tomou conta de mim. Àquela hora da tarde só podia ser minha chefe cobrando relatórios. Para minha surpresa, quem entrou foi Reid. Sorri aliviada. Foi uma surpresa vê-lo ali, já que normalmente ele avisava antes de vir.

Já haviam se passado três semanas desde nossa conversa no parque. Suas visitar eram frequentes, quase sempre que seu trabalho permitia. Algumas vezes falávamos sobre livros, filmes, música (aí um ponto que discordávamos muito: ele ouvia basicamente música clássica) e sobre os casos mais recentes. Mas em grande parte das visitas ele ficava sentado ou apoiado na parede apenas observando.

Eu seguia meu trabalho, agora não mais desconfortável com seu olhar atento sobre mim. Ele se fixava no cadáver e no que minhas mãos faziam. Por vezes perguntava sobre o que eu sabia da vítima e quais eram as circunstâncias da morte. Não entendia exatamente o motivo de ele permanecer tanto tempo ali calado, mas a presença dele não me perturbava - pelo contrário, me agradava muito tê-lo por perto.

- Chegaram mais cedo da viagem? Correu tudo bem? - sabia que eles estariam viajando, JJ me mandou mensagem antes ir.

- Sim, tudo bem! Achei que seria bom passar aqui antes de ir embora, caso não se incomode... - ele pareceu tímido por estar ali.

- Claro que não, fique o tempo que quiser! - eu sorri para ele e voltei ao trabalho.

Depois de alguns minutos de silêncio, tive uma ideia:

- Quer me ajudar? Abra a segunda porta do armário, pegue luvas e um avental. - ele pareceu confuso, mas sua curiosidade era maior. Vestiu-se e foi para o meu lado.

- Ok, preciso que você segure aqui para manter a cavidade aberta. - indiquei que ele segurasse o afastador que estava na minha mão.

Quando passei para ele, nossas mãos cobertas por luvas de borracha se tocaram e fizeram um barulho engraçado. Tive vontade de rir, mas ele parecia concentrado então revolvi não desviar o foco.

- Agora vou tentar recuperar um pedaço da arma do crime que está aqui em algum lugar. - peguei uma pinça e comecei a procurar. Não demorou muito para meu "assistente" ser dispensado.

- Você gostaria de examinar? - perguntei, indicando a cavidade aberta.

Ele me passou o afastador, fazendo o barulho das luvas novamente. Seu corpo ficou todo tenso. Reid passou os dedos por dentro do buraco no corpo e apalpou alguns órgãos internos.

Um tempo depois, retirou a mão e permaneceu em silêncio. Eu estava começando o processo de fechar a cavidade quando ele tirou a vestimenta e finalmente falou:

- Isso foi bastante interessante! Eu sempre gostei de anatomia, leio muitos livros sobre o corpo humano, mas raramente tenho a oportunidade de participar de algo assim. - seus olhos estavam estreitos e fitavam a parede, como se estivesse apenas pensando alto para chegar a uma conclusão.

- Fico feliz por ter gostado e por ninguém ter entrado na sala... - minha chefe sabia das visitas de Reid, mas jamais aprovaria ele mexendo nos cadáveres.

Ele riu timidamente e abaixou os olhos.

- Ah, antes que me esqueça: provavelmente JJ vá falar melhor com você sobre isso, mas parece que Hotch está estudando uma possibilidade de levá-la conosco quando houver necessidade no caso. Tivemos problemas com vários legistas locais, em cidades menores os profissionais são menos experientes e por vezes nem são qualificados.

- Ah, entendo. Que ótimo se ele conseguir, mas devo adiantar que minha chefe é durona quando quer... Hotch terá de usar toda sua persuasão.

- Que a use então. Seria muito bom ter você por perto mais vezes.

Olhei para ele sem jeito e me limitei a sorrir. Seria realmente bom trabalhar mais com eles, estaria bem perto de realizar meu grande sonho de trabalhar com a BAU. Mas também teria de vivenciar mais cenas como aquela na cidade de Eudora, presenciar mais monstruosidades.

Henry veio à minha mente. Eu sabia que conseguiria enfrentar qualquer coisa pensando nele, mas a que custo para mim mesma?

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora