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JJ ficou animada com minha resposta. Ela realmente queria que eu acompanhasse um pouco da rotina da BAU, além de ajudá-los de fato. Will chegou em poucos minutos com uma mala não muito grande de coisas, como ele descreveu "essenciais". Ele me desejou muitíssima boa sorte, repetindo inúmeras vezes para eu ter cuidado e para JJ me cuidar. Logo se despediu, já que tinha de ir trabalhar. Henry havia ficado com uma vizinha que tinha uma filha da sua idade. Perto da noite, após deixar a delegacia, Will iria buscá-lo já pensando nas maneiras de consolá-lo pela ausência da mãe.

Essa era umas das grandes desvantagens da BAU: as viagens para resolver casos podiam durar dias. Era difícil conseguir manter relacionamentos com esse tipo de emprego, imagino como deve ser horrível para JJ ter que ficar longe de Henry sabendo que ele está em casa chorando e pedindo por ela.

Acho JJ teve o esse mesmo pensamento ao entrar no jatinho. Eu estava bastante ocupada em analisar o interior da aeronave - constatar o quão sofisticada e confortável era - , mas ainda assim pude perceber a tristeza nos olhos dela. E, por algum motivo, tive a certeza de que ela sempre ficava com esse olhar após embarcar, sempre pensava em Henry.

Os demais integrantes da BAU logo chegaram. Hotch, Morgan, Rossi, Callaghan e, é claro, Reid. Penelope não viajava com eles, ficava na sede da BAU atrás de seus infinitos computadores com seus dedos a postos e disposta a atender qualquer chamado quando precisassem dela. E já ouvi dizer que precisam muito!

Pelo visto todos já sabiam da minha presença nesse caso, pois ninguém pareceu surpreso ao me ver lá. Todos me cumprimentaram com certa formalidade, como era de costume, com exceção de Reid que me dirigiu um sorriso e um "oi de novo". Só agora eu havia percebido o porquê de tanta pressa ao entrar no elevador hoje mais cedo: ele estava atrasado para a reunião que já havia começado e até mesmo terminado. Sabia que ele não costumava se atrasar, então alguma coisa deveria ter acontecido.

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Logo que o jatinho decolou, Hotch já começou com as explicações:

- Você deve estar muito curiosa do motivo pelo qual está viajando conosco, Dra. LaMontagne.

- Apenas Maggie, por favor. Eu insisto. - disse ao sentir minhas bochechas corarem (algo que acontecia com frequência maior do que gostaria). Me envergonhava facilmente com essas formalidades. Não tinha doutorado para ser chamada de doutora. - Sim, quero muito saber. - respondi, levantando os cantos da boca e simulando um sorriso tímido.

- Ok, Maggie, - disse Hotch sem se mostrar decepcionado por minha falta de aptidão para seu formalismo - nós a chamamos para esse caso por confiarmos em você. Seu trabalho é muito elogiado dentro de sua repartição e de todo FBI. - ele olhou para JJ, como se dissesse que parte dos elogios partiam dela. - Nosso caso é em Eudora, Kansas, uma pequena cidade com cerca de 7.000 habitantes e nenhum médico legista. A polícia local nos informou, ao passar os arquivos do caso, que o antigo legista da cidade pediu demissão e se mudou há poucas semanas, deixando o cargo vago. Eles tentaram contatar profissionais de cidades vizinhas, mas nenhum poderia comparecer. Isso faz com que tenhamos duas vítimas no necrotério e nenhuma informação precisa sobre a maneira como foram tratadas e mortas. Seu trabalho será igual ao que você faz diariamente, apenas em um lugar diferente e com a supervisão de Reid. Tudo bem? - ele falou tudo isso tão rápido que quase me confundi.

- Certo. Prometo que honrarei os elogios e farei o meu melhor. - estava começando a me empolgar com toda essa história doida.

- Então vamos para a vitimologia.

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Eles discutiram mais alguns detalhes sobre o caso, como locais onde os corpos foram deixados e a identidade das vítimas. Mas as informações eram muito escassas mesmo, não havia nem um modus operandi ou uma assinatura específica para orientá-los. A investigação parecia estar só no começo.

Passado o debate, ainda restava algum tempo de voo. Estavam todos em silêncio, sentados nas poltronas confortáveis da aeronave - que se movia sem muita turbulência - , cada um absorto em seu pensamento. Eu fitava um por um tentando descobrir se mais alguém estava assustado com as características há pouco comentadas daquele serial killer ou se era apenas eu. Como eles estavam acostumados com a situação, provavelmente eu era a única com aquele pensamento.

Alguns minutos depois, fui surpreendida por Reid vindo em minha direção e se sentando no assento vazio ao meu lado, no sofá. Ele sorriu para mim novamente, mas agora o sorriso era aberto e não discreto como nas vezes anteriores. E ah, como era lindo aquele sorriso! Acho que nunca tinha o visto assim. Eu sorri em resposta.

- Eu acho que te devo desculpas pela forma como entrei no elevador hoje cedo. - eu balancei a cabeça para os lados, como que negando a importância daquele fato. - Talvez você já tenha se dado conta, mas eu estava atrasado para a reunião. Hotch me passou as informações enquanto JJ conversava com você. - ele deu um suspiro longo enquanto eu o observava com atenção, sem esconder minha curiosidade sobre o que vinha a seguir. - Você sabe, a minha mãe...

- Sim, eu sei. - disse para confortá-lo.

- Ela ainda está na clínica em Vegas e teve um surto ontem à noite, queria deixar o tratamento e seus médicos acabaram me chamando.

- Sinto muito... - me limitei a dizer. Nunca fui muito boa em consolar as pessoas.

- Mas agora está tudo bem, ela se recuperou bem. Pedi para eles me manterem informado sobre seu estado. - durante toda a conversa, Reid alternava seu olhar entre mim e a janela à nossa frente. No momento em que pronunciou essa frase, seus olhos baixaram e sua expressão foi de tristeza profunda. - Eu me sinto mal, sabe, por ser tão ausente.

- Tenho certeza de que faz o seu melhor e ela sabe disso. - segurei sua mão, que estava apoiada no sofá. Parecia ser um gesto íntimo de mais, mas não consegui evitar. Estava realmente comovida com a situação. Nunca havia visto ele demonstrar tanto esses sentimentos.

Não sei se foi minha frase, meu gesto ou nenhum dos dois, mas em seguida ele olhou para mim de novo com o sorriso aberto de volta aos lábios, tão largo e verdadeiro que dava para ver seu reflexo em forma de covinhas nos cantos dos olhos. Seguimos falando sobre assuntos em comum, como Henry e Batman, enquanto todos os outros ignoravam nossa animada conversa. Logo fomos avisados para apertamos os cintos porque o pouso estava próximo.

Enquanto voltávamos à quietude normal do avião, todos abatidos pela tensão do pouso iminente, eu chegava à conclusão de que essa viagem não seria ruim. Trabalhar em um lugar diferente e sob a supervisão de Reid seria uma experiência bacana e poderia ter muito a me acrescentar.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora