Mais uma vez a cena se repetiu: Spence e eu no carro. Não era o carro dele, mas era ele quem estava dirigindo e me levando pra casa. Eu havia feito questão que ele viesse sozinho, não queria que mais ninguém estivesse junto. Sabia que ia desmoronar, sabia que isso ia acontecer a qualquer momento, mas não queria deixar ninguém preocupado comigo de novo. Queria deixar as pessoas (principalmente Will) tranquilas, apesar de ter certeza de que JJ sabia exatamente o que estava por vir. É claro que todos já haviam passado por situações parecidas, mas só no olhar dela eu encontrava o que tento procurava: o sentimento de ser entendida.
Voltei a realidade do carro silencioso. A falta de palavras não chegava a ser desconfortável, mas insistia em permanecer entre nós naquele momento. Meu vestido ainda estava coberto de manchas de um tom vermelho-amarronzado causadas pelo sangue de Caleb. Eu queria tirar aquilo dali, colocá-lo no lixo e nunca mais vê-lo na vida. Suspirei ao pensar o quanto eu gostava daquele vestido antes, lembrando da noite anterior quando encontrei Spence na rua de Penelope.
Fitei meu braço, mais ou menos na altura de onde estavam as manchas roxas agora cobertas pelo casaco de Spence. Quando a adrenalina começou a baixar, o frio da noite começou a me causar calafrios e Spence colocou sob meus ombros seu casaco, que estava dentro do mesmo carro preto em que estávamos agora. Levei as mangas até o nariz para sentir seu cheiro impregnado ali: com certeza ele estava usando aquele casaco antes de colocar o colete do FBI, ou seja, há poucas horas.
- Gostou do casaco? - ele disse ao perceber meu gesto, acabando com o silêncio.
- Sim. Adoro como ele cheira. - respondi ainda com as mangas no rosto.
- Que cheiro? - Spence franziu a testa, confuso.
- Seu cheiro, bobinho. - sorri para ele.
- Ah... e como é o meu cheiro?
Eu, como uma boa legista, sabia descrever os cheiros de várias coisas. Sangue velho lembra metal enferrujado, cianeto lembra amêndoas amargas... mas o cheiro dele era específico, único. Não conseguia pensar em uma descrição.
- Eu não sei como descrever. - disse, depois de pensar um pouco. - É um dos melhores cheiros que já senti.
E isso era verdade. Talvez não pelo cheiro em si, mas pelas coisas que ele me trazia. Talvez por saber que, com o cheiro presente, Spence também estava presente de alguma forma.
- Você pode ficar com ele, se quiser. Ficou melhor em você. - ele sorriu, sem jeito pelo que eu havia dito. Suas bochechas ruborizaram um pouco.
Continuei sorrindo e não respondi. Eu já tinha "roubado" dele a camiseta do FBI, daqui a pouco teria todo o guarda-roupas dele no meu.
O carro parou e eu prestei atenção no lado de fora pela primeira vez: havíamos chegado na frente do meu prédio. Spence continuava olhando para frente, como se estivesse se preparando para fazer alguma coisa mais importante do que descer do carro.
Levei a mão até a lateral de seus cabelos, alisando uma mecha desgrenhada que estava por ali. À medida que os raios de sol se aproximavam, as olheiras nos olhos dele aumentavam. Todos haviam ficado várias horas sem dormir, mas Spence era o que parecia estar mais cansado.
- O carro... você precisa levá-lo? - questionei.
A ideia de ter que ficar completamente sozinha naquele momento me atingiu em cheio e provou um desespero inesperado dentro de mim.
- Eu posso... - Spence começou, mas parou ao constatar minha expressão.
- Não me deixe sozinha. Não agora. Por favor.
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Um amor inesperado (Criminal Minds)
FanfictionMaggie tem uma vida boa. É jovem, formada em medicina e possui um cobiçado emprego no Federal Bureau of Investigation (FBI), onde atua como legista. Seu sonho é trabalhar com a Behavioral Analysis Unit (BAU) e ajudar o time a traçar perfis de serial...