[7] Eudora

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A pequena cidade de Eudora parecia deserta, eram raras as pessoas que se encontravam nas ruas. Parece que a notícia dos assassinatos havia se espalhado rápido. Seguindo as instruções dadas ainda no jatinho, Rossi e Callaghan foram para o local onde os corpos haviam sido "desovados" enquanto JJ e Morgan foram conversar com os familiares das vítimas. Eu, Reid e Hotch fomos para a delegacia de polícia a qual, por uma feliz coincidência, era ao lado do necrotério onde eu trabalharia - por isso JJ disse que eu ficaria sempre por perto do Q.G.

- Bom dia. Eu sou o agente especial supervisor Hotchner e esses são Dr. Spencer Reid e Dra. Maggie LaMontagne. - disse ao chegarmos na delegacia, nos apresentando para o detetive encarregado do caso. Hotch e ele apertaram as mãos enquanto Reid acenou timidamente. Lembrei do fato de Reid não gostar de contato físico com estranhos e, para lhe dar apoio, apenas assenti com a cabeça para o homem.

O detetive, que logo se apresentou como McGonagle, era um homem baixo e calvo com cerca de 50 anos. A delegacia era apertada e desorganizada, com muitos policiais e muitos telefones tocando. Ele olhou para mim e Reid expressando uma indagação.

- Prazer em conhecê-los. Qual dos dois doutores vai cuidar dos "picolés" no necrotério?

- Os dois cuidarão. Trabalharão em equipe para serem mais eficientes. - Hotch respondeu antes de disséssemos alguma coisa.

- Tudo bem, então me sigam, por favor.

O homem baixinho começou a caminhar por entre as mesas da delegacia e nos levou até uma porta localizada mais ao fundo. Pegou uma chave no bolso do paletó que vestia, colocou na fechadura e abriu a porta. Ao entrarmos vimos paredes de azulejos, enormes gavetas de metal, uma mesa com algumas pastas empilhadas e mais duas portas, uma na frente e outra nos fundos.

- A porta da frente leva para a rua e a dos fundos, para um banheiro. Deixarei cópias de todas as chaves com vocês. Infelizmente, não terão um auxiliar, pois ele pediu demissão junto com o antigo médico. As vítimas estão nas gavetas 5 e 6 e as informações que temos até agora estão nas pastas em cima da mesa. Os equipamentos estão no armário atrás da porta que leva para a delegacia. Bom trabalho, doutores. - ele largou as chaves na mesa e fechou a porta fazendo uma mensura teatral. Essa ação me deixou com vontade de rir do homem.

- Bom, parece que seremos só nós dois mesmo. Vou ver o que temos aqui. - me virei para Reid e depois fui em direção aos equipamentos. Ele me olhava com curiosidade.

Eu analisava o que usaria em um primeiro momento: roupa, óculos de proteção, luvas, etc, quando meu celular começou a tocar no bolso. Ainda observando o armário, peguei-o na mão e nem olhei para a tela antes de atender.

- Alô?!

- Oi, Maggie! - a voz e as palavras rápidas eram inconfundíveis: Penelope.

- Oi, Pen! Tudo bem?

- Oi. Sim. Tudo. E com você? Na verdade, é por isso que estou ligando. Quero saber se está tudo bem com você. E pedir para você se cuidar por aí. Você sabe, com tantas pessoas armadas por perto... - ela disparou todas as palavras de uma vez só, sem me dar chance de falar.

- Sim, estou bem e estou me cuidando. E a única pessoa armada que ficará por perto é Reid. Trabalharemos juntos no necrotério.

- Ah, que ótimo. Fico feliz em saber que alguém de confiança estará tomando conta de você. Bom, tenho que ir. Alguém pode precisar de mim. Tchau, se cuide. Beijos. - ela desligou sem me deixar responder. Apenas Penelope sendo ela mesma.

Durante o telefonema, Reid havia me visto fazer cara de confusa e agora balançava a cabeça para os lados enquanto ria da minha conversa.

- Penelope sendo Penelope... - ele comentou.

- Exatamente. - eu disse, guardando novamente o celular e voltando aos equipamentos. O dia hoje seria bastante longo.

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Os equipamentos eram razoáveis e, apesar da proximidade com a barulhenta delegacia, o ambiente era tranquilo e quieto. Li as informações nas fichas e dei início à minha parte.

A causa da morte logo ficou clara: uma estaca foi atravessava no coração da vítima e, devido aos sinais visíveis de que uma hemorragia havia ocorrido, foi um ato feito intra vitam. Não existiam mais sinais de ferimentos fatais, apenas uma enorme bolsa linfática no couro cabeludo (um "galo"), demonstrando provavelmente a forma como o assassino havia a dominado no momento do sequestro, sem dar chance de defesa.

Quando eu estava quase dando por encerrado o trabalho na primeira vítima, Reid - que até então estava apoiado na mesa e apenas observando - se pronunciou:

- O nariz... tem algo estranho. Está fraturado? - enquanto eu checava, pude perceber que ele se aproximava com os olhos semicerrados e atentos.

Logo vi que não havia fratura alguma, mas também reparei que havia algo errado naquela região do rosto. Peguei uma pinça comprida e comecei a fuçar na parte interna das narinas, surpreendendo-me ao pinçar um objeto duro ali. Puxei-o com cuidado para fora do corpo e, ao finalmente visualizá-lo, fiquei algum tempo incrédula.

- Não acredito que quase deixei isso passar. Obrigada por... - eu nem completei a frase. Ainda fitava o objeto, agora distinguindo que era de metal, provavelmente alguma liga com prata pela coloração, e em formato de crucifixo.

Reid pegou um saquinho de evidências para que eu colocasse a pequena cruz. Examinei rapidamente a parte interna das narinas e constatei que os ferimentos causados pelo metal haviam sido feitos post mortem. Um alívio até para mim, uma vez que aquilo deveria doer bastante. Reid estava pensativo ao meu lado.

- Vamos para a próxima vítima. Caso esse padrão venha a se repetir, podemos divulgar o perfil do assassino. - ele disse, segurando o saquinho com o crucifixo na altura dos olhos.

- Estaca no coração, crucifixo de prata... - eu pensei alto, já fechando a "gaveta" do primeiro corpo. - É sério isso?

- Sim. Creio que ele pense estar caçando vampiros.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora