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Eu não pensei. Juro que não pensei. Meus impulsos me guiaram e meu pavor se transformou numa coragem absurdamente estúpida. Minhas mãos tremiam, mas meus dedos estavam firmes na arma, na arma dele, a arma que peguei de Caleb.

Quando eu vi um carro preto e grande vindo em direção à casa seguido do barulho alto da porta sendo arrombada, alguma parte de mim soube que eram eles. Procurei deixar toda minha tensão de lado por alguns minutos e focar nas vozes do andar de baixo:

- Esta casa é alta, deve ter uma entrada para o sótão em algum lugar. - parecia ser a voz de Derek, mas eu não tinha certeza.

Minha única certeza naquele instante é que eles não achariam nada suspeito na casa, muito menos aquela entrada secreta para o sótão e mesmo se conseguissem achar um jeito de entrar ali, ocorreria troca de tiros e alguém poderia sair ferido. Eu não poderia deixar isso acontecer. Eu precisava agir, mas antes precisava de uma confirmação.

Ouvi que alguém respondeu, mas não entendi o que disse nem quem era. Os sons que vinham de fora da cozinha não eram tão claros. Fechei os olhos como tentativa falha de melhorar a audição.

- Baby girl, você tem certeza que essa é a localização da casa?

"Baby girl". Era isso que eu precisava ouvir. Absolutamente, Derek Morgan estava no andar de baixo me procurando. Eu precisava agir.

Olhei para Caleb: ele permanecia imóvel desde que entrou ali, assim como Stacy e eu. Ele estava de perfil para nós, com a cabeça e a arma voltadas para a porta do sótão. No bolso de trás da sua calça jeans havia seringas, como as que usávamos nos hospitais com medicamentos, provavelmente cheias de Metilfenidato ou algo pior.

Minha respiração ficou pesada e entrecortada. Era muito arriscado agir, mas precisava ser feito. Olhei para Stacy ainda escondida atrás de mim e assenti para ela, avisando que era a hora. A garota continuou me encarando com seus olhos grandes e apavorados, sem entender o que eu faria. Meu plano era simples e estúpido: me aproveitar da confiança que Caleb havia depositado em mim, apostar minha vida no fato duvidoso de que ele realmente tinha algum apreço por mim e não tentaria me machucar num primeiro momento.

Com passos lentos e inaudíveis, me afastei de Stacy sinalizando para ela não se mexer nem emitir sons. Quando estava a cerca de um metro do homem, aproximei minhas mãos das seringas e as puxei todas juntas, atirando-as em um canto do sótão.

Quando Caleb se virou para mim para saber que diabos eu estava fazendo, ele segurou a arma com uma só mão. Seus dedos estavam no cabo e não mais no gatilho. Foi então que deixei meus instintos mais primitivos assumissem a situação: agarrei o pulso da mão que segurava a arma e dei um chute em seu peito, um golpe que tinha aprendido numa das aulas de defesa pessoal que havia feito quando era mais nova (meu pai, assim como todo bom policial, temia que eu fosse atacava na rua por algum maluco e me forçou fazer quase um ano dessas aulas na adolescência). Essa era uma das coisas que Caleb não tinha como saber sobre mim.

O homem não teve reação: caiu para trás, deitado no chão, o que fez um barulho estrondoso. Sua arma deslizou de seus dedos e veio até minhas mãos sem disparar. Imediatamente a agarrei bem e a apontei para ele.

- Estamos aqui em cima! Ele está aqui! Consegue me ouvir? - gritei alto na esperança de que alguém ouvisse.

- Maggie? Está tudo bem? Ele está inconsciente? - ouvi Derek em resposta.

- Está consciente, mas eu estou com a arma dele. - minha voz estava quase tão trêmula quanto minhas mãos - Na cozinha, o terceiro azulejo a esquerda do disjuntor é falso. Mova-o e aperte o botão que a porta do sótão vai se abrir! - eu tinha prestado bastante atenção em Caleb, sabia que seria útil.

- Qual é, Maggiezinha! Você não sabe o que fazer com essa arma, dê ela pra cá. Não esqueça que eu sei tudo sobre você. - Caleb usou um tom doce para tentar me convencer, mas eu podia ver em seus olhos toda sua fúria. Ele agora me odiava.

- Não tente essa comigo, não estou nem perto de ter Síndrome de Estocolmo. Quanto a atirar em você, sou filha e irmã de policiais. Posso lhe garantir que eles me treinaram muito bem e que eu sei exatamente o que fazer com essa arma. Você não sabe nada sobre mim! - eu quase cuspi a última frase.

A porta do sótão estava começando a se abrir quando Caleb disse:

- Achei que você não fosse como as outras, achei que você não fosse me trair. Mas você conseguiu ser ainda pior que ela, ainda pior!

De repente, o homem se levantou do chão num salto e partiu para cima de mim com uma seringa que eu não tinha visto antes na mão. Foi aí que percebi que ele estava certo: eu não conseguiria atirar nele, não teria forças para isso. Em toda minha vida, eu só aprendi a salvar vidas. Ninguém me ensinou a tirar uma.

Eu já estava preparada para sentir a agulha cravando fundo e rasgando meu pescoço quando um barulho muito alto tomou conta do sótão. Caleb caiu por cima de mim ao mesmo tempo em que senti alguma coisa atravessar minha barriga, passando pela pele e indo além. Caí de costas no carpete, o peso de Caleb me comprimindo contra o chão. Depois disso havia sangue, muito sangue. A dor em minha barriga latejava. A arma de Caleb voou para longe de minhas mãos.

Tudo ficou confuso. As luzes brilhavam demais, os sons pareciam não chegar até meus ouvidos. Olhei ao redor procurando por Stacy e a encontrei sentada em posição fetal longe dali, chorando compulsivamente. Tentei falar que ficaríamos bem, mas tudo que consegui foi balbuciar algo incompreensível. O mundo parecia estar em câmera lenta ao meu redor e eu não compreendia mais o que estava acontecendo.

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Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora