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Eu já estava sozinha há um bom tempo quando finalmente consegui me concentrar para olhar o sol pela fresta da porta e tentar estipular qual era o horário aproximado. Tive uma pequena vontade de rir ao lembrar das minhas aulas de geografia no colégio. Ah, se eu tivesse prestado mais atenção...

Depois de alguns minutos confusa entre latitudes, longitudes, posição solar e sombras, cheguei à conclusão de que seria entre duas e quatro da tarde. Fechei os olhos e tentei lembrar do que havia acontecido antes desse pesadelo começar: a ligação de Anna, por volta das onze da noite. Continuei com os olhos fechados pensando nas pessoas que estariam desesperadas me procurando depois de tanto tempo. Deixei meus pensamentos voarem por alguns minutos: será que Will avisou a mamãe? Ela estaria histérica. E Spence? Queria poder falar para ele não se culpar pelo meu sumiço. Queria poder falar a todos eles que eu estava bem apesar de tudo, talvez um pouco fraca, mas que passaríamos por isso e tudo daria certo. Ao menos era nisso que eu queria acreditar.

Abri os olhos quando ouvi passos se aproximando da porta. Caleb estava chegando.

- Maggiezinha, vamos para um lugar melhor onde você possa ficar mais perto de mim. - ele disse, sorrindo.

O homem tirou uma faca do bolso de trás da calça e, mesmo com a minha nítida sensação de que seria apunhalada, ele a usou apenas para cortar as amarras.

- Para... para onde estamos indo? - eu tentava manter o teatro, mas minha voz não soava como deveria. Eu estava apavorada.

- Antes de qualquer outra coisa, não adianta tentar fugir. Não há ninguém em muitas milhas ao redor e eu conheço essas terras como a palma da minha mão. - as palavras eram ameaçadoras, mas seu tom de voz não - Nós estamos indo para casa, Maggiezinha. É lá que vamos morar de hoje em diante.

Casa? Caleb não me deu tempo de pensar no que falar. Ele cerrou suas mãos ao redor dos meus punhos finalmente desamarrados e me puxou para levantar da cadeira. A náusea que seu toque me trazia se misturou com a fraqueza que senti após horas sem me alimentar ou levantar e eu cambaleei pra frente, esbarrando nele. Assim que consegui retomar o equilíbrio o empurrei com as palmas das mãos e dei um passo para trás. Ele ainda segurava meus pulsos.

- Você está bem? - ele perguntou e eu quase acreditei ver preocupação em seus olhos, mas seus lábios traziam um sorriso torto de quem tinha gostado da situação.

Assenti e nada disse enquanto ele me guiava para fora do anexo com uma das mãos segurando firme meu braço, talvez firme demais. Tudo ao redor era como eu imaginava: verde. Avistei ao longe uma casa alta de fazenda.

- É para lá que nós vamos? - questionei.

- Sim, gostou? - ele sorria de novo.

- Eu estou fraca, não sei se consigo caminhar tudo isso. - ignorei sua pergunta.

- Não tem problema, qualquer coisa eu levo você.

Aquelas palavras fizeram meu coração acelerar. Não, eu não queria que isso acontecesse. Eu ia caminhar até aquela casa nem que chegasse lá quase desmaiada. De forma alguma eu permitia que ele encostasse em mim mais do que aquela mão segurando com força excessiva meu braço. Respirei fundo e juntei toda a força que ainda tinha.

Meu braço já estava dolorido e eu quase perdi a paciência. Tinha vontade de gritar para ele me soltar e sair correndo dali para o mais longe possível, mas preferi não colocar em risco o meu teatro. Precisava lutar contra meus instintos e pensar com clareza.

Foram muitos minutos de caminhada até chegarmos a casa. Aquele até seria um lugar agradável não fosse meu novo cativeiro. Por fora, o amarelo claro contrastava com o verde das árvores e da grama perfeitamente aparada. Por dentro, os móveis antigos de madeira a transformavam na legítima casa de campo. Entrei pela porta e meus joelhos fraquejaram, quase cedendo e me levando ao chão, mas Caleb me segurou ainda mais forte. Soltei um gemido de dor e ele finalmente me soltou.

Um amor inesperado (Criminal Minds)Onde histórias criam vida. Descubra agora